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Livro une ficção e realidade para contar história de grupo que se perdeu em cavernas de Goiás

Clenon Ferreira
Entrada da caverna Angélica, em São Domingos, onde professores e cientistas ficaram perdidos por dias

Maio de 1971. Um grupo formado por 11 professores e cientistas de universidades de Goiás e Minas Gerais monta uma excursão exploratória nas cavernas do complexo Terra Ronca, no Nordeste Goiano. O que eles não esperavam é que se perderiam debaixo da terra por muito dias, entre a escuridão e o silêncio. A história, com toques reais e imaginários, está narrada em Expedição Abissal (Astrolábio Edições), mais novo livro do escritor e jornalista Hélverton Baiano.

Com sonoridade poética, regional e permeada de referências literárias, a publicação apresenta a Terra Ronca por meio de uma história que o autor ouviu da boca do professor Altair Sales Barbosa, que esteve na expedição. Na obra, Baiano apresenta peças verídicas de sua pesquisa sobre a viagem desses cientistas pelo complexo de cavernas, mas dá o tom ficcional para a narrativa, em um romance que retrata a jornada de pesquisadores que ficaram perdidos debaixo da terra ao longo de 46 dias.

“Qualquer semelhança com a ficção é mera realidade. Na verdade, segundo o professor Horieste Gomes, que participou de uma primeira expedição preparatória, Altair Sales usou de muita criatividade para enfatizar a segunda expedição, essa na qual eles se perderam”, explica Baiano, que não conseguiu contato com outras pessoas que participaram, porque, pelo que ficou sabendo, todos já morreram.

Assim como no fato verídico, os cientistas e professores fizeram duas expedições nas grutas de Terra Ronca: a primeira era apenas preparatória; já a segunda fora montada para durar poucos dias com o objetivo de coletar amostras para a certificação da possibilidade de presença de urânio por ali, além de estudar com mais profundidade os rios subterrâneos do Cerrado. Foi neste momento que o grupo acabou se perdendo entre os muitos salões da Caverna Angélica, uma das mais famosas do parque estadual.

Quem já esteve na região de São Domingos, a 640 km de Goiânia, deve ter escutado histórias de guias turísticos e de pessoas mais antigas da cidade sobre grupos de cientistas que se perderam nas cavernas. Para a narrativa de Expedição Abissal, o autor acredita que o grupo não se perdeu durante tanto tempo que descreve no livro. “O professor Altair fala em mais de 100 dias. Acho também que realmente eles se perderam, mas por um tempo bem menor, algo como duas semanas”, diz.

Baiano não encontrou notícias em jornais da época que falassem sobre o caso e tampouco conseguiu o retorno de outras pessoas que estiveram na expedição. O jeito foi imaginar tudo e dispor de criatividade para tentar narrar uma aventura onde o escuro e o silêncio têm voz. “Achei que tinha uma boa história para contar e inventar sobre ela. Venho experimentando em narrativas curtas essa linguagem que usei, com trejeitos sertanejos, com os quais convivi na minha infância, conversando com o povo da roça, os doidos, os mais velhos e ouvindo histórias”, explica.

Fronteira

Nascido em Correntina, no interior da Bahia, Hélverton se mudou para Goiânia quando tinha 15 anos, onde se formou em jornalismo. O fator geográfico foi fundamental para que o escritor buscasse escrever uma história sobre a Terra Ronca. “A região eu já a conhecia, porque sempre tive contato e amigos por lá. Sou de Correntina, uma região fronteiriça com o Nordeste de Goiás. Os costumes nossos são muito parecidos, nos festejos religiosos, comidas, produção agrícola e outros”, reitera o romancista.

Autor por trás de 12 livros de poemas e prosas como Poemas de Vida Fácil (Ed. PUC Goiás, Kelps e Prime) e Bacondê dê Lê Lê - Contos e Crônicas (Ed. PUC Goiás e Kelps), Baiano já venceu prêmios como a Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos de 2013 e de 2015. O escritor também tem parcerias em músicas com diversos cantores e músicos goianos e tocantinenses, como Pádua, Valter Mustafé, Nilo Alves e Henrique de Oliveira.

Na natureza selvagem 
Você pode até se perguntar: mas isto não é paisagem do filme Jurassic Park (1993), clássico de Steven Spielberg? Pode até parecer, mas a região de Terra Ronca, no nordeste de Goiás, guarda o cenário de uma das experiências de aventura mais fascinantes em território brasileiro. Tudo por conta das quase 300 cavernas surgidas há mais de 600 milhões de anos que ainda nem foram exploradas por pesquisadores e viajantes.

Destino ainda pouco conhecido dos goianos, o Parque Estadual de Terra Ronca une beleza, aventura e lazer, entre cavernas e veredas que serviram de paisagem para a minissérie Grande Sertão: Veredas (1985), da TV Globo. O parque foi estabelecido em 1989 para salvaguardar e assegurar o patrimônio ambiental da região. “Há uma necessidade de descobrir novos lugares para a preservação ambiental em todo o País. Na Terra Ronca há ainda muito a se conhecer e se aventurar”, conta a bióloga Julia Chaves, que nasceu no município de São Domingos, portal de entrada do parque. 

FICHA TÉCNICA
Livro: Expedição Abissal
Autor: Héverton Baiano
Editora: Astrolábio Edições
258 páginas
R$ 45,90

Diomício Gomes / O Popular
Helvérton Baiano: "Achei que tinha uma boa história para contar e inventar sobre ela”
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