A Fórmula 1 voltou a atrair uma montadora depois de quase 10 anos: a Audi anunciou que será fornecedora de motores na categoria a partir de 2026. Assim, eles saem na frente da Porsche, outra marca do grupo Volkswagen que busca a entrada na categoria, por meio de uma parceria com a Red Bull. Os alemães não confirmaram qual será sua porta de entrada na categoria, afirmando que vão anunciar com qual equipe terão parceria "ao final do ano", mas o negócio está adiantado com a Sauber já há algumas semanas.
"Fico muito contente em receber a Audi na F1, uma marca automotiva icônica, pioneira e de inovação tecnológica. Este é um momento importante para o nosso esporte, que destaca a força que temos como uma plataforma global que segue crescendo. Também é um grande reconhecimento de que nossa mudança para motores híbridos com combustível sustentável em 2026 é uma solução futura para o setor automotivo", destacou o CEO da F1, Stefano Domenicali.
A montadora viu uma "oportunidade perfeita" para a entrada na categoria com a adoção de um teto orçamentário para as equipes e as novas regras das unidades de potência, que estreiam justamente em 2026 e que foram anunciadas em agosto após anos de negociação. Os alemães também destacaram o crescimento da F1 nos Estados Unidos e na China, além da renovação de seu público.
Durante todo esse processo, que começou quando as duas marcas da Volkswagen começaram a sentar-se à mesa para discutir as regras de unidade de potência de 2026, a impressão geral era de que a Porsche tinha um caminho mais claro para a entrada, mas foi a Audi que saiu na frente com o anúncio.
De fato, a Audi encontrou algumas portas fechadas. Eles primeiro negociaram com a McLaren, chegaram a sondar a própria Red Bull, depois conversaram com Williams e Aston Martin. Até chegarem à Sauber.
Mesmo que os suíços não sejam a primeira opção, não se trataria de um negócio ruim para a Audi, que compraria as ações do time lentamente até chegar a 75%, com os atuais donos de um grupo de investimentos da Suécia mantendo os demais 25%.
A equipe de Hinwil é conhecida por ter uma fábrica com estrutura de alto padrão, que o CEO da Audi, Markus Duesmann, que estava no lançamento ao lado dos chefes da F1 e da FIA, conhece bem. Afinal, ele foi o chefe de desenvolvimento da equipe entre 2007 e 2009, quando a Sauber tinha uma parceria com outra gigante alemã, a BMW.
Do lado dos investidores suecos, a proposta fez mais sentido do que as conversas preliminares que eles tiveram com a Andretti no ano passado porque não se tratava de uma compra total e a continuidade das operações em Hinwil e a segurança dos funcionários nunca foi questionada.
A unidade de potência da Audi está sendo desenvolvida na fábrica da Audi Sport, localizada na cidade alemã de Neuburg an der Donau, perto de Munique, no sul do país. Ou seja, a fábrica não fica distante da estrutura da Sauber em Hinwil. A fábrica de Neuburg tem os bancos de prova necessários para o banco de provas de testes de motores de F1 e está trabalhando desde março no projeto do novo motor.
O chefe da operação será Adam Baker, que tem uma passagem recente (2018 a 2021) no departamento de segurança da FIA e fez carreira na BMW, com grande envolvimento da divisão esportiva da marca.
Com isso, a Fórmula 1 atrai uma montadora pela primeira vez desde que a Honda anunciou que voltaria à categoria equipando a McLaren, o que começou a fazer em 2015. Como naquela época, a Audi está sendo motivada por uma mudança no regulamento dos motores, embora ela seja menos radical que aquela que entrou em vigor em 2014, quando os motores V8 aspirados foram substituídos pelos turbo V6 híbridos, usados até hoje.
Em 2026, estas unidades de potência serão substituídas por motores que seguem sendo V6 turbo híbridos, porém com muito mais potência vinda da energia elétrica e combustível totalmente renovável no motor a combustão. A nova UP também será simplificada, pois perderá um de seus motores de recuperação de energia (o complicado MGU-H, que recupera energia calorífica da turbina).
A maneira como a Audi está entrando na F1 se destaca por algumas lições aprendidas com a Honda, que chegou a ser campeã mundial com Max Verstappen ano passado, mas sofreu muito para chegar até lá, principalmente em seus primeiros anos com a McLaren. Confirmando-se a compra de grande parte da Sauber, eles teriam um controle muito maior da integração entre motor e equipe, e também se comprometeriam já desde o momento que as regras, que foram publicadas há poucas semanas, foram fechadas.
Resta agora saber se a parceria de outro braço da Volkswagen, a Porsche, sairá do papel. Os alemães no momento buscam a aprovação do que seria uma joint-venture com a Red Bull em agências antitruste ao redor do mundo, no que o chefe da Red Bull, Christian Horner, classificou como "uma das barreiras" para que o negócio seja efetivamente fechado.