Mais da metade da população mundial assistiu aos jogos da Copa do Mundo de 2018, na Rússia. O recorde foi registrado pela Fifa que, nesta sexta-feira, divulgou ainda que quase 10% da audiência não vem mais de aparelhos de televisão, mas sim de plataformas digitais.
Mas os números também revelam que o domínio europeu em campo não faz bem para os negócios globais. O levantamento ainda não deixa qualquer dúvida: o futuro da audiência está na China, que já consome mais horas de Copa do Mundo que a América do Sul inteira. Isso mesmo sem sequer ter ido ao Mundial na Rússia com a sua seleção.
De acordo com o informe sobre as transmissões do Mundial, um total acumulado de 3,57 bilhões de pessoas assistiram pelo menos a um minuto dos jogos, o que representa 51,3% da população do planeta. Quase um terço desse total assistiu a pelo menos 30 minutos das partidas. O crescimento em comparação ao Mundial de 2014, no Brasil, foi de 2,2%.
Entre a população que assistiu mais de 30 minutos dos jogos, o total passou de 1,9 bilhão há quatro anos para 2,4 bilhões em 2018. Pelo levantamento, 3,2 bilhões de pessoas teriam visto os jogos pela TV, enquanto outros 309 milhões em plataformas digitais.
Em termos percentuais, são os sul-americanos os que mais assistiram, com 96,6% da população do continente viu pelo menos um minuto dos jogos. Na Europa, a taxa foi de 86%.
Mas, em termos absolutos, a audiência na Ásia registrou 1,6 bilhão de pessoas, 43% de todos os torcedores que acompanharam a Copa. Sozinha, a China, que sequer conseguiu se classificar ao Mundial, já corresponde a 18% da audiência da Copa, com 655 milhões de pessoas.
Apesar de ser o país com a maior população do mundo, a China por décadas representou apenas uma participação marginal na audiência do futebol e quase irrelevante na venda de direitos de transmissão para a Copa. Agora, ela já é superior a todos os telespectadores sul-americanos, que somaram 380 milhões e 10% do mercado mundial.
Das 34 bilhões de horas consumidas de jogos da Copa em todas as televisões do mundo, os asiáticos foram responsáveis por 30%. E 41% dessa fatia asiática veio por conta da China.
ALTO INVESTIMENTO CHINÊS
Durante o Mundial da Rússia, a ausência dos patrocinadores ocidentais que temiam o envolvimento com os escândalos da Fifa ou com as sanções contra o governo de Vladimir Putin abriu um espaço inédito para as empresas chinesas. "Agora é o nosso momento", dizia o slogan de uma das empresas do país asiático que passou a patrocinar o maior evento esportivo do planeta.
Tradicionais marcas que tiveram uma participação chave na história das Copas desde a década de 1970 dividiram espaços com os iogurtes e sorvetes da chinesa Mengniu, os telefones da também chinesa Vivo, da fabricante de televisores Hirense, além da scooter da Yadea. Mas nenhuma delas superou o investimento que o conglomerado chinês Dalian Wanda fez. Seu presidente, Wang Jialin, um dos homens mais ricos do mundo, já deixou claro que sua entrada na Fifa atende até mesmo um pedido do governo chinês de "apoiar o futebol". Para 2030, a China quer sediar a Copa do Mundo e, até 2050, ter uma seleção competitiva.
A Dalian Wanda conta com hotéis, fábricas de iate de luxo, serviços e dezenas de outros produtos. A mesma empresa ainda foi uma das operadoras autorizadas pela Fifa para revender direitos de TV na Ásia.
EUROPA
Os dados também revelam que o sucesso dos europeus em campo não fez bem para a audiência mundial. Se nas primeiras fases da Copa os resultados de TV foram positivos, a audiência despencou a partir das semifinais, nas quais estavam em campo apenas Bélgica, Croácia, Inglaterra e França.
Em comparação com 2014, a audiência dos dois jogos que escolheriam os finalistas teve uma queda de 15% em 2018. Há quatro anos, quem estava em campo nesta fase da competição eram Holanda, Alemanha, Brasil e Argentina.
Mesmo a grande final em 2018 teve uma audiência mais baixa que em 2014, quando dois continentes se enfrentaram no duelo Alemanha x Argentina. A queda foi de 5%. Ainda assim, a final entre França e Croácia foi o jogo mais visto, com cerca de 1,1 bilhão de pessoas acompanhando em diversas partes do mundo. Desses, 231 milhões viram por meios digitais.
O que também fica claro é que o crescimento da audiência em residências não está ocorrendo na Europa, inclusive pelas ausências de Itália e Holanda na Copa. Também teve um impacto a eliminação considerada como precoce da Alemanha, com uma população de 80 milhões de pessoas. No geral, a audiência europeia em residências caiu em 2,2%, mesmo com uma final 100% do Velho Continente.
MAIOR EXPANSÃO
A maior expansão em comparação a 2014 ocorreu na África e Oriente Médio, com um total de cinco seleções. O número nessas regiões passou de 323 milhões em 2014 para mais de 537 milhões em 2018.
Essa região hoje superou a América do Sul que, apesar de registrar uma expansão de 9% na audiência em comparação a 2014, não acompanhou a alta de 66% no Oriente Médio e África. Em média, a audiência de cada um dos 64 jogos atingiu a marca de 191 milhões de pessoas, uma elevação de apenas 2% em comparação a 2014.
Dois jogos do Brasil - contra o México e contra a Bélgica - estiveram entre as dez partidas mais acompanhadas da Copa. Em ambas, a audiência foi de mais de 280 milhões de pessoas. Apenas uma partida da Rússia, contra a Espanha, entrou para a lista dos dez jogos com maior audiência.
A Fifa, apesar das mudanças, comemorou. "Os dados apoiam o argumento de que a Rússia foi palco da melhor Copa já realizada", disse o diretor comercial da Fifa, Philippe Le Floch.