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Café é a desculpa mais habitual dos goianos para reunir a família na mesa

Fábio Lima/O Popular
Marista Teixeira: “Nós, goianos, preferimos aquele velho café coado nos coadores de pano”

Se tem uma paixão que o goiano gosta de perdurar é o bom e velho cafezinho, aquele passado na hora, tomado em xícara esmaltada e acompanhado do bom bolo de fubá ou biscoito de queijo.

Nas casas de vó, nos almoços de domingo, nas fazendas e sítios, em algum estabelecimento comercial, das cidades do interior à capital, o café é presença garantida nas mesas do lanche. Geralmente de paladar mais adocicado, o cafezinho do goiano é quase comparado ao melado pela forte presença do açúcar na hora do preparo.

As lembranças do cheiro de café coado em Minaçu, cidade localizada no norte goiano, ainda são guardadas com carinho pela barista Marister Teixeira Rodrigues, 36. Ao longo dos anos em que trabalha com gastronomia, a profissional percorreu diversos lugares do mundo provando cafés e experimentando novos sabores. Esteve em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Áustria e Liechtenstein, mas diz que nada se compara ao bom e velho cafezinho de Goiás.

“Nós, goianos, preferimos aquele velho café coado nos coadores de pano porque é uma tradição muito antiga passado de geração a geração. O café tem como objetivo reunir com quem queremos agradar”, conta Marister. A barista diz ter aprendido a tomar o cafezinho sem açúcar rotineiro em países da Europa. Ainda assim, não deixa de apreciar o café coado. “Nos remete às lembranças de amor e carinho em cada cheiro de café fresco”, rememora.

Mesmo com tamanha devoção ao café mais adocicado, Marister explica que os goianos, pouco a pouco, têm mudado os hábitos de tomar a bebida. “É uma questão de gosto. Por conta do amargo da cafeína, os goianos preferem os mais doces e o tradicional café coado para comer com um pão de queijo quentinho ou um queijo mineiro fresco”, destaca a profissional.

Carinho

Tomar e servir café faz parte de uma cultura gastronômica dos tempos coloniais de Goiás. A barista goiana Amanda Lobo Vaz, de 22 anos, vê o hábito do cafezinho entre os goianos como uma demonstração de afeto, uma pausa estratégica no dia, uma oportunidade de conversar e conhecer novas pessoas. “Acredito que são atitudes por trás do café que fazem nós goianos apreciarmos tanto a bebida”, diz.

Há quem diga que é uma missão impossível tomar um café sem açúcar pela manhã ou no meio da tarde. Apesar do hábito estar implícito no paladar goiano, diversos motivos justificam o uso de açúcar ou de outro adoçante na bebida.

“Esses cafés mais comuns são torrados quase a ponto de carvão para tentar esconder as impurezas, resultando em uma bebida extremamente amarga e intensa, sendo passível de consumo apenas com adição de bastante açúcar para mascarar o gosto de borracha queimada que ela tem”, salienta a profissional.

Nascida em Goiânia, cidade recheada de cafezinhos e lanchonetes especiais que servem diferentes tipos de cafés, Amanda já experimentou uma infinidade de sabores, tanto de outras regiões brasileiras quanto de diferentes países: com notas de chocolate, caramelo, frutas e até flores; encorpados ou não, muito ou pouco ácidos, bem doces ou mais tímidos.

A conclusão a que a profissional chegou é de que o café vai muito além do sabor. “Eu, pessoalmente, gosto do café que eu sei de onde vem, que foi produzido com respeito ao solo e a todos os indivíduos que fizeram parte do processo. Gosto de café, mas gosto ainda mais das pessoas por trás dele”, enfatiza.

Na companhia certa 

Bolo de fubá, milho ou mané pelado. Biscoitinho e pão de queijo. Doce de leite, bolacha de nata ou cural. São diversos os acompanhamentos do goiano na hora de tomar o cafezinho passado na hora.

De acordo com a cozinheira Esther Nogueira, 57, a dica é aproveitar o gosto mais amargo da bebida, e misturar os sabores com as diversas iguarias que Goiás tem em sua gastronomia. “O café é uma espécie de digestivo após o almoço, no café da manhã ou mesmo no lanche da tarde. Tomar um cafezinho e comer uma pamonha assada, por exemplo, é hábito que o goiano mantém há séculos”, diz.

Wildes Barbosa/O Popular
Amanda Lobo Vaz: “Acredito que são atitudes por trás do café que fazem nós goianos apreciarmos tanto a bebida”
Sirisak Boakaew/Getty Images
Gosto mais amargo do café pode ser misturado com sabores das diversas iguarias que Goiás tem em sua gastronomia
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