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Atrizes de Rensga Hits comentam falta de representatividade negra no sertanejo

Gleik Suelbe
Jeniffer Dias: "'Quem do sertanejo você ama, quem é a sua referência?’. Não tinha, não vi ninguém parecido comigo”

Jeniffer Dias, de 31 anos, teve um desafio e tanto ao ser escalada para a série Rensga Hits, que estreia nesta quinta-feira (4) no Globoplay. A atriz, que interpreta a cantora Thamyres, teve dificuldade de encontrar referências negras no universo abordado pela série, o do sertanejo.

Na trama, ela faz dupla com o irmão, Theo (Sidney Santiago). “Eles são uma dupla sertaneja preta, eu nunca tinha visto antes”, lamenta a atriz em bate-papo com a imprensa. “Sou carioca, do samba, um dia me perguntaram: ‘Quem do sertanejo você ama, quem é a sua referência?’. Não tinha, não vi ninguém parecido comigo.”

A partir dessa constatação, ela começou a pesquisar mais a fundo a questão. Chegou a conversar com as irmãs Barbosa e encontrou poucos outros exemplos, como Cascatinha e Inhana, Rick (dupla de Renner) e João Paulo (que foi dupla de Daniel até morrer em um acidente em 1997). “Todo esse processo foi de busca. Quem veio antes e a mídia não quis mostrar?”, questiona.

Jeniffer comemora que, na produção, teve uma personagem com muitas camadas, tanto que diz ter dificuldade para defini-la em poucas palavras. “Ela é muito complexa, assim como nós”, afirma. “A gente é tanta coisa.”

“Ela é potente, uma artista sensível, grandiosa, que se valoriza, que sabe do seu tamanho e por isso ela se escolhe”, adianta. “Thamyres me lembra muito a força e a sensibilidade das mulheres que apesar das adversidades conseguiram dar a volta por cima de alguma forma.”

Um dos principais conflitos da personagem será ao descobrir que ganha menos que o irmão, mesmo sendo a voz principal da dupla. A atriz afirma que isso faz com que ela passe por um misto de emoções muito grande, algo que ela se permitiu viver na ficção – na vida real, relata, muitas vezes precisa se segurar para não cair em estereótipos reservados às mulheres pretas.

Maíra Azevedo (a Tia Má), que está na série como a personagem Carol, faz coro. “Existe uma angústia que é ser uma mulher preta consciente em qualquer trabalho e levei isso para o set”, lamenta ela. “Em vários momentos estou pensando em como algo vai soar.”

Ela relata que, em uma cena específica, precisava se referir a Raíssa (personagem de Alice Wegmann) como “nega”. “Pedi para regravar por poder ter outra conotação”, afirma. Outro momento que a deixou pensativa foi uma fala em que precisava ficar do lado de Raíssa em uma discussão com Thamyres. “O correto seria Carol defender Raíssa”, afirma.

A atriz e influenciadora digital avalia que isso acaba tirando sua leveza. “Eu tive de levar muito dos meus estudos e da minha conciência para o set”, argumenta. “Nunca vou conseguir ser uma boa atriz por completo porque a militância vem na frente.”

Tia Má confidencia que disse à própria terapeuta como estava a ansiedade com a série. “Antes de estar feliz, eu estou preocupada”, conta. “Isso porque qualquer deslize na série vão cobrar muito mais de mim do que de qualquer outra atriz.”

Para ela, foi um alívio ver que as personagens negras são muito bem construídas na trama. “O mais legal é que são humanizadas”, argumenta. “São mulheres que têm suas histórias contadas, são humanas, com falhas e qualidades. Carol não é só boazinha, assim como Thamyres. Também não são vilãs. São mulheres reais.”

Na série, a personagem de Tia Má é a dona do Espetinho da Carol, um bar com música ao vivo onde muitos sertanejos de sucesso cantam antes da fama. “O bar é onde tudo acontece, todas as tramas passam em algum momento por aquele lugar”, celebra.

Além de abrir espaço para os artistas, Carol é quem acaba as encaminhando na carreira. “Ela tem a certeza de que quem de fato descobre os talentos de Goiânia é ela”, comenta. “Ela acha que sabe quem é talento e para qual empresária deve ir.”

“Ela é tão altiva quanto Marlene e Helena”, destaca referindo-se às empresárias musicais vividas por Deborah Secco e Fabiana Karla na série. “Mesmo com o pano de prato no ombro. Ela tem certeza de que consegue mudar o mundo com seu bar.”

Gleik Suelbe
Maíra Azevedo: "Nunca vou conseguir ser uma boa atriz por completo porque a militância vem na frente”
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