Esporte

Atletas paralisam jogo do PSG na Champions após 4º árbitro ser acusado de racismo

IAN LANGSDON / EFE
Demba Ba discute com o árbitro romeno Hategan no Parque dos Príncipes

Num ato histórico, jogadores de Paris Saint-Germain (FRA) e Istambul Basaksehir (TUR) abandonaram o campo durante o primeiro tempo da partida desta terça-feira (8), em Paris, válida pela última rodada da fase de grupos da Champions League. Eles acusaram o quarto árbitro, o romeno Sebastian Colţescu, de ter proferido uma ofensa racista contra um integrante da comissão técnica do time turco.

Diante da recusa dos atletas de voltarem ao gramado, a Uefa comunicou a suspensão do jogo, que será reiniciado nesta quarta (9), às 14h55 (de Brasília), com uma diferente equipe de arbitragem. A entidade europeia afirma já ter iniciado investigação sobre o caso. O integrante da arbitragem teria se referido ao ex-jogador camaronês Pierre Webó, assistente técnico do Istambul, como "aquele negro".

"Por que você diz negro?", reagiu o assistente, expulso pelo árbitro principal, o também romeno Ovidiu Haţegan, durante a discussão. "Você nunca diz 'aquele cara branco', diz apenas 'aquele cara', então por que você diz 'esse cara negro'?", protestou o atacante senegalês Demba Ba, que estava no banco de reservas e ficou irritado com a forma como Webó foi tratado.

O atleta, então, começou a organizar um movimento de retirada de sua equipe do campo. Ele também conversou com jogadores do PSG no momento. Integrantes do elenco do Istambul pediram respeito à arbitragem. Neymar e Mbappé pressionaram também e disseram que, com Colţescu à beira do campo, a partida não poderia continuar.

O confronto ficou paralisado a partir dos 14 minutos do primeiro tempo por cerca de 20 minutos antes de as equipes saírem do gramado. O árbitro principal tentou convencer os jogadores a reiniciarem o confronto, mas eles se recusaram. A confusão teve início após o brasileiro Rafael, lateral direito do time turco, receber cartão amarelo por uma entrada em Bakker. No banco, o técnico Okan Buruk também foi punido por reclamar do lance. A partir desse momento, Webo teria se irritado com a arbitragem.

Relato
Em áudio enviado para o Esporte Interativo, Rafael disse que o quarto árbitro se referriu ao assistente de seu time com as palavras "negro, sai daí." "O quarto árbitro chegou para o cara que trabalha no clube, o assistente do clube, porque ele estava gritando muito. O cara estava lá em cima [nas arquibancadas, em razão do protocolo contra a Covid-19], não sei porque o expulsou [...], não entendi. Mas é porque ele é racista (..) Ele disse: 'negro, sai daí, tu vai embora'. E o expulsou. O treinador [do Istanbul] escutou, eu não escutei, só vi a reação. Só que eu vi que ele [o quarto árbitro] ficou branco quando todo mundo começou a ir para cima. Com certeza ele falou. Aí a gente saiu de campo", disse o jogador.

O jogo desta terça era o último do quarto árbitro em sua carreira internacional. A federação romena já havia anunciado sua saída dos quadros da Fifa e da Uefa. ​
Minutos após a ofensa, o clube turco reproduziu em sua conta no Twitter imagem da campanha da própria Uefa contra o racismo, republicada pelo perfil do PSG.
Em 2019, a Uefa estabeleceu um protocolo para combater racismo durante as partidas, mas essas medidas são direcionadas apenas para casos de ofensas vindas da torcida.

O primeiro passo é parar o jogo e avisar, pelo serviço de som do estádio, o motivo para a interrupção. Em caso de persistência, o árbitro deve paralisar mais uma vez o confronto, mandar os jogadores para o vestiário e voltar a avisar o público. Se nem assim as ofensas racistas forem interrompidas, a partida deve ser abandonada. O que se vê, na prática, é que o protocolo quase nunca é cumprido, e muitas vezes apenas as vítimas acabam punidas.

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