Esporte

Jogador Gustavo, do Atlético-GO, revela dor por sofrer injúria racial

João Paulo Di Medeiros
Gustavo, volante do Atlético-GO sub-20, chega ao Geacri para prestar depoimento

Aparentemente assustado e se mostrando "muito chateado" e abatido por ter sido xingado de "macaco" por um suposto funcionário do Trindade no jogo disputado na tarde de quarta-feira (8) pela semifinal do Campeonato Goiano Sub-20, o jogador Gustavo Santos Assunção prestou depoimento nesta quinta-feira (9) na delegacia do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri).

Gustavo tem 19 anos e joga na base do Atlético-GO é mais uma vítima de crime de injúria racial ocorridos num ambiente esportivo. O fato ocorreu no Estádio Abrão Manoel da Costa, em Trindade, onde os dois times empataram de 0 a 0. O acusado de tê-lo xingado, antes do final do primeiro tempo, é conhecido por Daniel Bandana e teria prestado serviços de fisioterapia ao Trindade. O clube nega, em nota, o vínculo profissional dele com o Tacão.

Gustavo disse que é a primeira vez que isso ocorre com ele. Mas, revelou que "senti isso" e que recebeu ajuda do Atlético-GO, dos colegas de clube, da família. Ele é acompanhado pelo psicólogo do clube, Raphael Santana Gonçalves. Ao mesmo que conta com apoio, Gustavo procura superar o episódio que, no primeiro momento, o deixou perplexo. "Nem tive reação" e não se alimentou direito na quarta-feira, à noite, após o jogo.

"Ontem (quarta-feira), no jogo com o Trindade na semifinal do Goiano, eu estava numa discussão, que é de jogo e é normal, com o camisa 7 do Trindade. Aí, o fisioterapeuta do Trindade chegou em mim e me chamou 'o que que foi, negão", querendo defender o menino que era do mesmo clube. Aí, falou assim: 'o que é que foi negão, o que é que foi macaco' e foi na hora que paralisei", detalhou o jovem atleta do Dragão.

Segundo ele, após o episódio "não tive reação" e foi difícil lidar com a situação. "Até conversei com meu treinador e meu psicólogo e falei que isso me tirou do jogo. Fiquei triste e não consegui, não tive reação. Só olhei para ele e disse "o que é isso, cara", até porque não foi eu que falei", disse o jogador. No momento, os colegas de Atlético-GO reagiram e houve correria na direção do vestiário do estádio, mas o acusado conseguiu fugir e se esconder. A polícia militar interveio, mas não conseguiu prender o acusado do xingamento. O nome dele não aparece na súmula da partida como membro da comissão técnica do Trindade, assim como o clube emitiu nota em que nega o vínculo dele com o Trindade.  

"Olhei para os meus companheiros e os vi falando com o juiz: "olha lá, professor (árbitro Artur Morais), ele chamou o menino de macaco. Isso porque não tive nem reação, porque foi a primeira vez que isso aconteceu comigo. Não tive nem reação", afirmou Gustavo, que era da base do Vila Nova e se transferiu para o Dragão ano passado.       

"Fiquei muito chateado, ontem (quarta-feira) nem consegui me alimentar direito. Só fiquei quieto no meu canto, coloquei um fone no ouvido, fiquei tranquilo, porque eu senti isso, senti isso. Agora, é conversar com o psicólogo, o Atlético já conseguiu isso para mim. E focar no sábado (11), porque temos decisão. É esquecer um pouco isso, mas está difícil."
O depoimento de Gustavo é uma das etapas da investigação da Polícia Civil, que também vai ouvir mais testemunhas e usar a súmula do jogo para embasar as provas. Para Gustavo, é preciso que a justiça seja atuante no caso. "Quero que seja feita justiça nisso, porque isso precisa acabar. Querendo ou não, só quem sofre isso sente o tanto que é ruim. Isso me doeu muito. Espero que a justiça faça o melhor."

Investigação

O delegado do Geacri, Joaquim Adorno, explicou que o caso conta com "provas testemunhais", assim como a súmula do jogo. Ele vai ouvir torcedores que estavam no estádio e outros jogadores, como testemunhas. A investigação deve ser mais rápida, pois as provas colhidas podem dar mais subsídios na apuração do caso envolvendo o jogador do Atlético-GO. O clube também tem acompanhado a apuração e cobra punição ao acusado.     

Joaquim Adorno disse que o acusado "vai responder por injúria racial" e que o crime está previsto no Artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal. O acusado, conhecido em Trindade e no futebol por Daniel Bandana, deve ser denunciado pelo Ministério Público e pode receber pena de um a três anos por ter xingado Gustavo de "macaco". Sobre o suposto uso de arma do acusado no estádio, Joaquim Adorno afirmou que essa é versão que precisa ser investigada, pois não há provas confiáveis.

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