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Casa modernista abrigará Cerrado Galeria de Arte em Goiânia

Wesley Costa / O Popular
Marco da arquitetura moderna de Goiânia, casa erguida em 1955 é assinada pelo arquiteto David Libeskind

Rua 84, Setor Sul, quadra F-15, coladinha com a Praça Cívica. Quem passa pela portentosa casa escondida entre muros e um emaranhado de plantas nem imagina que, nos próximos meses, o local abrigará um novo projeto de artes visuais que promete agitar a cena cultural de Goiânia. Batizada de Cerrado Galeria de Arte, a ação encabeçada pelos galeristas Lúcio Albuquerque, Antônio Almeida e Carlos Dale começa a ganhar forma com obras de adaptação do imóvel para receber um ponto fixo de arte na capital.

Assinada pelo arquiteto e artista gráfico David Libeskind - o mesmo do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo -, a casa foi erguida em 1955 e é um marco da arquitetura moderna de Goiânia. Desde 2019 que a residência estava sem uso: anteriormente, foi sede do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan Goiás).

Para transformar a antiga habitação em galeria de arte, os galeristas que tocam o projeto convidaram o arquiteto Leo Romano para a adaptação do espaço de 2.154 m2. A ideia é de que a Cerrado Galeria, com previsão de lançamento para final de abril, possa ser uma vitrine para a produção local e um espaço de intercâmbio entre artistas de outras regiões brasileiras.

“O desejo é sair do eixo Rio-São Paulo e criar conexão com o Centro em busca de um verdadeiro Brasil. É por isso que batizamos a galeria de Cerrado”, adianta Lúcio Albuquerque, da Casa Albuquerque Galeria, em Brasília (DF), e Celma Albuquerque Galeria de Arte, em Belo Horizonte (MG). “Queremos também fazer exposições de artistas brasileiros importantes que não tiveram a oportunidade de exporem seus trabalhos em Goiânia”, completa.

Junto aos galeristas Antônio Almeida e Carlos Dale, da Almeida e Dale Galeria, também na capital federal, os produtores desejam enfatizar e valorizar o que se produz em Goiás, e criar formas para que Goiânia esteja inserida na rota da arte brasileira. Os três galeristas mantêm projetos importantes em Brasília e já produziram outras exposições, a exemplo da Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos, em 2016.

Em processo de obras, a galeria deve estrear ainda neste semestre com uma exposição especial de Siron Franco. Depois, a ideia é de que a casa possa ser referência em exposições, muito além do formato comercial, mas priorizando a relação cultural com escolas, centros universitários e artistas goianos que desejam desenvolver pesquisas artísticas.

“Toda a equipe que vai estar na galeria é de Goiânia. O nosso desejo é levar o que a região produz para fora, além de mapear a produção local, oxigenando o trabalho dos artistas mais jovens”, explica Lúcio. O projeto é desafiador: com uma galeria maior no primeiro andar da parte interna e aproveitamento do jardim para uma praça com exposições de esculturas e instalações, o segundo piso será destinado a exposições menores e de acervo.

Memória

Os trabalhos estão a todo o vapor e a ideia é de que a casa ainda se mantenha nos mesmos moldes de quando foi construída por David Libeskind. O projeto apresentado por Leo Romano valoriza as formas originais do imóvel, mas adapta a residência para o formato de galeria. “A ideia é devolver a casa para a cidade”, salienta o arquiteto. Para o profissional, o local estava ocultado por plantas e pela falta de manutenção.

“Acredito que, para além da casa, há um desafio de inserir de novo Goiânia no circuito das artes plásticas. As galerias que sobraram na cidade tem um apelo mais comercial. Acredito que o projeto vem com o papel de recolocar a capital goiana no centro de consumo de arte brasileira”, opina Leo Romano. No projeto desenvolvido pelo arquiteto, a casa é incorporada à cidade, de portas abertas para o público.

Com a reforma para a implementação do BRT, as calçadas da Rua 84 acabaram sendo encurtadas. Muito além do urbanismo, os problemas recorrentes do Centro da cidade, como a falta de segurança, acabaram deixando a região abandonada. “A Cerrado Galeria devolve para a cidade um patrimônio revigorado. É um exemplo da iniciativa privada fazendo seu papel de resgate. Que sirva de exemplo para outros elementos arquitetônicos de Goiânia, como a Av. Goiás”, diz Leo Romano.

Joia modernista

“A casa da Rua 84 é um marco da arquitetura goianiense”, adianta a arquiteta Julia Mazzutti Bastian Solé, mestre em Patrimônio Histórico pela Universidade de Brasília (UnB) e que está na gerência da Cerrado Galeria de Arte. A proximidade com a Praça Cívica, as formas modernistas e a integração das artes na composição do espaço da antiga residência representam o período arquitetônico da década de 1950, quando a cidade estava em pleno desenvolvimento. 

“Acredito que o novo uso como galeria de arte é extremamente benéfico para a cidade e para a preservação patrimonial, ao promover a conservação de elementos históricos do espaço”, explica Julia. Para as obras de adaptação da casa, a pesquisadora conta que existe um cuidado de preservação patrimonial, como a recuperação do jardim e a manutenção e destaque dos azulejos desenhados pelo arquiteto Daniel Libeskind. “A função de galeria vai permitir que a casa seja frequentada por todos os moradores e visitantes da cidade”, diz.

Wesley Costa / O Popular
Jardim com praça receberá exposições de esculturas e instalações
Wesley Costa / O Popular
Detalhes: “A ideia é devolver a casa para a cidade”, diz o arquiteto Leo Romano
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