Na última semana, o cantor Naldo Benny fez um desabafo em suas redes sociais e alertou os seguidores para os riscos da rinomodelação, intervenção estética não cirúrgica que causou um princípio de necrose do seu nariz. O procedimento foi realizado para alterar o seu dorso nasal e a ponta do nariz com aplicação de ácido hialurônico de alta densidade. Segundo Naldo, ele estava fazendo um clareamento com um profissional que sugeriu que ele passasse pela intervenção. Dias depois, ele precisou ir ao hospital por causa das complicações.
Desde então, o cantor tem dividido o tratamento que vem fazendo nas postagens. “Estou na segunda sessão da câmara hiperbárica. Vou botar a máscara agora e fico por uma hora e meia”, disse. A câmara hiperbárica é um tratamento baseado na respiração de oxigênio em grande quantidade, num local com pressão atmosférica mais elevada do que no ambiente normal. O artista também contou que um dos medicamentos prescritos foi o uso de Viagra, que promove uma vasodilatação, e um anticoagulante.
“O maior risco em um procedimento de rinomodelação está relacionado à obstrução vascular, considerando que a região do nariz tem uma limitação de vascularização. Então, qualquer excesso de material ou material colocado no local inadequado pode promover uma compressão ou obstrução completa dos vasos”, explica a cirurgiã dentista, doutora em reabilitação oral e especialista em harmonização orofacial, Talita Dantas. “Além disso, por ser uma região muito próxima à região dos olhos, essas complicações quando não tratadas adequadamente podem evoluir para uma cegueira, inclusive”, alerta.
O procedimento estético é uma alternativa à rinoplastia (cirurgia plástica) realizada com ácido hialurônico, um componente biocompatível e seguro para o organismo. O PMMA ainda é utilizado por alguns profissionais, apesar de ser contraindicado, porque sua aplicação é irreversível.
Para se ter uma boa conduta na execução da rinomodelação, a biomédica estética Bruna Rodrigues elenca três pilares principais. “Primeiro, o paciente ter indicação para fazer a intervenção, já que alguns casos possuem indicação para rinoplastia e não rinomodelação”, diz. O segundo é a utilização de bons produtos. “Utilizar sempre ácido hialurônico de reticulação (espessura) específica para a região do nariz que, nesse caso, precisa ser mais firme. Sabemos que existem diversos produtos no mercado, principalmente os ‘baratinhos’, como O PMMA, mas que é contraindicado”, aponta.
Por último, Bruna destaca que o profissional precisa conhecer bem a anatomia facial. “A região da face é de extrema vascularização, principalmente a região nasal. Ali encontramos as artérias do dorso e lateral de nariz e artérias que se anastomosam, como a artéria carótida”, aponta. O procedimento é realizado em consultório e dura cerca de 30 minutos, sendo necessária apenas uma anestesia tópica. “E, de verdade, não dói quase nada. O retoque é feito geralmente uma vez por ano”, explica.
No caso de Naldo, Talita Dantas explica que alguns fatores podem ter levado a esse princípio de necrose. “Existem instrumentos que tornam o procedimento mais arriscado, como o uso de agulhas. A quantidade de produto injetado também pode ocasionar uma compressão vascular, enquanto a agulha pode ter causado uma obstrução que não foi detectada no momento”, explica.
Ela também avalia que houve falta de comunicação entre o paciente e o profissional, já que a intercorrência demonstraria diversos sinais antes de evoluir para uma necrose, que é uma complicação mais séria, causada pela falta de suprimento sanguíneo e morte dos tecidos. “Rinomodelação é um procedimento em que o profissional precisa estar atento na hora e precisa monitorar após. Ele não pode realizar a rinomodelação e dar tchau para o paciente”, destaca. “Para que a situação chegue a uma necrose, algumas coisas acontecem antes e é possível intervir no momento adequado para evitar um dano que seja irreversível.”
Ela aponta que alterações ou complicações menores, como hematomas e inchaços, podem acontecer e que o tecido sinaliza essa obstrução vascular que precede a necrose. “Após a injeção do produto, o profissional bem treinado já consegue saber se houve uma obstrução pela coloração do tecido ou pela presença de dor aguda. É extremamente importante que, nas primeiras quatro horas, o paciente seja monitorado pelo profissional, ou ficando no consultório ou sempre mandando fotos”, pontua.
“Caso o paciente perceba a região esbranquiçada após o procedimento, que significa a falta de circulação sanguínea no local, já se inicia uma isquemia. Em seguida, essa região ficará escura, com pontos negros, iniciando a fase da necrose. Nos dois casos, o paciente deve entrar em contato com o profissional que realizou o procedimento”, aponta Bruna Rodrigues.
Bons profissionais
Os riscos existem, as complicações podem acontecer, mas há também os casos de sucesso em que os pacientes saem satisfeitos com o resultado da rinomodelação, uma das intervenções alternativas às cirurgias plásticas. De acordo com relatório da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery), que considera apenas procedimentos realizados por cirurgiões plásticos, entre 2016 e 2020 o uso de procedimentos não-cirúrgicos injetáveis registrou um aumento de 24,1% no Brasil, enquanto que as cirurgias plásticas para fins estéticos diminuíram 10,9% em 2020. “É claro que cada caso é um caso e deve ser feita uma consulta com um profissional da saúde habilitado à prática de procedimentos estéticos para indicar qual protocolo de tratamento deve ser realizado. Mas, hoje, já existem soluções não-cirúrgicas que podem trazer resultados tão refinados e satisfatórios quanto os de cirurgias”, esclarece a cirurgiã plástica Ingrid Paula Luckmann.
“A primeira vez que eu fiz rinomodelação foi há uns três anos, mas eu não fiz com ácido hialurônico, fiz com fios de sustentação. A minha queixa é só a ponta do nariz, que é um pouquinho caída”, conta Ana Clara Brathwaite, biomédica esteta. “Eu gosto de empinar o meu nariz, mas não uso nenhum material para melhorar o dorso. Agora, há uns três meses, fiz a rinomodelação com ácido hialurônico e gostei muito do resultado. O meu pós-procedimento foi super tranquilo, praticamente indolor, porque eu mexi pouco no nariz, que é uma região muito sensível”, conta. Ela explica que, no seu caso, a ideia era dar uma pequena “lapidada” no nariz. “Mudou bastante o meu perfil, que era o meu maior incômodo”, diz.
Já Rachel Santana de Matos Miguel, de 35 anos, sempre quis melhorar esteticamente o seu nariz, mas tinha medo do pós-cirúrgico da rinoplastia. “Achei na rinomodelação uma solução para o meu incômodo mais simples e menos invasiva, além de ter uma recuperação melhor”, conta. “Sempre tive receio de mexer no rosto, então pesquisei muito antes de realizar”, diz. “Gostei muito do resultado e a minha recuperação foi como o esperado, bem rápida. Não tive nenhuma intercorrência e todas as dúvidas foram solucionadas com a profissional que realizou.”