Após polêmica sobre um possível cancelamento do horário de verão por decisão do Governo Federal, o período em que os relógios deverão ser adiantados em uma hora terá início neste domingo, 15. Com a medida mantida, pelo menos por este ano, aqueles que têm dificuldade de se adaptar ao novo horário vão precisar encontrar alternativas para encarar a mudança sem tanto sofriments, já que o organismo pode demorar até uma semana para se ajustar à nova rotina.
A opinião da médica do trabalho Patrícia Montalvo Moraes é que o nosso relógio biológico, se adapta, aproximadamente, entre uma e duas semanas ao horário de verão. Segundo ela, não existem estudos concretos que avaliem o custo-benefício da implantação do novo horário no âmbito laboral, mas a profissional lembra que dormir menos faz com que indivíduos levem mais tempo para se concentrar. "Essa desatenção pode gerar retrabalhos, demora para conclusão de tarefas simples , diminuição da produtividade e pode acarretar até mesmo em acidentes no seu ambiente de trabalho”.
Em contrapartida, os efeitos da mudança são comprovados pela Medicina. De acordo com a médica, a adaptação ao horário de verão varia muito de cada pessoa e depende da predisposição genética de cada indivíduo. “Existem pessoas de perfis matutino e vespertino, as quais apresentam rendimento melhor nesses horários. Por exemplo, os indivíduos vespertinos ganham uma hora a mais de luz durante o dia para aproveitar o período em que são mais produtivos e com o pôr do sol mais tarde, a maioria deles consegue render mais no horário de verão. Os indivíduos matutinos vão dormir também mais tarde, mas por estarem acostumados, acordam cedo, ou seja, reduzem o tempo de sono.
Para o neurologista Luciano Ribeiro, presidente da Associação Brasileira do Sono, a dificuldade de adaptação pode variar muito entre as pessoas, especialmente para quem tem de acordar em um horário fixo ou para pessoas mais velhas. “Se você pensar nos idosos, são pessoas que já têm problema de ritmo, porque isso envolve o que a gente chama de ritmo biológico”, afirma o médico. “Mas a maioria das pessoas se adapta a mudança no relógio em cinco ou sete dias”.
A adaptação necessária não é tão grande como em situações de jet lag, por exemplo, quando a pessoa cruza muitos fusos horários em pouco tempo e o ritmo de vigília e sono é totalmente invertido. Nesse caso, o neurologista acredita que há um comprometimento de todo o organismo. “Não é só o problema do sono, a gente pode ter sintomas físicos até nosso relógio se adaptar a um novo horário”, afirma.
Maria Onilde Araújo Silva (58) é auxiliar de limpeza na obra do Sinfonia Eco Design. Ela levanta às 4h da manhã todos os dias para pegar o ônibus no Setor Colina Azul, em Aparecida de Goiânia. Para ela, a rotina fica ainda mais pesada com o horário de verão. “Eu não gosto desse horário de jeito nenhum. Sinto indisposição, cansaço e até fadiga e, quando o organismo começa a adaptar, já está voltando ao horário normal. Toda vez que tem horário de verão, vou cochilando no ônibus de casa até o trabalho, é muito penoso”, conta.
Ainda assim, existe uma interação entre o horário de verão e os momentos nos quais os hormônios são produzidos que pode causar problemas durante o período de adaptação.
De acordo com o médico endocrinologista Bruno Halpern, estudos mostram que o índice de infartos aumenta na semana em que o ajuste é adotado, consequência de o organismo ser obrigado a acordar em um momento no qual ainda não está pronto, dessincronizando o ritmo biológico interno.
"Dependendo de como é o nível dos hormônios quando você acorda, somos obrigados a aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca muito rapidamente, isso pode aumentar a chance de infarto nesse primeiro momento", afirma.
Para prevenir essa situação, ambos os médicos recomendam que as pessoas tentem ir se adaptando à mudança gradativamente dias antes da mudança de horário, acordando um pouco mais cedo a cada dia.
Também devem fechar o ambiente e apagar todas as luzes à noite, antes de dormir, para que o corpo entenda que já está na hora de descansar. Já durante a manhã, todas as janelas devem ser abertas para que o corpo entenda que deve despertar.
Além disso, é importante evitar o uso de computador e celular antes de ir para a cama, pois esses aparelhos emitem luzes que dificultam a produção de melatonina, o hormônio que induz o sono. “Quanto mais tarde a gente começa a produção de melatonina, mais dificuldade vai ter no dia seguinte”, diz Halpern.
Outra dica é aproveitar o dia com mais horas de sol para fazer exercícios. Para o educador físico Aylton José Figueira Junior, essa é uma tendência entre as pessoas, que veem no horário de verão uma maneira mais prazerosa de praticar atividade física, considerando que as horas no final da tarde são as mais amenas, com um menor impacto da temperatura do ambiente sobre nosso corpo. “Por isso os países que têm mais tempo de luz, como os da Europa, por exemplo, são também os países mais ativos fisicamente", afirma.
O adiantamento do relógio em uma hora causa estranheza para o trabalhador Weliton Silva, atuante no ramo da construção civil em Goiânia. Weliton diz sentir muita dificuldade para se adaptar ao novo horário, principalmente pela manhã porque normalmente se levanta às 5h30 e, a partir de domingo (15), o despertador vai tocar às 4h30. Ele bate o ponto no trabalho às 7h. “O dia se torna mais cansativo porque levantamos mais cedo. Parece pouco uma hora, mas no final das contas faz uma grande diferença”, conta.
A sugestão do educador é que as pessoas aproveitem o período mais prolongado de sol para fazer atividades ao ar livre, como caminhar, pedalar e andar de patins.
Economia de energia
Criado em 1931 com o objetivo de reduzir o consumo de energia elétrica nos meses mais quentes do ano, o horário de verão vale 10 estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.