Na última quarta-feira (6), as equipes femininas do Corinthians e Flamengo entraram em campo para se enfrentarem pela primeira vez na história do futebol feminino. Com chances de classificação para as semifinais, os times fizeram um bom jogo. Havia quase todos os ingredientes para um verdadeiro clássico, menos um. Mesmo com os ingressos gratuitos, a torcida mais uma vez não compareceu em massa.
Infelizmente, o crescimento do futebol feminino no País não tem sido suficiente para empolgar os torcedores. De acordo com dados de boletins financeiros da CBF e informações de clubes, apenas dois dos 52 jogos até o momento (40 na primeira fase e 12 na segunda) conseguiram pagar os custos operacionais (como arbitragem, ambulância, policiamento, taxas, entre outros) com a renda de bilheteria: as partidas do Iranduba contra o Santos e Corinthians.
O prejuízo por parte das equipes não é maior porque a Caixa Econômica Federal, por meio da Sports Promotion (empresa organizadora do campeonato), paga R$ 7 mil para os mandantes dos jogos cobrirem custos operacionais dos jogos. De acordo com a Sports Promotion, a manutenção do campeonato depende do banco: “A Caixa é o patrocinador máster, por tanto dependemos dele”, aponta a empresa.
Já sabendo que o público dos jogos do feminino é pequeno, a grande maioria dos times abrem os portões e não cobram ingressos para as partidas. De acordo com o levantamento feito pelo Portal EBC, 13 dos 20 times do campeonato não cobram ingressos para os jogos e seis cobram R$ 1 e R$ 10.
Um dos times que abriram os portões neste ano foi o Tiradentes. De acordo com o presidente do time, Major Canuto, a opção se deu por conta da falta de organização da CBF. “A regra que privilegia equipes de camisa a entrar no campeonato nos prejudicou. Soubemos que participaríamos do Brasileirão apenas 12 dias antes da competição. Aí não deu tempo nem de cobrar os ingressos para estreia. Como perdemos para o Iranduba no 1º jogo, nem cobramos a outra partida”, afirma.
Canuto reitera que a falta de dinheiro da bilheteria fez falta ao time. “No ano passado, quando chegamos às semifinais do campeonato, conseguimos 927 pagantes no jogo contra o São José. Isso nos auxiliou até a dar um prêmio para as jogadoras. Se tivéssemos ido à final, o time para o campeonato deste ano já estaria pago”, aponta.
Como trazer público?
O caso do Tiradentes aponta para algo básico que deveria ser feito para angariar público para os jogos do campeonato: organização. Em 2015, o time conseguiu se organizar e ficar forte para a competição. Os bons resultados chamaram atenção da mídia local, que divulgou a equipe para o público de Teresina, que foram aos jogos. Em 2016, o time não teve tempo de ser montado e foi mal no campeonato. Logo, não teve como sequer cobrar por ingressos.
Nesta edição, o Iranduba tem sido o exemplo de um caminho que pode ser seguido. No início deste ano, o time investiu e contratou 15 jogadoras (a maioria do Kindermann, time que acabou no final do ano passado). A mídia local abraço o time e o público (sem muitos jogos de elite no Amazonas) foi em maior número para os estádios.
De acordo com a jornalista Lu Castro, do blog Futebol Para Meninas, o aumento de público perpassa por uma mudança sistêmica na organização do futebol feminino. “Clubes poderiam investir na comunicação com uma assessoria de imprensa, por exemplo. Seria mais fácil de pautar a mídia. A organizadora também deveria criar mecanismos para chamar os torcedores ao estádio. No momento, a atuação é nula”, afirma.
Ela também aponta que a empresa organizadora do campeonato poderia criar formas de chamar o público aos estádios como promoções. Lu relembra que o São José conseguiu, em 2011, levar o público ao estádio após a cidade “abraçar” o time. “Eu lembro que em 2011, o São José conseguiu colocar 11 mil pessoas no estádio na final da Libertadores. Na época foi feita uma boa divulgação do jogo”, relembra.