Esporte

Claudinei Oliveira promete time do Vila Nova organizado e que vai brigar “por todas as bolas”

Fábio Lima / O Popular
Claudinei Oliveira em entrevista ao POPULAR

Escolhido pela diretoria do Vila Nova para liderar o clube nesta temporada, o técnico Claudinei Oliveira, de 53 anos, está imerso no objetivo de entregar uma equipe organizada e competitiva para dar orgulho ao torcedor colorado e, ao mesmo tempo, resultados satisfatórios. Natural de Santos (SP), o treinador do Tigre está animado com o ambiente encontrado no OBA, onde, segundo ele, “todos são muito Vila Nova”. Claudinei Oliveira quer aproveitar esse clima para tentar repetir o sucesso que teve em outras equipes em que passou na carreira de técnico, que completa dez anos em 2023. Com um perfil sério e obcecado no trabalho, o treinador colorado projeta uma temporada de desafios e ressalta a importância de conseguir dar passos firmes, desde o primeiro deles, para corresponder aos anseios da torcida vilanovense, que cobra por voos mais altos do clube do coração na temporada que está prestes a começar.

Veja os principais trechos:

Você completa 10 anos como treinador profissional em 2023. Que reflexão faz desse período?

Chego bem melhor, acredito. Nós vamos evoluindo. Se hoje tivesse a oportunidade de quando assumi o Santos no Brasileiro (2013), talvez fizesse um trabalho bem melhor. E fizemos um bom trabalho naquela época, quando chegamos em 7º lugar. Vamos aprendendo, estudando. Aprendi muita coisa, novos conceitos, vivi experiências de vitórias e derrotas, me capacitei e troquei ideias com outros treinadores. Chego bem mais experiente, já com algumas conquistas e isso valida a carreira. Fiz história em alguns clubes e chego ao Vila Nova com uma expectativa muito boa. Se olhar para trás, hoje sou um cara muito mais preparado, experiente e em condições de realizar trabalhos cada vez melhores.

Nessa década como treinador, você ficou marcado por retornar aos clubes pelos quais passa. Compreende o motivo dessa característica em sua carreira?

Procuro trabalhar sempre com muita honestidade, trato todos com muito respeito e também a instituição, fora o resultado de campo. Já retornei duas vezes ao Paraná, trabalhei três vezes por lá, retornei ao rival aqui (Goiás), ao Sport e ao Avaí. Isso mostra que você deixa alguma coisa boa plantada ali, planta uma semente e depois vai colhendo. Às vezes, o resultado não vem naquele momento mesmo fazendo tudo certo. É futebol. Então, a diretoria identifica que houve um bom trabalho, mas a bola não entrou, talvez uma infelicidade, mas o trabalho era bom e, naquele momento, não tinha como segurar porque a pressão estava grande. É uma coisa muito bacana sempre ser lembrado por um clube pelo qual passou, isso valida o que você fez. Por exemplo, eu me tornei o treinador que mais dirigiu o Avaí na Ressacada, tenho números fantásticos em termos históricos, mas tem uma hora que desgasta e você sai, sabendo que a porta está aberta. É importante saber chegar e sair. Espero que aqui no Vila Nova demore muito tempo para isso acontecer, mas que eu sempre deixe a porta aberta. É pelo meu perfil agregador que trabalha sempre em prol do clube. Não tenho vaidade e trabalho dentro da realidade do clube para entregar resultado.

Em sua chegada ao Vila Nova, você encontrou o que esperava ou algo te surpreendeu?

Cheguei a jogar algumas vezes aqui contra o Vila, no OBA. Então, conhecia um pouquinho da estrutura. Via que a estrutura era boa, mas não sabia que era tão boa. Você vem para o clube e vê a reforma que foi feita no departamento médico, na fisioterapia, vê que existe um alojamento muito bom para concentração, então isso me surpreendeu positivamente. Não é só isso. Quando começa a conhecer as pessoas, compreende que todo mundo aqui respira Vila Nova. Eles não trabalham só pelo dinheiro, estão envolvidos com o clube, são torcedores. Existe esse ambiente muito positivo, mas muito familiar. Mas não pode faltar cobrança, assim como meu pai me cobrava e eu cobro meus filhos, minhas esposa às vezes me cobra alguma coisa. Não pode ser um ambiente permissivo, a cobrança tem de existir. Quando o carro está ladeira abaixo, tentar segurar é mais difícil. Me surpreendeu esse ambiente muito Vila Nova. Facilita bastante o dia a dia.

Você fez um trabalho marcante nas categorias de base do Santos e foi campeão da Copinha. Como você vai trabalhar o aproveitamento dos garotos da base no Vila Nova?

Fizemos um treino com o sub-20, até deixei claro para os atletas que não era contra, pois aqui todo mundo é Vila Nova. Já trabalhei com o Lauro (Martins), treinador do sub-20, e sei que é um cara fantástico e de fácil diálogo. Não estamos podendo ver muito os garotos porque eles estão na Copa São Paulo. Temos alguns meninos treinando com a gente para nos ajudar, eles têm qualidade, mas são mais jovens. Vamos, na medida do possível, acompanhando os jogos. Nem sempre o principal destaque da Copa São Paulo é aproveitado porque, no grupo principal, pode ter dois ou três na posição dele, mas outro que não se destaca tanto e exista a carência no grupo pode ganhar mais chances. Tenho o perfil de aproveitar de lançar jogadores no profissional. Se tiver potencial, não tenho medo de colocar para jogar, não coloco por colocar e fazer número na carreira. Não adianta lançar dez, que batem e voltam. Procuro colocar aqueles que realmente vejo com condição de nos ajudar. Tenho olho para base e dou atenção. Meu diferencial talvez seja esse: a mesma atenção que dou para o Ralf vou dar para o Domingos e o Atanásio (garotos da base) que estão treinando com a gente.

Seu grupo é recheado de jogadores experientes. Já pensou em quem vai ser o capitão?

Não me preocupa muito quem vai usar a braçadeira de capitão. A princípio, vamos manter o (Rafael) Donato, pois é um cara que já conhece bem o clube e tem uma liderança muito boa. Minha preocupação é que todos participem dessa liderança, não tem que ser o Donato resolvendo tudo porque é o capitão. Nós procuramos envolver, pego sempre cinco ou seis do elenco, alguns capitães e tudo o que pretendo fazer converso com eles, coisas sobre a programação até para não gerar ruídos no vestiário. Hoje, temos o Vanderlei que foi capitão comigo no Operário-PR, o Donato, o Ralf, o Diego Renan, que é um cara experiente, o Marlone, que tem uma liderança técnica, o (Guilherme) Parede, que, apesar de ser mais jovem, é muito intenso e contagia todos, temos o Alex Silva, que já jogou em grandes clubes. Temos vários jogadores com esse perfil e, com isso, ficamos tranquilos. Vamos manter o Donato com a braçadeira e não gosto muito de fazer rodízio para agradar todo mundo. A braçadeira é um símbolo, mas é preciso saber que existem mais pessoas para se apoiar, não pode ser só em um.

O que o torcedor colorado pode esperar da equipe já nesse início do Goiano?

Pode esperar um time muito bem organizado taticamente e que vai saber o que está fazendo em campo, os jogadores não vão fazer um jogo aleatório, vai ser um jogo estudado. Vai ser também um time que vai brigar por todas as bolas, aguerrido, que é uma das minhas características. Agora, se vamos ser organizados marcando alto, baixo ou médio, aí vai depender muito do adversário. Não adianta falar que vou marcar alto em todos os jogos. Se pegar um adversário que não sai jogando, não tenho motivo para marcar alto. Todo treinador quer que sua equipe seja protagonista, jogue melhor que o adversário e vença o jogo, mas às vezes não consegue isso. Vamos usar o exemplo da última Copa do Mundo. O Brasil foi protagonista, jogou melhor que a Croácia e foi eliminado. Aí o treinador não prestou. Mas eu não concordo. É assim que funciona. O treinador vai querer sempre fazer o time jogar melhor, mas nem sempre você vai encantar, vai te dar o resultado. É ter humildade para entender em qual jogo você pode ser mais propositivo, reativo ou ficar no equilíbrio.

O discurso da diretoria do Vila Nova é não falar em Série B e dar prioridade ao Goiano. Mas o Estadual poderá servir como parâmetro para avaliar a força do Tigre?

Todo jogo que fizermos vai servir como avaliação. Eu estou sendo avaliado, os atletas também, pela diretoria, vocês da imprensa e pelos torcedores. O presidente (Hugo Jorge Bravo) e o Frontini têm dito e estão corretos, pois se eles que vão ficar até o fim do ano com certeza pensam assim, imagina eu que sou o treinador. Se eu ficar pensando na Série B e jogar o Goiano de qualquer jeito, não chego na Série B dirigindo o Vila Nova. Particularmente, como treinador, tenho de ser o primeiro a chegar e o último a sair. Tenho que pensar no treino de hoje, de amanhã, de depois de amanhã e no próximo adversário. Não adianta preocupar com Série B agora, estou focado no Goiano, mas também temos Copa do Brasil e Copa Verde no meio e temos de passar o máximo de fases na Copa do Brasil para trazer receita para o clube. Concordo com o presidente. Temos de pensar no Goiano agora e na estreia contra o Goiânia. É começar bem o Goiano que a temporada vai se desenhando.

Deixando de lado um pouco o campo e o trabalho, como você é nos momentos de lazer?

Gosto de ficar com minha família, meu lazer é ficar em casa com eles. Gosto também de sair para almoçar, jantar ou passear com eles. Também gosto de assistir filmes, sou um cara muito família, mas sempre muito focado no trabalho. No réveillon mesmo, fiquei sozinho aqui em Goiânia enquanto a minha família estava em Santos. Não podíamos dar uma folga grande (ao elenco), não podia pensar em mim e, sim, no trabalho. Mas gosto de estar sempre com minha família, a razão de tudo o que faço, do tempo que dedico aqui (no trabalho) é por eles. No ano passado, acho que bati o recorde de perder aniversário, Dia dos Pais, Dias das Mães, Dia dos Namorados. Em todas as datas mais importantes para a família, eu estava longe. Temos que fazer valer a pena, fazer o melhor trabalho. Se Deus quiser, eles (a esposa Gisele e os filhos Rafael e Felipe) estão chegando em breve para ficar aqui comigo em Goiânia. No ano passado, não me acompanharam e fazem muita falta. Sem a família em casa, você fica sem rotina. Se tem folga à tarde, você dorme e depois passa a madrugada acordado.

Suas duas outras passagens pelo futebol goiano foram rápidas. Deu tempo de passear aqui em Goiás? Tem algum lugar que gostaria de conhecer?

Acho que na minha primeira passagem pelo Goiás e por Goiânia, cheguei a ir em Rio Quente, mas o pessoal fala muito bem de Pirenópolis e ainda não conheço. Não conheci muita coisa aqui ainda, apenas restaurantes porque gosto de sair para jantar com a família e aqui tem muitos lugares bacanas, a comida é muito boa, Goiânia tem uma boa culinária. Tomara que essa passagem seja bem longa, pois o futebol não te dá muito tempo para passear. Falo e o povo pensa que é brincadeira, mas trabalhei no Vitória-BA e, em quase seis meses que morei em Salvador, não fui uma vez à praia. Não dava. Quando você ganha, não tem folga. Se você tem folga e perdeu (um jogo), não tem como ir para praia porque não tem sossego. Tem que ganhar e ter a folga para poder passear.

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