Vitrine entre jovens que tentam realizar o sonho de jogarem futebol, a Taça das Favelas Goiás define neste sábado (21) os campeões dos torneios masculino e feminino. Com transmissão da TV Anhanguera, a 5ª edição da competição terá suas decisões disputadas no estádio Onésio Brasileiro Alvarenga (OBA), a partir das 14 horas. A entrada é gratuita e os portões vão ser abertos a partir das 12 horas.
Neste ano, do lado feminino há um confronto entre equipes de Goiânia. O Gentil Meireles busca o tricampeonato consecutivo. O desafio será diante do Novo Mundo, que busca seu primeiro caneco. Este duelo será disputado a partir das 14 horas.
No masculino, o campeão será inédito. Pela primeira vez, inclusive, o confronto na decisão será entre comunidades quilombolas. A partir das 15h15, o Quilombola Boa Nova enfrenta o Quilombola Diadema na segunda final do dia.
A Taça das Favelas é um torneio que reúne sonhos e histórias de pessoas apaixonadas pelo futebol. Lucigleise Lima, de 28 anos, é lateral direita e uma das fundadoras do Novo Mundo, que está em sua primeira final na competição.
Ela trata o esporte como diversão, neste momento. Mãe de seis filhos, com idades entre 3 e 13 anos, a atleta do Novo Mundo disputou a Taça das Favelas de 2022, quando defendeu o Jardim Guanabara, e está em sua segunda participação no torneio.
“Eu moro no Novo Mundo há sete anos e, junto com a Milka (companheira de time), nos juntamos com algumas meninas do Vila Morais e montamos o time. O Alex (treinador da equipe) é primo da Milka e conversamos com ele sobre a ideia de assumir o comando da equipe, deu certo”, comentou Lucigleise Lima sobre a criação da equipe.
Algo em comum em destaques do Gentil Meirele e Novo Mundo é a rotina pesada que não envolve apenas futebol. Thais Vitória, de 19 anos, é meia-atacante da equipe bicampeã da Taça das Favelas.
Ela, assim como Lucigleise, não vive exclusivamente do futebol. As duas trabalham e conciliam rotina profissional e esportiva, com treinos e jogos.
Thais Vitória, por exemplo, mora em São Luís de Montes Belos e treina no Aliança, que também disputa o Campeonato Goiano feminino. Pelo menos duas vezes por semana, ela encara 1h30 de carro para vir a Goiânia treinar e disputar jogos pela equipe, que forma a base do finalista Gentil Meirelles.
“Treino todos os dias. Segunda, quarta e sexta na minha cidade com um treinador particular, terça e quinta no Aliança”, explicou Thais.
A atleta ainda concilia sua rotina de treinos e jogos com o emprego na prefeitura da cidade do interior e tem o sonho de ser jogadora de futebol profissional.
Ambas dizem que o sentimento é de orgulho por disputarem a decisão do torneio neste ano. “Hoje, poder representar o setor que eu moro, minha comunidade, é algo sem palavras. Não consigo descrever a emoção que sinto neste momento”, declarou Lucigleise Lima.
Final Quilombola
Pela primeira vez em cinco edições, a Taça das Favelas terá um clássico quilombola na decisão. O duelo vai ocorrer na disputa masculina, entre Quilombola Diadema, de Teresina de Goiás, e Quilombola Boa Nova, de Professor Jamil. Este duelo tem previsão de ocorrer, a partir das 15h15, depois da decisão feminina.
As comunidades estão separadas por quase 600 km e possuem jovens que carregam a vontade de um dia atuarem profissionalmente no futebol. Ariel Ribeiro da Costa, do Quilombola Diadema, e Vitor Siqueira de Souza, volante do Quilombola Boa Nova, são exemplos.
Ariel começou a jogar futebol há oito anos (ele tem 16) e sonha em seguir carreira como profissional.
Ele estava na van da equipe Quilombola Diadema que há um mês se envolveu em um acidente, que resultou na morte de duas pessoas.
A tragédia ocorreu no dia 23 de agosto e envolveu a van que levava o time para Goiânia e uma picape, na GO-118, em Planaltina de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. Os dois motoristas morreram e três jogadores da equipe ficaram feridos.
Por esta razão, o troféu da final masculina desta edição será intitulado como “Natal Pereira da Silva”, em homenagem ao motorista da van que levava a equipe do Quilombola Diadema.
Antes dos jogos, o time costuma fazer um minuto de silêncio antes das partidas, em homenagem ao motorista. Após o acidente, dois atletas deixaram a equipe, por receio das viagens longas e frequentes.
Ariel Ribeiro comentou que a equipe sentiu muito a perda de Natal Pereira, de 62 anos, e que isso incentiva a equipe a conquistar o troféu. “Nós perdemos um amigo, um companheiro. Ele nos deu força para continuar com o nosso objetivo e honrar ele”, frisou o jogador.
Vitor Siqueira de Souza também sonha com uma oportunidade de viver do esporte. Com 15 anos, o atleta do Quilombola Boa Nova chega a sua terceira participação na competição – em 2022 ele foi banco e titular no ano passado e neste ano.
Essa será a segunda final da Taça das Favelas consecutiva do jogador pela comunidade Quilombola Boa Nova. Em 2023, a equipe foi vice-campeã após ter sido superada pelo Orlando de Morais, no estádio Antonio Accioly.
O jogador garantiu que a equipe está preparada e confiante para a decisão deste ano. “Dessa vez será diferente e vamos trazer o título”, afirmou o jovem da comunidade Quilombola Boa Nova.
Para Vitor, participar da Taça das Favelas é uma oportunidade de visibilidade, não só para os atletas que estão em campo, mas para a própria comunidade.
Ariel concorda que a Taça das Favelas se tornou uma vitrine no Estado. “Um impacto de nível nacional, onde nós todos podemos ter uma grande oportunidade de ser visto no esporte”, opinou o jogador do Quilombola Diadema.
A Taça das Favelas em 2024 teve 324 partidas entre as séries A e B, nas categorias masculino e feminino. Mais de 25 mil atletas participaram da competição desde as fases iniciais. Ao todo, 232 comunidades estiveram envolvidas.