Considerado o marco inaugural da literatura ocidental, a Ilíada, de Homero, terá dois de seus 24 cantos apresentados em uma montagem nesta quinta-feira (6), às 21 horas, no Teatro Madre Esperança Garrido, dentro da programação do Aldeia Sesc de Artes. No palco, Letícia Sabatella e Daniel Dantas realizam a encenação com direção de Octavio Camargo, da Cia. Ilíadahomero. Recitado há séculos, o texto, que narra acontecimentos do último ano da guerra entre gregos e troianos, foi escrito entre 800 e 700 a.C. O projeto marca a primeira parceria profissional dos atores, que começaram a namorar em 2019.
“O meu canto é totalmente diferente do da Letícia, mas por acaso eles são complementares”, adianta Dantas, que apareceu pela última vez na telinha em "Um Lugar ao Sol" (2021).
Daniel encena o Canto 1, sobre o confronto interno entre os próprios gregos do início da negociação ao despertar da ira de Apolo. É nesse momento que o guerreiro Aquiles briga com o líder Agamemnon e decide deixar a guerra por se sentir desprestigiado dentro da tropa. No Canto 20, com interpretação de Letícia Sabatella, os deuses recebem a permissão de Zeus para tomar partido no conflito, o que marca o retorno glorioso do maior guerreiro grego para vingar a morte do amigo, Pátroclo, derrotado em combate pelo príncipe de Troia, Heitor.
“É um espetáculo denso, com uma linguagem complexa, mas que deixa a plateia envolvida do começo ao fim por ser um resumo do nascimento da civilização e da formação da alma humana”, avalia Daniel. Ilíada é também um prato cheio para o exercício de seu ofício porque a adaptação oferece a possibilidade de navegar por diversos gêneros, como comédia, drama e tragédia. “A peça é bastante desafiadora e enriquecedora ao mesmo tempo. Fazemos com muito prazer. Está sendo maravilhoso dividir o palco com a Letícia”, reforça.
O diretor Octavio Camargo usa como base a aclamada tradução em verso do jornalista e político maranhense Manuel Odorico Mendes (1799-1864), primeiro tradutor da obra do pensador grego para o português. O seu texto é famoso pelo humor, pela linguagem subliminar e pela invenção de palavras. A Ilíada Brasileira foi impressa em 1874, nove anos após a morte de Odorico, depois da aprovação de uma lei que liberou recursos para edição e revisão da obra. Dizem que Guimarães Rosa bebeu naquela fonte.
Os mitos gregos estão presentes na cultura humana há milhares de anos e sempre são contados e recontados a cada geração na literatura, cinema e teatro. A Guerra de Troia foi retratada nas telonas em diversas ocasiões. Ulisses (1954), Helena de Troia (1955), A Ira de Aquiles (1962) e Odisseia (1997) são alguns dos títulos lançados que mergulham na temática. Uma das últimas adaptações foi Troia (2004), do diretor Wolfgang Petersen e que conta com Eric Bana, Orlando Bloom e Brad Pitt no elenco.
Parceria
A ideia de montar o espetáculo surgiu após Daniel e Letícia apresentarem os dois cantos do poema na abertura do 32º Festival de Inverno da Universidade Federal do Paraná, em 2022. O texto já integrava o repertório da Cia. Ilíadahomero de Teatro, que realiza pesquisas sobre a obra desde 1999 e com a qual a atriz já havia trabalhado. Daniel foi apresentado à turma e se encantou com o projeto em uma dessas visitas à casa do diretor paranaense Octavio Camargo e foi convidado para fazer o Canto 1 que estava vago.
“Tudo foi uma coincidência. Conheci o grupo de teatro e ao mesmo tempo fiquei sabendo que o Canto 1 estava vago por conta da morte de uma das grandes damas do teatro paranaense, a atriz Claudete Pereira Jorge. Ela chegou a fazer várias apresentações com o Octavio Camargo no Brasil e na Grécia. Na hora pedi para fazer parte do projeto, decorei o texto e também comecei a fazer aula de grego, que era algo que sempre tive vontade de aprender, ainda não falo com fluidez, mas consigo usar algumas palavras na peça”, lembra Daniel.