Aos 76 anos, Gal Costa diz ter muitos projetos para tirar do papel. E adivinhe de onde vem esse entusiasmo? "A música me curou e me salvou muitas vezes, me traz energia, me alimenta e me dá equilíbrio. Eu tenho sempre muitos projetos, quero fazer muitas coisas ainda", afirma a cantora, em entrevista por email.
"Eu sou uma artista que gosta de dar saltos na carreira, de inovar e criar rupturas. Eu trabalho ainda porque a música é muito importante para o público, claro, mas é também muito importante para a minha vitalidade", acrescenta.
Mais de dois anos depois de seu último show com público total em São Paulo, cidade onde vive, Gal retorna aos palcos da capital paulista neste fim de semana com o espetáculo "As Várias Pontas de uma Estrela", no Teatro Bradesco.
Neste último um ano e meio de pandemia, a artista fez apenas duas lives -uma em setembro de 2020, em comemoração ao seu aniversário de 75 anos, e outra em maio deste ano. "As lives foram uma substituição para os shows, era uma alternativa para chegar perto do público de alguma forma, mas estar no palco é algo que me arrebata, é uma entidade que me toma", afirma.
O primeiro show que fez após a retomada das atividades culturais foi no mês passado, pela Virada Sustentável, com 40% da ocupação do Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo. Também se apresentou no último dia 16 em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Mas cada show é único, ela diz.
"Estava com saudades do frio na barriga antes de entrar no palco até o show começar. Não via a hora de fazer show de novo, mas com todos seguros e vacinados", conta. "Todo novo show é um desafio, repertório e músicos novos, mas eu gosto. Sempre fiz isso na minha carreira."
O espetáculo, assinado por Marcus Preto, aposta em um novo formato da banda, com baixo, bateria e piano --que substitui o violão. A baiana conta que vai cantar grandes sucessos de sua carreira e, ainda, canções de nomes como Chico Buarque, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Caetano Veloso ("Sorte") e Milton Nascimento ("Paula e Bebeto").
'GOVERNO INCOMPETENTE'
Há quase dez anos morando em São Paulo, Gal Costa conta que passou todo o período de quarentena na capital paulista. "Normalmente sou muito caseira. Claro que não me isolo e me afasto das pessoas, mas sou mais de ficar em casa mesmo. Mas é difícil quando a gente se vê obrigado a ficar em casa, sem escolha", afirma.
A artista celebra o avanço da vacinação contra a Covid-19 e a queda do número de casos da doença no país. "Tenho acompanhado isso com muita alegria. Era o momento que todos nós aguardávamos, para poder sair de casa tranquilos e retomar nossas rotinas de vida", diz.
"Em algumas pessoas eu enxergo uma mudança de pensamento durante esse período que vivemos, mas não em todos, infelizmente. Temos que continuar a ter cuidado com o outro, ouvir sempre a ciência e ter paciência, solidariedade e compaixão", completa Gal.
Sobre o atual momento político do país, a cantora não poupa críticas ao presidente Jair Bolsonaro e repudia a forma como o governo tem conduzido a crise sanitária da pandemia. "Primeiro de tudo, me incomoda muito a incompetência geral desse governo. É um governo com propostas erradas, contra a ciência, contra a cultura, que fecha os olhos para o desmatamento, para as minorias e não percebe que isso afeta a vida de todo mundo. Temos um presidente, na minha visão, com um perfil ditador", afirma.
E continua: "Ele ataca e banaliza a arte, é de uma ignorância e uma falta de consciência imensas. É muito triste. Fico chocada com a falta de informação que ele espalha", ressalta.
Apesar do cenário, Gal diz que ainda sonha com dias melhores. "Tenho esperanças de que em breve as coisas vão mudar, que viveremos dias melhores. Mas por enquanto ele [Bolsonaro] só tem sido maléfico para o Brasil."