Esporte

Após parceria rompida pelo Goiás, Aliança busca apoio para temporada do futebol feminino

Wesley Costa
Christiane Guimarães, uma das técnicas do Aliança, em treino em 2023

Maior campeão goiano no futebol feminino com 16 conquistas, o Aliança, de novo, busca apoio de investidores para encarar os desafios de uma temporada depois de ter a parceria com o Goiás rompida pelo clube esmeraldino. O rebaixamento à Série B no ano passado tirou a obrigatoriedade do time alviverde de ter um equipe de mulheres e, assim como ocorreu em 2021, a união entre Aliança e Goiás deixou de existir.

A diretoria do Aliança acredita que dois aspectos sofrem impactos com o rompimento da parceria: financeiro e estrutural. Neste primeiro momento, às vésperas do início da Série A3 do Campeonato Brasileiro, o financeiro é o que mais afeta. O Goiás destinava um valor mensal, que não foi divulgado, para o Aliança manter a equipe durante a temporada.

O valor era utilizado para o pagamento de salários das comissões técnicas (adulta e base), 23 jogadoras do time adulto e manutenção da Casa dos Atletas, que fica no bairro Gentil Meireles e é utilizada por jogadoras da equipe adulta que não possuem residência em Goiânia.

Sem a parceria, o Aliança não deve contratar atletas de fora do Estado e, se não encontrar investidores, não terá condição de pagar salários para as jogadoras e comissões técnicas.

A Série A3 começa na última semana de março. O elenco da equipe adulta inicia os treinos neste sábado (24). A base (sub-17 e sub-20) está em atividade desde o dia 13 de janeiro.

“As pessoas que nos ajudam nas comissões técnicas (Danyelle Oliveira, técnica da base, e Christiane Guimarães, técnica do time adulto) conhecem nosso sacrifício, são ex-atletas e não vão deixar de nos ajudar. O ruim é que perdemos atletas. Nessa demora do rompimento, perdemos duas jogadoras, uma para o Vila Nova, nosso rival. As poucas negociações que estavam engatilhadas, não vamos mais conseguir dar sequência”, comentou a gestora do Aliança, Patrícia Menezes.

Segundo ela, desde o início de janeiro o Aliança procurou o Goiás para saber sobre a sequência da parceria. O retorno oficial só ocorreu na última sexta-feira (16), por telefone.

“Quando o Harlei (ex-vice de futebol do Goiás) saiu do clube, nós perdemos a referência no Goiás. Não conhecemos a nova diretoria e recentemente o Agnello (Gonçalves, executivo de futebol) nos chamou para conversar. Disse que a gente se reuniria um dia, mas depois só me avisou por telefone que não iam ter interesse de renovar a parceria por causa da reestruturação que o clube passa visando ao acesso à Série A”, contou Patrícia Menezes.

A questão estrutural ainda não está definida após o rompimento da parceria, o que deixa o clima de incerteza. O Goiás cede o CT Coimbra Bueno, em Aparecida de Goiânia, para o Aliança treinar. O local também é utilizado pela equipe para manter um projeto social que atende 80 crianças e adolescentes, todas meninas.

“Com a equipe adulta, nós temos a preocupação com os campeonatos profissionais, mas o mais impactante é nosso projeto social. Temos meninas, são 80, que estão sendo educadas e aprendendo sobre o esporte. Não cobramos mensalidade, temos muitas meninas vulneráveis e focamos em educar. Por enquanto, o Goiás disse que podemos usar o CT, mas não falou até quando ou se vamos ter que sair, e isso pode acontecer a qualquer momento”, lamentou a gestora do Aliança.

Segundo ela, o executivo de futebol Agnello Gonçalves teria dito que o Aliança poderá utilizar o CT Coimbra Bueno no primeiro semestre deste ano. Após o dia 30 de junho, uma reunião seria feita para definir se a equipe feminina seguirá no local. “Por enquanto seguimos lá, mas não sei até quando”, completou Patrícia Menezes.

A gestora do projeto disse que nesta quarta (21) vai procurar vereadores em Goiânia para saber da possibilidade de investimento público.

“O projeto é nossa menina dos olhos. O poder público não faz esse trabalho, ninguém faz. Nós temos meninas que já tiramos de situação de drogas e de prostituição. Nós trabalhamos para educar, ensinar um esporte que está em crescimento, mas carece de investimento. Nosso trabalho é relevante e ninguém vê. A gente poderia fazer mais se tivesse apoio, um campo para treinar e investimento”, desabafou Patrícia Menezes.

O anúncio do fim da parceria entre Aliança e Goiás ocorreu por parte do Aliança na segunda-feira (19). Coincidentemente, é a data que celebra o “Dia do Futebol Feminino” em Goiânia (lei nº 10.732). O jornal procurou o Goiás, que informou que não vai se pronunciar sobre o assunto neste momento.

A parceria entre Aliança e Goiás teve início em 2020 e foi rompida pela primeira vez em 2021 após o rebaixamento do time esmeraldino para a Série B. Com o retorno à elite no ano seguinte, a união foi retomada. Desde 2019, clubes que jogam a Série A são obrigados a ter uma equipe feminina. A obrigatoriedade passará a valer para as demais Séries (B, C e D) em 2027, segundo a CBF.

O Aliança/Goiás foi bicampeão goiano em 2022 e 2023 nesta segunda fase da parceria. Neste ano, o Aliança disputará a Série A3 do Brasileiro e o Goiano da modalidade. Agora, sem a parceria, a equipe corre contra o tempo para participar do torneio nacional, em que já teve participação confirmada.

“É ruim quando uma parceria é rompida por causa de um rebaixamento, mas é pior sem eles. Como gestora, eu queria que os clubes fizessem parcerias por achar importante, para valorizar a mulher e o futebol feminino, que enxergassem como investimento. Será que não podemos ter em Goiânia um estádio lotado igual a Arena (Neo Química Arena) estava na final da Supercopa? Os clubes precisam entender que, para isso acontecer aqui, tem que investir antes”, concluiu Patrícia Menezes referindo-se ao jogo entre Corinthians e Cruzeiro.

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