LUIZ FELIPE MENDES
Torcedores do Vila Nova que foram ao Estádio Olímpico na fria noite goiana desta quarta-feira (29), mesmo após o time sofrer uma goleada de 6 a 0 na partida de ida, se dividiram em relatos de apoio, críticas à diretoria e expectativas para a temporada. Além o resultado negativo na ida, o próprio clube tomou atitudes para tirar a importância da partida, como mandar time misto de reservas e base e ter o comando de um auxiliar da comissão técnica para o jogo.
Como se esperava, foi o pior público do Vila Nova como mandante na temporada - foram 374 torcedores pagantes no Olímpico. No OBA, domingo passado, contra o Brusque, o Tigre já tinha amargado o pior público do ano, até aquele momento, em uma partida pela Série B - 1.882 pagantes.
“Como eu joguei bola, sei que lá (em Belém) não foi um resultado normal. Para mim, teve alguma coisa extracampo. Vim aqui para ver o Vila. Tem gente que vai para o estádio e quer Série A para ver o Flamengo jogar. Eu quero ver o Vila”, declarou o motorista de caminhão Adolfo Menezes, natural de Itaberaí.
O vendedor João Gibão, de 60 anos, nascido e criado em Goiânia e que torce para o Vila Nova há 53 anos, partilha da mesma visão. “Eu vim para apoiar o Vila, como sempre faço. Eu fui para Natal de van (na última rodada da Série B de 2023, contra o ABC) e o Vila perdeu, mas futebol é isso aí. Eu não torço para títulos, quem gosta de título é cartório. Eu gosto é do Vila, não interessa a situação, eu sempre estarei do lado. Nunca vaiei o Vila em minha vida toda.”
Os torcedores do Vila Nova foram unânimes em afirmar que, mesmo diante de uma situação irreversível no agregado, não deixariam de apoiar a equipe.
O empresário Wellington Pires, de 45 anos, que é de Brasília e mora em Goiânia há mais de três décadas, comparou o 6 a 0 do Paysandu com o 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil, na Copa do Mundo de 2014, e declarou que ninguém deixou de ser brasileiro por causa disso. O mesmo, de acordo com ele, vale para o Tigre.
“Eu não vim aqui pela tentativa do título, isso não existe. Vim pela instituição Vila Nova, o time que escolhi amar até o resto da minha vida. Respeito o Vila Nova, coisa que aqueles jogadores do último jogo (contra o Paysandu) não fizeram”, declarou.
Críticas à diretoria e projeção na Série B
Mesmo com o ingresso custando R$ 200, torcedores do Vila Nova não deixaram de marcar presença no Olímpico. Alguns criticaram o preço salgado, como o autônomo Yuri, de 19 anos, que só quis se identificar com o primeiro nome. Ainda assim, ele fez questão de ir até o estádio. “Tem que vir, não dá para ficar nesse desânimo todo. Se não viermos, ninguém vem. E temos que motivar os jogadores”, comentou.
Para Yuri, o Vila Nova precisa ser ativo no mercado de transferências, com dispensas e contratações, para fazer uma boa campanha na Série B. O torcedor Adolfo Menezes concorda com esse pensamento e clama por mais jogadores da base no time principal.
Adolfo também acredita que o Vila Nova precisa parar de contratar atletas de idade avançada, citando o volante Ralf, de 39 anos. Além disso, o torcedor aponta que o Tigre precisa de jogadores que não trabalhem apenas por dinheiro e que entreguem algo a mais ao time. Em sua fala, Adolfo criticou o zagueiro Quintero.
O vendedor João Gibão afirmou que a diretoria precisa ser mais arrojada na parte do futebol, apesar de elogiar a reestruturação do clube.
Quanto à Série B, ele acredita que a obrigação do acesso é para times como Santos, Sport, Goiás e América-MG, que têm dinheiro, segundo João Gibão. De qualquer forma, o torcedor opinou que o Vila Nova é "um time de médio para grande" na Série B e que continua acreditando em um possível acesso.
Um outro torcedor, que se identificou como Barata, trouxe o exemplo do rival Atlético-GO ao dizer que o Vila Nova está começando do zero. Ele reclamou das dívidas antigas, pediu para que o Tigre não participe mais da Copa Verde e fez a projeção para o restante da Segundona, dizendo que o Vila Nova precisa pelo menos permanecer na Série B.
“O meu campeonato é de 45 pontos. Meus amigos brigam comigo, mas eu não quero cair neste ano. Não é época da gente subir. Para um time subir para a Série A, precisa se estruturar. Como vou subir para a Série A se não tenho CT, onde dormir? No dia que o Vila subir, não desce, porque estamos nos reestruturando”, afirmou.
A respeito das críticas à diretoria do Vila Nova, os torcedores se dividiram. Alguns defenderam a atual gestão, outros a avaliaram de forma negativa. No entanto, todos foram categóricos ao dizer que o torcedor precisa ter o direito de se expressar.
“Nós não vivemos em um mundo de ditadura, vivemos em um mundo democrático, todo mundo expressa o que quer. Não pode ter bagunça, briga, quebrar patrimônio, mas uma manifestação pacífica é bem-vinda”, concluiu Barata.