Esporte

Ana Moser comandará Esporte com desafio de reconduzir pasta ao status de ministério

Ricardo Stuckert
Ana Moser discursa durante evento que contou com a presença de esportistas

Escolhida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ser ministra do Esporte, Ana Moser tem no currículo, além de uma medalha olímpica, um passado recente de dedicação a projetos de gestão e a políticas públicas na área.

Foi esse perfil, dizem pessoas do setor, sob reserva, que a cacifou para o cargo. Ela é vista com bons olhos por ONGs, atletas e também por confederações, e o anúncio deverá acontecer nesta semana, junto com o restante dos ministros do futuro governo.

Um dos principais desafios da futura ministra será reconduzir a pasta ao status de ministério —o Esporte foi rebaixado a secretaria especial por Jair Bolsonaro (PL).

Nas quadras, Ana Moser foi bronze nas Olimpíadas de Atlanta (1996) —a primeira medalha olímpica do vôlei feminino brasileiro. Aposentou-se três anos depois e passou a se dedicar a projetos sociais, em especial o Instituto Esporte e Educação, fundado por ela, e mais recentemente o Atletas Pelo Brasil, do qual é diretora.

Ela integrou o grupo de trabalho do esporte na equipe de transição do governo Lula. Apesar de anos de trabalho na gestão esportiva e no debate sobre políticas públicas, Moser pouco atuou dentro do Estado.

Foi nomeada diretora do Centro Olímpico do Parque do Ibirapuera, dentro da estrutura da Secretaria de Esportes de São Paulo, e integrou o Conselho Nacional do Esporte, do Ministério do Esporte, ambos cargos não tão centrais dentro das respectivas pastas.

Por outro lado, à frente da ONG Atletas Pelo Brasil, nos últimos anos ela foi uma das articuladoras da sociedade civil em prol da Lei Geral do Esporte e do Plano Nacional do Desporto.

Ambos, como a própria destacou em entrevista à Folha de S.Paulo no final de 2021, são pilares para o redesenho da política pública esportiva, junto com o Sistema Nacional do Esporte.

"O esporte brasileiro tem muito pouco em termos de estrutura pública. Ele resiste, se vira e até se amplia por conta da organização da sociedade civil. O que é péssimo, porque só o poder público é capaz de criar estruturas em escala nacional", afirmou ela na ocasião.

Como integrante do Conselho Nacional do Esporte, ela ajudou a desenhar o projeto de política pública para o esporte baseado nesses três pilares defendidos por ela.

Moser será a primeira ministra do Esporte de um governo petista que não é ligada a um partido político. Desde o primeiro governo Lula, a pasta foi ocupada por integrantes do próprio PT, do PC do B e também já ficou nas mãos do PRB (hoje, Republicanos).

O histórico de sua atuação também indica que Moser deverá tentar mudar o perfil do investimento estatal no esporte, dizem pessoas da área. Por outro lado, por ter sido atleta, não deve deixar de lado o alto desempenho.

Durante os governos petistas, o Brasil recebeu os dois principais eventos esportivos do mundo, a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016), e focou esforços, sobretudo, para o alto rendimento.

Reflexo disso, por exemplo, é que a maior fatia das verbas da Lei de Incentivo ao Esporte é captada para projetos de rendimento —atualmente, segundo o portal do governo federal, pouco mais de 50% do total captado pelo mecanismo até hoje é para essa rubrica.

Desde que se aposentou das quadras, em 1999, Moser vem se dedicando à democratização do esporte, à prática educacional, de inclusão e voltada para a saúde.

Em 2001, ela fundou o Instituto Esporte e Educação, organização que realiza projetos para atendimento sobretudo da população de baixa renda. Em 2005, em parceria com a Unicef e com o canal ESPN Brasil, criou a Caravana do Esporte, "movimento de ação e mobilização social pelo direito das crianças ao esporte, ao lazer, à educação e à cultura", como diz a página do projeto.

Segundo seu instituto, a iniciativa já atendeu, indiretamente, quase 3 milhões de crianças entre 7 e 14 anos, em cidades com baixo IDH (índice de desenvolvimento humano). Atualmente, são 4.500 crianças e jovens atendidos por ano, em três estados, e 4.000 professores.

Segundo Ricardo Leyser, ex-ministro do Esporte, Moser foi escolhida por sua "paixão pela utopia do esporte para todos".

"No primeiro momento, ela terá que fazer um movimento de reconstrução do ministério, e isso vai levar um tempo. E acho que, como em toda transição, ela terá o desafio de manter os pontos positivos enquanto reorienta a política da pasta. Num segundo momento, é hora de ver os resultados das políticas públicas", afirmou ele.

Além de Ana, também foram cotadas para a pasta a ex-jogadora de basquete Marta e a senadora Leila Barros (PDT-DF), também ex-atleta do vôlei.

"As três têm um perfil que combina a capacidade técnica, a legitimidade esportiva e a sensibilidade social", afirmou Flávio de Campos, pesquisador do esporte pela USP e também integrante do grupo de transição.

 

 

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