Decisivo pelo Vila Nova no triunfo sobre o Vitória, Lourenço construiu carreira no futebol sem ter formação de base. O esporte sempre fez parte da vida do mineiro de 25 anos, mas por pouco não se tornou sua profissão. O técnico Claudinei Oliveira, que hoje comanda o clube goiano, foi um dos responsáveis por mudar a trajetória do polivalente atleta do time colorado.
Mineiro de Belo Horizonte, Lourenço cresceu e possui familiares em Mário Campos, cidade a 50 km da capital mineira, que costuma ser o local de parte das férias do jogador. De lá, ele saiu para fazer testes nas principais equipes do estado, Atlético-MG, América-MG e Cruzeiro, mas nunca passou. Em busca de oportunidades, encontrou uma em 2014, no União Luziense, de Santa Luzia.
Só que não receberia salários e só teria a chance de atuar. Era o que bastava para o até então João Paulo, atacante de beirada. Ele jogou a 3ª Divisão do Campeonato Mineiro e, no ano seguinte, conseguiu um contrato para integrar o time sub-20 do Democrata.
“Eu e meu primo (João Victor) treinamos durante algumas semanas. Só que o time profissional se apresentava no mês seguinte. Na última semana de treinos, separaram os jogadores por grupos. Foram falando os nomes. Fulano, ciclano e, do nada, João Paulo. Tomei um susto, achei que ia embora, mas falaram que era pra ir para uma sala. Quando cheguei lá, nos comunicaram que íamos ficar para treinar com o profissional”, lembrou o jogador do Vila Nova.
Lourenço conta que só teve chance de jogar depois de uma lesão de um atleta do time profissional. Esse fato, inclusive, se repetiu em dois momentos na carreira do jogador, ambos decisivas para sua sequência.
“Quando o time chegou perto da estreia no Módulo II (a 2ª Divisão do Mineiro), um atacante de beirada machucou. Me chamaram para treinar na semana do jogo. Corri feito maluco no treino, fiz tudo que podia e me convocaram. Foi aí que comecei a jogar”, completou Lourenço.
O Democrata foi campeão do Módulo II em 2016, Lourenço atuou em 10 dos 19 jogos da campanha do acesso. Só que o campeonato acabou em maio e o time só retornaria às atividades no ano seguinte.
Nesse período, o jogador fez um teste para integrar a base do Avaí e passou. Uma nova lesão de companheiro deu brecha para ele ser escolhido para treinar. O time catarinense era comandado por Claudinei Oliveira, hoje treinador do Vila Nova.
“Um atacante de beirada machucou de novo antes de um jogo do Catarinense, e eu fui chamado para treinar. Fui bem, dei uma assistência no treino e o Claudinei (Oliveira), depois, falou que eu ia jogar. Fiquei sem reação, falei: ‘eu que vou jogar? Não sei nem o que vou fazer no jogo’ (risos)”, descreveu Lourenço, que viu a carreira deslanchar depois das primeiras oportunidades no Avaí.
Foi no clube catarinense que João Paulo virou Lourenço. Na época, o time tinha dois atletas chamados João Paulo. “O Claudinei gritava ‘João’ e os dois olhavam. Aí falou que não ia dar certo, perguntaram se podia ser Ferreira. Eu disse que não, falei que teria que ser Lourenço. Minha família é conhecida assim, todos os irmãos são chamados de Lourenço”, explicou o mais novo de quatro irmãos.
Lourenço considera Claudinei Oliveira um dos responsáveis por sua carreira deslanchar. Sem base, precisou passar por testes e esperar para ganhar chances em treinos. Para ele, o treinador ajudou a alavancar a carreira.
“Ele me deu oportunidade de jogar, são cinco, seis anos que nos conhecemos. Sempre agradeço. Se não fosse ele, talvez não teria acontecido. Não sei o que ele viu em mim (risos), mas me subiu e só tenho que agradecer. Eu, pequeno demais no meio de um monte de gente alta. Antigamente, tinha ditado que quem fazia tudo não fazia nada. Eu corria, finalizava, me dedicava muito. No fim, deu tudo certo”, salientou Lourenço.
Essa longa relação explica o sucesso de Lourenço no Vila Nova, principalmente no aspecto tático. Apesar de começar no futebol como atacante de beirada, o jogador não priorizou uma função em campo. Por isso, já atuou como lateral direito, meia, atacante e volante.
Na Série B, Lourenço passou a jogar como segundo volante, algo que Claudinei Oliveira sabia que poderia tentar desde 2018, quando conheceu o jogador.
“Tivemos tempo para trabalhar, foram mais de 20 dias para treinar e, toda semana, procuramos nos aperfeiçoar. Saída de bola, construção ofensiva, transição, e eu procurei me encaixar com as peças que chegaram. Desde que o Claudinei colocou essa formação com quatro atacantes, todos procuraram se adaptar para cumprir bem a função. Fluiu bem, por isso manteve. Se fosse eu, o Sousa ou o Cristiano, ia dar certo. Todos estão comprometidos”, argumentou Lourenço, que se destaca no Vila Nova por ser a engrenagem da equipe na Série B. Diante do Vitória, Lourenço marcou seu primeiro gol na competição.
Dois acessos à elite
Com dois acessos à Série A na carreira, ambos pelo Avaí (em 2018 e 2021), Lourenço acredita que o ambiente no Vila Nova mostra que o caminho que o clube percorre é para terminar com o clube na elite nacional.
“Em 2021, por exemplo, existia uma ‘briga’ com a diretoria (do Avaí). Estávamos com salários atrasados e isso gerou dúvidas. Só que o Claudinei (Oliveira) lidou bem com o grupo, acalmou, manteve o grupo focado. Aqui é perfeito. Todos trabalham ao máximo nos treinos, tem brincadeira, mas muito respeito. Na questão da leveza, é um grupo muito tranquilo para seguir no caminho do acesso”, contou o polivalente Lourenço.