Mais da metade dos brasileiros acredita que a seleção vencerá a Copa do Mundo deste ano, a ser disputada entre novembro e dezembro. De acordo com pesquisa Datafolha, 54% apostam que o time dirigido por Tite erguerá a taça no Catar.
O levantamento foi feito nos dias 27 e 28 de julho. Foram ouvidas 2.556 pessoas de 16 anos ou mais em 183 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
O número representa um aumento em relação ao que se observou em pesquisa semelhante conduzida antes do Mundial de 2018, na Rússia. Na ocasião, 48% apostaram que a equipe, já comandada por Tite, ficaria com o título. O Brasil caiu nas quartas de final, diante da Bélgica, e a França foi campeã.
Ainda não se recuperou, no entanto, o patamar exibido às vésperas do Mundial de 2014. Eram 68% os que apostavam nos comandados de Luiz Felipe Scolari, técnico que conduzira o time nacional à taça em 2002 e tinha moral pela conquista da Copa das Confederações, em 2013.
A campanha do Brasil, que jogava em casa, foi finalizada de maneira desastrosa. Entre bons e maus jogos, a seleção conseguiu chegar às semifinais. Aí, em tarde histórica no Mineirão, em Belo Horizonte, levou 7 a 1 da Alemanha, que seria tetra dias mais tarde.
A equipe verde-amarela ainda perdeu a disputa pelo terceiro lugar, em tranquilo triunfo da Holanda por 3 a 0. Desde então, o nível de confiança dos brasileiros no time jamais foi recuperado, mesmo com uma campanha dominante nas Eliminatórias para a próxima Copa.
O otimismo, hoje, é maior do que o observado no ciclo posterior ao 7 a 1. Desde o Mundial de 2018, o Brasil conquistou resultados relevantes, como o triunfo na Copa América de 2019. Na edição mais recente do torneio, em 2021, perdeu a final para a Argentina.
"A resposta tem a ver com confiança e desconhecimento juntos. Se você perguntar o que a Alemanha fez nos últimos cinco anos, alguém falará do 7 a 1, há oito", afirmou o jornalista Paulo Vinicius Coelho (PVC) ao observar os palpites registrados pelo Datafolha. "A resposta mais honesta parece ser ‘não sei’."
Autor do recém-lançado livro "5 Estrelas – a Conquista do Penta", o jornalista lembrou que nem sempre os prognósticos dos analistas de futebol ganham eco na expressão popular. Ele recordou justamente a expectativa em torno da campanha do penta do Brasil, em 2002, após uma trajetória sofrida nas Eliminatórias, com crises e três treinadores.
"Era uma loucura 64% acreditarem na seleção, que teve uma derrota para Honduras na Copa América um ano antes. A crítica duvidava, e a opinião pública acreditava. Há muitas vezes essa distorção", disse PVC.
Agora, quem bota maior fé no time de Tite são os jovens. Na faixa dos 16 aos 24 anos, com margem de erro de cinco pontos percentuais, 63% apostam em vitória no Catar. A faixa dos 35 aos 44, com margem de erro de quatro pontos percentuais, é a mais cética: 50% creem em título no fim do ano.
Não se observa diferença significativa entre os que declaram voto em Lula (PT) e os que desejam a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) no pleito presidencial de outubro. Os números são similares, com distância dentro da margem de erro.
Apostam na seleção 58% dos que têm intenção de votar em Lula, com margem de erro de três pontos percentuais. Já entre os apoiadores de Bolsonaro, com margem de erro de quatro pontos percentuais, 53% creem em festa verde-amarela na final, na cidade de Lusail.
Desde que assumiu a Presidência, em 2019, Bolsonaro fez diversas tentativas de atrelar sua imagem à da equipe nacional. Naquele ano, fez desfiles pelos campos da Copa América e festejou a conquista com os jogadores, no gramado do Maracanã.
Já em 2021, quando o presidente articulou para realizar a competição novamente no Brasil, em momento crítico da pandemia de Covid-19, houve atletas que se manifestaram de maneira contrária. O técnico Tite, particularmente, ganhou a antipatia de bolsonaristas.
Independentemente do campo político, além do Brasil, as equipes mais citadas na pesquisa mais recente são as duas últimas campeãs mundiais. A Alemanha, vencedora de 2014, e a França, que triunfou em 2018, aparecem com 5% cada uma.
A Argentina foi o palpite de 2% dos entrevistados. A Espanha registrou 1%. Um total de 2% mencionou outras seleções. Os demais 31% disseram não saber e preferiram não citar nenhum dos times que estarão no Catar.
"Parece que as pessoas não percebem como o futebol virou mais forte em mais nações. Se Mané é senegalês e joga pelo Senegal, Senegal pode ser campeão do mundo? É difícil. Mas a Bélgica de De Bruyne pode. E pouca gente liga De Bruyne à Bélgica que eliminou o Brasil [na última Copa]", afirmou PVC.
O jeito é esperar. Se 54% dos brasileiros acreditam que a seleção começará 2023 com uma estrela nova na camisa, o otimismo já foi maior e seguido de decepção. Desta vez, o Brasil parece integrar a lista de favoritos, mas não é o grande favorito, como foi em ocasiões anteriores.
"Em 1982, comprei uma camisa oficial da seleção brasileira, cheguei em casa e disse ao meu pai: ‘Pena que depois da Copa não vai ser mais oficial, porque vai haver quatro estrelas. Meu pai pediu calma. Em 2005, no Natal, dei uma camisa da seleção, oficial, para meu filho João Pedro. Juro por Deus, ele disse: ‘Pai, pena que depois da Copa não vai ser oficial, porque terá seis estrelas’. Eu contei a história do meu pai e pedi calma", recordou PVC.
"A Copa se ganha em dezembro. Campeão em fevereiro só escola de samba."