Há razões de sobra para que Atlético-GO e Vila Nova se entreguem, de corpo e alma e naquilo que estiver ao alcance, durante a tarde deste domingo (7), no Estádio Antônio Accioly, atrás do título do Campeonato Goiano 2024. Pela primeira vez na história do Goianão, os dois clubes disputam a final direta. Vale taça, significa prestígio e será estabelecida uma marca importante em qualquer lado que receber o troféu.
No caso do Dragão, vale o inédito tricampeonato. Para a comunidade vilanovense, será o encerramento do incômodo jejum de conquistas do Estadual que perdura há 19 anos, desde 2005. Há um espaço generoso, na sala de troféus das duas agremiações, à espera do taça do Goianão 2024. Na partida de volta da final, a vantagem é atleticana, pois vem de uma vitória, no reduto adversário, o OBA, por 2 a 0, no último fim de semana.
A vantagem é considerável, mas há exemplos que mostram que o Dragão não pode se deitar nela, à espera do apito final do árbitro, Wilton Pereira Sampaio. O Atlético-GO viveu situação muito embaraçosa ano passado, pois venceu o Goiás por 2 a 0, no Accioly, abriu 1 a 0 no Estádio da Serrinha, mas não soube usar a diferença, levando a virada de 3 a 1 e sofrendo para garantir o título nos pênaltis.
No meio da semana passada, o Vila Nova havia perdido de 2 a 0 da Aparecidense, fora. Em casa, o Tigre foi impecável no primeiro tempo e goleou o adversário por 3 a 0, garantindo vaga na final. Os argumentos, neste domingo (7), serão postos à prova. O Dragão terá sabedoria para usar a vantagem, a torcida e o melhor momento para ser tricampeão ou o Vila Nova mostrará, uma vez mais, que é capaz de buscar viradas improváveis? É esperar para ver.
O rubro-negro tem variáveis favoráveis para se consagrar tricampeão do Goianão. Pode ser derrotado por até um gol de diferença. Caso perca por diferença de dois gols, a definição do título será nos pênaltis. Para o time colorado, para evitar penalidades, será preciso golear a equipe do Bairro de Campinas por três ou mais gols de diferença. Anfitrião, o Atlético-GO terá o Vila Nova como convidado, mas não quer deixá-lo tomar conta da casa e da festa no Accioly.
Para o Atlético-GO, se tornar tricampeão é dar um salto de qualidade na história do clube, que fez 87 anos na terça-feira (2). O Dragão nunca foi tri – foi bi em 2010 e 2011, 2019 e 2020 e 2022 e 2023. Entre os quatro principais clubes da capital, só o Dragão nunca foi tri. O Goiânia ganhou três vezes seguidas em 1958, 59 e 60, o Vila Nova explodiu na sequência com o tri de 1961, 62 e 63 (os primeiros títulos do clube, fundado em 1943), enquanto o Goiás virou a década de 1980 para 1990 com três conquistas, em 1989, 90 e 91.
No Accioly, o rubro-negro foi uma vez campeão, em fevereiro de 2021 (válido pelo Goianão 2020), ao empatar (1 a 1) e bater nos pênaltis (5 a 3) o Goianésia. Mas o estádio estava vazio, por causa dos protocolos de saúde da pandemia. Em 1967, com festa encomendada no Bairro de Campinas, o Dragão foi surpreendido pelo Crac (1 a 0), naquela que é uma das derrotas, ou a principal, do clube dentro da sua casa. Como em 1967, o Accioly estará lotado – os ingressos se esgotaram na terça-feira (2), com menos de um dia de vendas.
O Vila Nova convive com a ansiedade pela conquista de um título que ganhou, pela última vez, no dia 17 de abril de 2005. Contados os anos, desde então, o clube vai completar 19 caso não reverta a situação neste domingo (7). Será o maior jejum do Goianão desde a fundação. De 1943 (fundação) até 1961, ano do primeiro título colorado, foram 18 anos. Depois, o clube passou nove anos distante da conquista do Estadual (1984 a 1993). Agora, entrará nas casas dos 19 anos se não for campeão. No atual jejum, foi, no máximo, vice em 2017 (o Goiás foi campeão) e 2021 (perdeu no OBA, nos pênaltis, do Grêmio Anápolis).
Desde 2005, último título do Vila Nova, o Atlético-GO ganhou oito vezes o Estadual (2007, 10, 11, 14, 19, 2020, 22, 23).
A rivalidade entre atleticanos e vilanovenses, nos últimos anos, se deu nas semifinais do Goianão: em 2019 e 2022. O Dragão se deu melhor nas duas. Os dois também disputaram clássicos de peso na Série C de 2007. No Goianão, as lembranças de ambos na disputa pelo título foram nas edições de 1970 (o Dragão foi campeão com empate de 0 a 0 diante do Vila) e em 1979 (outro 0 a 0, mas desta vez o time colorado chegou ao tricampeonato), mas nenhuma foi final direta.
Padecer dos hiatos sem títulos do Goianão é algo que une os dois clubes, pois o Dragão ficou de 21 de agosto de 1998 a 6 de maio de 2007 à espera da taça do Estadual. Por muito pouco, não chegou aos 19 anos. Além disso, passou também 15 anos, entre 1970 e 1985, com fome e sede de uma conquista local. Nesse intervalo, o Vila Nova ganhou em 1973, 1977, 78, 79, 80, 82 e 84, ou seja, foi sete vezes campeão do Estadual. As lacunas de títulos do Goianão nos dois clubes não significam que os dois não venceram outros torneios.
Ao contrário. O Dragão foi campeão do Torneio da Integração Nacional (1971) na primeira seca duradoura, da Série C (1990), da Copa Goiânia (1998) e da Divisão de Acesso do Goiano (2005). O Tigre festejou a Divisão de Acesso (2015) e a Série C (2015 e 2020), além de alguns acessos em nível nacional, como em 2007 e 2013, da Série C à Série B. Nesses períodos, as duas torcidas festejaram, mas não mataram a fome de conquista da elite do Estadual.
Os finalistas desta temporada são agremiações que assumem a popularidade na construção da capital. O Vila Nova é o time do povo, dos operários e dos migrantes que construíram Goiânia. O Atlético-GO se assume como o representante de Campinas, o município que virou bairro assim que Goiânia foi concebida. Neste domingo (7), um povo vai sorrir, enquanto o outro vai chorar, recolher as bandeiras e lamentar.