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Ana Cañas canta Belchior: “Um diamante com diversos prismas possíveis”

Marcus Steinmeyer
Ana Cañas canta Belchior

Cantar Belchior (1946-2017), um dos maiores letristas da música popular brasileira, com personalidade nunca foi uma tarefa fácil, mas Ana Cañas assumiu o risco em 2021 com o lançamento de um disco e de uma turnê e vem recebendo aplausos justos da crítica e do público pelo projeto. Já em reta final, a artista traz para a capital neste sábado (3) o show Ana Cañas canta Belchior, a partir das 21 horas, no Teatro Goiânia.

O repertório é formado por grandes clássicos da carreira do cearense, como Coração Selvagem, Sujeito de Sorte, Apenas Um Rapaz Latino Americano, Divina Comédia Humana, Alucinação e Como Nossos Pais. “Estar no palco atravessada pela emoção belchiorana e dar voz ao que esse gênio escreveu é uma experiência transformadora. Cantar Belchior é das coisas mais lindas e mais difíceis que já fiz na vida”, disse a paulistana, em entrevista ao POPULAR. Disponível nas plataformas digitais, o trabalho, sexto da carreira da cantora, conta com 14 faixas e ganhou corpo depois da aclamada live que ela fez em agosto de 2020. Confira o bate-papo.

Você retorna a Goiânia para fazer um show depois da fase mais aguda da pandemia. O que os seus fãs podem esperar da sua apresentação?

Vai ser nossa primeira vez na cidade cantando Belchior e tenho certeza que vai ser muito emocionante. Levar o projeto para o palco do Teatro Goiânia, me deixa muito emocionada e tenho certeza que vai ser uma noite linda. O público pode esperar um repertório cheio de clássicos e alguns lados B também, uma banda afiada do amor e a minha entrega absoluta. Estou contando as horas.

Quando surgiu o seu interesse em cantar Belchior, gravar um disco e colocar o show na estrada?

Eu já vinha cantando Alucinação nos meus shows há bastante tempo, mas tudo ficou maior durante a pandemia. Resolvemos levantar uma live com as canções do Belchior e, até aquele momento, eu imaginava que seria apenas uma apresentação on-line. Mas a repercussão do público e as milhares de mensagens que recebi me mostraram que eu tinha que gravar o disco. Quando foi possível, fomos para a estrada e tem sido uma trajetória muito linda até aqui.

Como foi o processo de escolha do repertório para o álbum Ana Cañas canta Belchior?

O processo de escolha foi baseado nas minhas canções favoritas, as que mais me emocionam e me tocam. Só é possível emocionar alguém se a gente se emociona primeiro, então esse foi o critério principal. Sobre os arranjos, o disco foi gravado durante a pandemia, então trazem um sentimento mais recolhido e minimalista. Em breve vamos lançar a segunda fase do projeto, com o DVD e o disco Ao Vivo. Neles, os arranjos mudaram, são mais ‘para fora’, com a banda completa. Eles reverberam um novo momento com novas leituras e o show em Goiânia será nessa vibe.

Qual foi o seu grande desafio ao interpretar o cancioneiro de Belchior, que tem um estilo único e inconfundível?

A poesia de Belchior é muito profunda, metafísica e existencial. Ela nos atravessa de um jeito único. Estar no palco atravessada pela emoção belchiorana e dar voz ao que esse gênio escreveu é uma experiência transformadora. Cantar Belchior é das coisas mais lindas e mais difíceis que já fiz na vida.

Como Nosso Pais foi imortalizada na voz de Elis Regina. Você não teve medo de comparações ao escolher a faixa para o repertório?

Tive. Considero as gravações dela perfeitas, eternas. Precisei encontrar outros caminhos em que eu pudesse expressar meus próprios sentimentos e vivências. Pessoalmente, reverencio Elis como a maior intérprete da nossa história, então foi um desafio imenso. Mas descobri que não existe competição, muito pelo contrário, é uma soma e troca. Belchior é um diamante com diversos prismas possíveis.

Belchior sempre fez parte da sua trilha sonora? Qual o disco que você mais gosta da obra dele?

Vou confessar que nem sempre. Minha descoberta se deu há alguns anos. Belchior entrou na minha vida ainda na adolescência, mas pela voz de Elis Regina. Meu disco favorito é Alucinação, de 1976, uma obra-prima. Escolho esse pelas canções, arranjos, pela visceralidade e verdade. Foi gravado em poucos dias. Esse disco reverberará para sempre. Ele foi gravado numa moldura histórica contextual de cerceamentos, ditadura, AI-5. É muito corajoso e defende valores humanos de um jeito necessário, contundente e avassalador.

Depois deste mergulho no universo de Belchior já que a turnê está chegando ao fim, você pretende voltar a produzir trabalhos mais autorais ou pensa em um novo projeto de interpretação?

Quando fizemos a live eu já estava em processo para um novo disco autoral, mas a força do projeto de interpretar a obra do Belchior fez com que os planos mudassem. Agora vamos lançar o DVD e o disco ao vivo, que têm uma proposta sonora bem diferente. E sim, um novo projeto futuro já está sendo gestado, ainda muito sutilmente. Deve misturar intérprete e compositora. Mas não posso contar ainda.

Qual a avaliação do 2022 de Ana Cañas e a expectativa para 2023?

Foi um ano lindo, pois foram 80 shows pós-pandemia com essa turnê. Vivi emoções que nunca esquecerei. Mas também um ano difícil, retalhado por uma escolha política decisiva. A luz venceu e agora podemos retomar um projeto democrático alvissareiro para a cultura, para o povo brasileiro. Que 2023 venha repleto de oportunidades para todos e que retomemos a potência do povo mais afetuoso do mundo.

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