É só o DJ João Marcos Teixeira, 28, assumir a CDJ para as músicas de Madonna incendiarem a pista de dança. Fã incondicional, o goiano tem um encontro marcado neste sábado (4) com a cantora, que faz uma apresentação especial de encerramento da The Celebration Tour em megaestrutura montada na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. “Espero que seja o melhor show da minha vida e eu tenho certeza que vai ser, porque estamos falando da rainha do pop”, diz.
João Marcos não viveu os tempos em que Madonna explodiu com canções dançantes marcadas por sintetizadores, como Holiday e Like a Virgin. O DJ, na verdade, não era nem nascido. Madonna surgiu no início dos anos 1980 como uma força estridente e, ao longo das décadas, acompanhou as transformações na indústria. Não por menos, o show deste final de semana celebra os 40 anos de muito trabalho e conquistas.
“Eu vou para o Rio exclusivamente para ver o show. A acompanho desde pequeno, mas nunca consegui ir a uma apresentação, então a minha expectativa é a mais alta possível. São 40 anos de carreira. Madonna escolheu o Brasil para poder encerrar essa turnê”, diz João Marcos. A música preferida do DJ é Nothing Really Matters, que integra o disco Ray of Light (1998), canção que abre o espetáculo seguida por hits atemporais, como Vogue, Hung Up, Erótica, Like a Prayer e Music.
Desde outubro do ano passado que Madonna roda o mundo com a turnê. Passou pela Europa, pingou por cidades dos Estados Unidos, desceu para o México e, desde a segunda-feira (29), a cantora e sua comitiva aportaram no Brasil. Vieram os seis filhos e uma equipe que toma conta de 90 quartos do Copacabana Palace. A ideia do show é rememorar e celebrar o legado de uma artista que enfrenta tabus, levanta bandeiras e ainda hoje, aos 65 anos, rebola a bunda e faz todo mundo dançar.
“O principal legado da Madonna foi quebrar as barreiras da música, principalmente para as mulheres. Ela abriu portas para diversas outras divas pop, falou sobre coisas que não podiam ser faladas antes, defendeu os direitos dos LGBTs lá atrás quando ninguém queria falar sobre isso”, defende o DJ, que conta as horas para o dia tão esperado. “Vai ser incrível, vai ser histórico e eu vou estar lá presenciando esse momento. Isso é impagável”, completa o goiano.
Tributo
Será a primeira vez que João Marcos vai presenciar a performance de Madonna, cenário muito diferente da jornalista goiana Elaine Freitas, de 46 anos, que já foi em 16 shows da rainha. Só dá Celebration Tour, a fã assistiu duas apresentações seguidas em Miami, nos Estados Unidos. “Já vi shows da Madonna no exterior e no Brasil e posso dizer que há uma diferença enorme no calor da plateia. Não estou com muita expectativa de ver de perto porque para isso teria de acampar na praia, mas estou muito feliz porque tenho um grupo de amigos que conheço há cerca de 20 anos e vou encontrá-los”, explica Elaine.
LPs, camisetas, sapatos, livros, pôsteres e outros mimos de Madonna tomam conta da casa de Elaine. Em 2012, a jornalista foi convidada por uma editora para escrever um livro sobre os detalhes da carreira da artista, desde os tempos em que vivia de favores e com alguns poucos trocados em Nova York (EUA). No Tributo a Madonna (Universo dos Livros), a escritora compara as fases da cantora com as suas próprias enquanto uma fã que foi acompanhando cada transformação da vida da estrela.
“Eu cresci junto com ela. Evoluí. Ficamos grávidas na mesma época. As fases são muito diferentes entre si, mas assim é a vida. A experiência de ser fã mudou muito nesses 35 anos”, comenta Elaine, que tem Hung Up como a música de sua vida e o disco Confessions on a Dance Floor como a “bíblia da música pop”. “2005 foi uma época muito difícil pra mim e Madonna veio com um álbum dançante e com várias letras de autoaceitação e incentivo”, reitera a escritora.
Sobre os 40 anos de Madonna firme na indústria, Elaine diz que o legado da artista é incalculável, tanto em questões da música quanto da cultura e dos discursos políticos. “Sem dúvida ela é a maior artista pop de todos os tempos junto com Michael Jackson e não acredito que esse reinado será superado por ninguém. Muito disso se deve ao fato de ela saber se reinventar como ninguém”, rasga a seda a fã de carteirinha.
Quem é essa garota?
O ano era 1983 e no Cinema 1, o então point juvenil mais badalado de Goiânia, no Setor Oeste, o que se via era um amontoado de meninas vestidas com laços na cabeça, pinta à lá Marilyn Monroe e badulaques pendurados no pescoço. Todos queriam se vestir como Madonna, garota de pouco mais de 20 anos que eclodia nas rádios e programas de TV em hits animados como Holiday, Lucky Star e Borderline. Anos depois e a artista, com seus 65 anos - muito bem e obrigado - atravessou décadas, acompanhou tendências, bandeiras e formatos.
Madonna sempre manteve a personalidade forte, levantou debates e percorreu caminhos entoados pela voz fina e rouca, em uma indústria fonográfica presidida por homens. Os mais jovens podem até não saber de seu legado, mas está vivo e presente em qualquer cantor, cantora ou grupo musical que toque na pista de dança. A cantora transformou o gênero do pop e, década a década, incorporou estilos próprios, seja no vinil, cassete, CD ou streaming.
Símbolo do apogeu feminino sob o próprio corpo, em estilo, moda e comportamento, Madonna ainda tem muito o que falar. Não por menos, no show que a artista traz para o Brasil, ela faz embates sobre o corpo e a sexualidade, a fé e o amor em tempos de ódio, a liberdade, os amigos e conhecidos vítimas da aids nos anos 1980 e 1990 e, como uma força da natureza, convida todo mundo a celebrar.