Esporte

Jogadores conheceram quadrilha das apostas após comprar tênis no Instagram

MP-GO/Divulgação
Diligência do Gaeco em Goiânia no âmbito da Operação Penalidade Máxima

Dois jogadores envolvidos no escândalo de manipulação de resultados no futebol brasileiro declararam que não conheciam pessoalmente os apostadores que os levaram ao esquema. As declarações estão em depoimentos dos atletas ao Ministério Público de Goiás (MP-GO). Os vídeos dos depoimentos foram divulgados pelo UOL.

Gabriel Tota e Moraes, que ano passado defenderam o Juventude, conheceram a quadrilha enquanto compravam tênis pelo Instagram. "Quem me procurou foi o Victor, eu conheço ele como V.Y., conversei só pelo Instagram, sempre comprei roupas, tênis com ele, que ele vende, e quando falei por WhatsApp salvei como V.Y., que é o nome do Instagram da loja dele", disse Moraes, em depoimento ao promotor Fernando Cesconetto.

O Victor, no caso, é Victor Yamasaki Fernandes, também conhecido como Vitinho ou V.Y., que de acordo com o MP constituiu organização criminosa com outras cinco pessoas. Foi ele quem trouxe Gabriel Tota para o negócio. O jogador confirmou, em entrevista à promotora Gabriella Clementino. "O Vitinho me apresentou o Bruno (Lopez, que de acordo com o MP é o chefe da quadrilha)", disse Tota.

Assim como Moraes, Tota apontou que nunca viu o grupo pessoalmente. "Que eu saiba (o Vitinho trabalha) como vendedor de tênis, que é a loja que tem no Instagram. Sempre falei com eles por telefone, porque nunca tive contato pessoalmente nem com o Vitinho e nem com o Bruno", afirmou o ex-jogador do Juventude.

A atuação da quadrilha ao qual Victor fazia parte "visava ao aliciamento e cooptação de atletas profissionais para, mediante contraprestação financeira, assegurar a prática de determinados eventos em partidas de futebol, de modo a garantir o êxito em elevada apostas esportivas feitas pelo grupo criminoso", segundo palavras do Ministério Público na denúncia.

Victor foi quem intermediou a manipulação dos jogos Palmeiras x Juventude e Goiás x Juventude, pela Série A do Campeonato Brasileiro do ano passado, além da partida entre Caxias x São Luiz, pelo Campeonato Gaúcho deste ano.

Outro atleta que apontou nunca ter encontrado o grupo criminoso pessoalmente é Victor Ramos. O zagueiro virou réu no processo por ter negociado com os apostadores. "Doutor, não conhecia ele não. Não conheço pessoalmente, não tive contato com ele, somente foi em ligação, através de celular", disse o zagueiro.

O MP aponta que Victor Ramos, "de forma consciente e voluntária, ciente da ilicitude e reprovabilidade de sua conduta, aceitou a promessa de vantagem patrimonial indevida com o fim de alterar o resultado ou evento de competição esportiva entre Guarani x Portuguesa". 

O atleta receberia R$ 100 mil para fazer um pênalti no confronto, mas ele não fez a ação. Como não foram encontrados outros jogadores que participassem da manipulação, o pagamento antecipado não foi feito ao zagueiro, nem a aposta no jogo em questão.

O QUE DIZEM AS DEFESAS
A advogada de Moraes, Cláudia Mendonça Noventa, disse que o jogador fez acordo com o MP e está arrependido. Ela ainda acrescentou que ele não é mais réu e não deve ser utilizado como bode expiatório, pois já prestou todos os esclarecimentos e vai aguardar a situação dele no STJD.

"Ele foi procurado pelo senhor Victor Yamazaki quando estava em um momento que precisava. Foram dois jogos que ele realmente aceitou, recebeu um sinal de R$ 5 mil contra o Palmeiras e R$ 20 mil contra o Goiás, mas nos lances dos jogos, se você assistir, vê que ele tomaria o cartão mesmo que não aceitasse o dinheiro", disse a advogada.

"O Moraes não fez parte dos grupos de WhatsApp dos atletas que ficavam comentando que tomariam os cartões. Ele foi contatado apenas pelo Victor Yamazaki e a conversa foi com ele. Fez errado, ele mesmo sabe que errou, hoje está cooperando com a Justiça, é um colaborador do processo", acrescentou Claudia.

A defesa de Victor Ramos, por meio do advogado Ivan Jezler, enviou uma nota dizendo que a " acusação não imputa a Victor a condição de integrante de organização criminosa, bem como não afirma ter o atleta praticado qualquer ato de execução com a finalidade de manipular a idoneidade e integridade do jogo. Objetivamente, o zagueiro jamais foi advertido com cartões, e não cometeu qualquer penalidade máxima em jogos que constituem o objeto da investigação".

Acrescentou que "a denúncia foi oferecida com base, apenas, em prints (capturas de tela) parciais de conversas travadas no WhatsApp. Ainda assim, as mensagens demonstram um contexto diverso, revelando reiteradas recusas do atleta em participar de qualquer manipulação desportiva, juntadas pelo próprio MP. Essa prova eletrônica ainda terá sua validade verificada judicialmente".

E finalizou apontando que "não houve aceitação ou recebimento de vantagem com a finalidade de manipular resultados ou provocar infrações. A defesa escrita do jogador será apresentada buscando sua absolvição sumária. Deve-se preservar a presunção de inocência de Victor Ramos e observar a sua história no futebol profissional, evitando as consequências irreversíveis de publicações que buscam condenações apressadas e antecipadas".

Tota, por sua vez, disse que não gostaria de falar nada no momento.

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