O Conselho de Ética do COB (Comitê Olímpico do Brasil) aumentou a suspensão do oposto Wallace, do Sada Cruzeiro, de 90 dias para cinco anos. O fato foi consumado nesta terça-feira (2).
No entender do Conselho, Wallace, a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e o Sada Cruzeiro, time do atleta, descumpriram os termos da decisão porque ele entrou em quadra no último domingo (30), na final da Superliga de Vôlei masculino.
Wallace saiu do banco de reservas e marcou o ponto que deu o título ao time mineiro.
A entidade ligada ao COB, mas independente, também foi dura com a CBV. Determinou que a Confederação seja desligada do sistema do Comitê por seis meses. Isso a impede de receber repasses financeiros, inclusive das loterias.
Decidiu enviar ofício ao governo federal e ao Banco do Brasil, que patrocina as seleções da modalidade, para que sejam cancelados "todo relacionamento patrimonial ou não patrimonial que as entidades privadas possuam com a CBV e que tenha por pressuposto a participação da entidade no sistema Olímpico, cujo vínculo deixa de existir na presente data."
O Conselho suspendeu por um ano de Radamés Latari, presidente da CBV, e enviar ofício ao COI (Comitê Olímpico Internacional), informando as decisões tomadas.
O gancho de Wallace para atuar pela seleção brasileira, que era de 12 meses, também foi aumentado para cinco anos. Mas ele já havia manifestado a intenção de não atuar mais pela equipe.
CBV, Wallace e o presidente do COB, Paulo Wanderley, não se pronunciaram até o momento. O Sada Cruzeiro afirma que não vai comentar o caso.
No final de janeiro, ele postou foto em sua conta de Instagram. Estava em clube de tiro, com uma arma na mão e abriu a caixa de perguntas do aplicativo para responder a dúvidas dos seus seguidores. Um deles questionou se usaria aquele revólver para dar um tiro no presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Wallace respondeu com a abertura de enquete questionando quem faria aquilo.
A punição ao jogador da seleção brasileira se tornou uma polêmica entre o Conselho de Ética do COB e o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) do vôlei.
O tribunal arquivou a denúncia contra o oposto por não ver relação entre o esporte e sua postagem no Instagram. O órgão do Comitê o suspendeu de qualquer atividade esportiva olímpica no país por três meses.
O atleta e o Sada Cruzeiro obtiveram uma liminar no STJD da modalidade (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), interrompendo a punição até o julgamento do mérito do recurso apresentado. Isso o liberaria para entrar em quadra nas fases finais da Superliga. Mas o Conselho de Ética avisou que a punição continuava valendo.
Cruzeiro e Wallace foram à CBMA (Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem) para mediar a situação do oposto. O Conselho do COB enviou ofício afirmando não reconhecer a autoridade da Câmara sobre o assunto.
No mesmo despacho em que distribui as suspensões nesta terça, o Conselho de Ética recomenda ao presidente do Comitê Olímpico que descredencie o CBMA.
Em texto de seis páginas, assinado pelos conselheiros Ney Bello Filho, Sami Arap, Humberto Aparecido Panzetti e Guilherme Faria da Silva, o Conselho diz que "o primeiro [Wallace] atuou livremente em quadra quando se encontrava suspenso de suas atividades em razão de ato antiético dantes praticado, consistente em incitar a violência por meio de redes sociais, sugerindo tiros no Presidente da República. O segundo [CBV], não apenas utilizou-se de artifícios para descumprir a decisão do Comitê Olímpico do Brasil, como permitiu a inscrição do atleta em jogo por ela promovido, desconsiderando decisão da entidade".
"A Confederação Brasileira de Voleibol, que compõe a estrutura do esporte olímpico nacional e internacional, e guarda vínculo com o Comitê Olímpico do Brasil e, portanto, com o Comitê Olímpico Internacional operou no sentido de desconhecer decisão do próprio COB, valendo-se de uma ilegítima consulta efetuada a uma entidade privada que não possuía competência para decidir a questão posta", reclama o Conselho.
Para os conselheiros, a atitude de Wallace não pode ser vista como normal.
" Impossível crer que qualquer pessoa dotada de racionalidade mediana pense ser ético para um esportista olímpico sugerir tiros de arma de grosso calibre em qualquer pessoa, menos ainda na autoridade máxima do país. Impossível achar que não merece punição quem se utiliza da fama de esportista consagrado para incitar a violência contra quem quer que seja", diz a entidade.