Maior campeão goiano no futebol feminino com 16 conquistas, o Aliança, de novo, busca apoio de investidores para encarar os desafios de uma temporada depois de ter a parceria com o Goiás rompida pelo clube esmeraldino. O rebaixamento à Série B no ano passado tirou a obrigatoriedade do time alviverde de ter um equipe de mulheres e, assim como ocorreu em 2021, a união entre Aliança e Goiás deixou de existir.
A diretoria do Aliança acredita que dois aspectos sofrem impactos com o rompimento da parceria: financeiro e estrutural. Neste primeiro momento, às vésperas do início da Série A3 do Campeonato Brasileiro, o financeiro é o que mais afeta. O Goiás destinava um valor mensal, que não foi divulgado, para o Aliança manter a equipe durante a temporada.
O valor era utilizado para o pagamento de salários das comissões técnicas (adulta e base), 23 jogadoras do time adulto e manutenção da Casa dos Atletas, que fica no bairro Gentil Meireles e é utilizada por jogadoras da equipe adulta que não possuem residência em Goiânia.
Sem a parceria, o Aliança não deve contratar atletas de fora do Estado e, se não encontrar investidores, não terá condição de pagar salários para as jogadoras e comissões técnicas.
A Série A3 começa na última semana de março. O elenco da equipe adulta inicia os treinos neste sábado (24). A base (sub-17 e sub-20) está em atividade desde o dia 13 de janeiro.
“As pessoas que nos ajudam nas comissões técnicas (Danyelle Oliveira, técnica da base, e Christiane Guimarães, técnica do time adulto) conhecem nosso sacrifício, são ex-atletas e não vão deixar de nos ajudar. O ruim é que perdemos atletas. Nessa demora do rompimento, perdemos duas jogadoras, uma para o Vila Nova, nosso rival. As poucas negociações que estavam engatilhadas, não vamos mais conseguir dar sequência”, comentou a gestora do Aliança, Patrícia Menezes.
Segundo ela, desde o início de janeiro o Aliança procurou o Goiás para saber sobre a sequência da parceria. O retorno oficial só ocorreu na última sexta-feira (16), por telefone.
“Quando o Harlei (ex-vice de futebol do Goiás) saiu do clube, nós perdemos a referência no Goiás. Não conhecemos a nova diretoria e recentemente o Agnello (Gonçalves, executivo de futebol) nos chamou para conversar. Disse que a gente se reuniria um dia, mas depois só me avisou por telefone que não iam ter interesse de renovar a parceria por causa da reestruturação que o clube passa visando ao acesso à Série A”, contou Patrícia Menezes.
A questão estrutural ainda não está definida após o rompimento da parceria, o que deixa o clima de incerteza. O Goiás cede o CT Coimbra Bueno, em Aparecida de Goiânia, para o Aliança treinar. O local também é utilizado pela equipe para manter um projeto social que atende 80 crianças e adolescentes, todas meninas.
“Com a equipe adulta, nós temos a preocupação com os campeonatos profissionais, mas o mais impactante é nosso projeto social. Temos meninas, são 80, que estão sendo educadas e aprendendo sobre o esporte. Não cobramos mensalidade, temos muitas meninas vulneráveis e focamos em educar. Por enquanto, o Goiás disse que podemos usar o CT, mas não falou até quando ou se vamos ter que sair, e isso pode acontecer a qualquer momento”, lamentou a gestora do Aliança.
Segundo ela, o executivo de futebol Agnello Gonçalves teria dito que o Aliança poderá utilizar o CT Coimbra Bueno no primeiro semestre deste ano. Após o dia 30 de junho, uma reunião seria feita para definir se a equipe feminina seguirá no local. “Por enquanto seguimos lá, mas não sei até quando”, completou Patrícia Menezes.
A gestora do projeto disse que nesta quarta (21) vai procurar vereadores em Goiânia para saber da possibilidade de investimento público.
“O projeto é nossa menina dos olhos. O poder público não faz esse trabalho, ninguém faz. Nós temos meninas que já tiramos de situação de drogas e de prostituição. Nós trabalhamos para educar, ensinar um esporte que está em crescimento, mas carece de investimento. Nosso trabalho é relevante e ninguém vê. A gente poderia fazer mais se tivesse apoio, um campo para treinar e investimento”, desabafou Patrícia Menezes.
O anúncio do fim da parceria entre Aliança e Goiás ocorreu por parte do Aliança na segunda-feira (19). Coincidentemente, é a data que celebra o “Dia do Futebol Feminino” em Goiânia (lei nº 10.732). O jornal procurou o Goiás, que informou que não vai se pronunciar sobre o assunto neste momento.
A parceria entre Aliança e Goiás teve início em 2020 e foi rompida pela primeira vez em 2021 após o rebaixamento do time esmeraldino para a Série B. Com o retorno à elite no ano seguinte, a união foi retomada. Desde 2019, clubes que jogam a Série A são obrigados a ter uma equipe feminina. A obrigatoriedade passará a valer para as demais Séries (B, C e D) em 2027, segundo a CBF.
O Aliança/Goiás foi bicampeão goiano em 2022 e 2023 nesta segunda fase da parceria. Neste ano, o Aliança disputará a Série A3 do Brasileiro e o Goiano da modalidade. Agora, sem a parceria, a equipe corre contra o tempo para participar do torneio nacional, em que já teve participação confirmada.
“É ruim quando uma parceria é rompida por causa de um rebaixamento, mas é pior sem eles. Como gestora, eu queria que os clubes fizessem parcerias por achar importante, para valorizar a mulher e o futebol feminino, que enxergassem como investimento. Será que não podemos ter em Goiânia um estádio lotado igual a Arena (Neo Química Arena) estava na final da Supercopa? Os clubes precisam entender que, para isso acontecer aqui, tem que investir antes”, concluiu Patrícia Menezes referindo-se ao jogo entre Corinthians e Cruzeiro.