Sempre que virem a Torre Eiffel, pelo resto de suas vidas, Ana Patrícia e Duda terão na cabeça uma doce memória. Em frente ao monumento, provavelmente o cartão-postal mais famoso do planeta, elas conquistaram na noite francesa de sexta-feira (9) a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris.
Na decisão do torneio feminino do vôlei de praia, as brasileiras derrotaram na final as canadenses Melissa Humana-Paredes e Brandie Wilkerson por sets 2 sets a 1, parciais de 26/24, 12/21 e 15/10. Para festa da parcela do público que vestia amarelo no Stade Tour Eiffel, arena provisória montada para o megaevento esportivo, elas se impuseram nos momentos decisivos e triunfaram.
As amigas deixaram para trás, assim, um questionamento que se cansaram de ouvir ao fim dos Jogos de Tóquio, em 2021, a primeira edição olímpica sem medalha brasileira no vôlei de praia desde a inclusão da modalidade no programa, em 1996. Elas tinham companheiras diferentes na ocasião e em seguida decidiram juntar forças, mais uma vez, para construir outra história.
A parceria não era uma novidade para a mineira Ana Patrícia e a sergipana Duda, que atuaram juntas nas categorias menores e, há dez anos, adolescentes, conquistaram o ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanquim. Agora, ambas aos 26 anos, subiram juntas ao topo do pódio olímpico principal.
"Ela me abraçou desde sempre. A galera, às vezes, fala: 'Você é a melhor do mundo'. Eu digo: 'Não, é a Duda'. Eu só preciso ser a melhor parceira do mundo", afirmou repetidas vezes Ana Patrícia ao longo dos últimos dias. "A Patrícia é uma pessoa boa, uma pessoa que luta, que quer fazer o melhor. Só quem a conhece sabe quem ela é de verdade", respondeu Duda.
A amizade foi decisiva na retomada da dupla, que se uniu para apagar a frustração de Tóquio, e a decepção japonesa se mostrou um combustível para ótimos resultados. Em 2022, as brasileiras venceram o Mundial, em Roma. Em 2023, ficaram com o vice mundial, em Tlaxcala, e levaram o ouro nos Jogos Pan-Americanos, em Santiago.
Elas chegaram a Paris como líderes do ranking da FIVB (Federação Internacional de Voleibol) e com um inegável favoritismo. Souberam lidar bem com ele na maior parte do torneio e avançaram às semifinais sem perder nenhum set. Então, precisaram virar uma partida dura contra as australianas Mariafe Artacho del Solar e Taliqua Clancy.
Na decisão, tiveram pela frente Melissa Humana-Paredes e Brandie Wilkerson, sétimas colocadas do ranking, que derrubaram no caminho até o confronto derradeiro as norte-americanas Taryn Kloth e Kristen Nuss, parceria número dois do mundo. E as canadenses entraram em quadra dispostas a criar dificuldades à dupla número um.
Aproveitando-se de dificuldades brasileiras na recepção, elas começaram a partida de maneira mais firme e logo abriram 8 a 2, com ótimos ataques de Wilkerson, e mantiveram essa vantagem até o 13 a 7. Aí, Ana Patrícia e Duda acharam o tempo da bola e subiram, degrau a degrau, até o empate em 17 a 17.
A reação teve um momento em que Ana Patrícia usou a cabeça para amortecer uma bola, antes de receber o levantamento de Duda para explorar o bloqueio- e usar corretamente o desafio de vídeo. Houve enorme equilíbrio na reta final da parcial, fechada em 26 a 24 em uma jogada de habilidade, com manchete decisiva de Duda.
As canadenses, no entanto, responderam muito bem. Deslancharam no segundo set, em momento de desestabilidade das brasileiras, que passaram a ter muita dificuldade para virar bolas e foram superadas com facilidade, levando 21 a 12. Tudo ficou para o tie-break, em um clima de tensão no Stade Tour Eiffel.
Duda e Ana Patrícia, então, mostraram calma para retomar o controle da partida. Duda se mostrou firma na defesa e também no aproveitamento dos contra-ataques, o que forçou Humana-Paredes e Wilkerson a pedir tempo em desvantagem de 5 a 2. Elas não conseguiram, porém, impedir o triunfo das novas campeãs olímpicas.