O ortopedista Roberto Dantas, responsável pela cirurgia de prótese de quadril feita por Pelé em 2012, afirma que não houve erro na operação. "Estou perfeitamente seguro de que fizemos o melhor trabalho possível", disse Dantas, que integra a equipe médica do Hospital Israelita Albert Einstein.
Em entrevista à Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (6), Pelé afirmou que precisou refazer a cirurgia depois que um médico americano do Hospital for Special Surgery, em Nova York, constatou "um erro na técnica dos brasileiros".
Na explicação do jogador, teriam usado menos pinos do que o necessário para fixar sua bacia, gerando um deslocamento da prótese.
Nesta quinta-feira, em um evento, o ex-jogador manteve a declaração. "Eu não sou especialista nisto, mas a gente sempre procura os melhores profissionais. Quando eu fiz a cirurgia aqui, até na equipe do meu cirurgião tem a minha filha, a Flavia, fisioterapeuta. Eu fiz a cirurgia e parece que teve problema. Eu fiz a revisão nos Estados Unidos. Eu fiz o exame e fiz a revisão. Segundo os médicos de lá, segundo o médico que me operou lá, ele disse que houve um pequeno equívoco. Por isso, não passava a dor. Foi esse reparo que foi feito. Graças a Deus, não sei se tava certo ou não, eu tô bem e não tenho dor agora", disse o Rei do Futebol, afirmando que demorou para fazer a segunda cirurgia em virtude das viagens profissionais.
Segundo o médico que o operou no Brasil, não havia problemas com a prótese do ex-atleta e a dor que ele ainda sentia na lateral do quadril era em decorrência de uma fibrose. "O lugar onde fizemos a incisão para operá-lo acabou sofrendo uma hipercicatrização, que é quando o corpo produz muito mais colágeno do que seria necessário para sarar aquele corte", diz o médico, que é especialista em quadril.
No caso de Pelé, Dantas afirma que havia uma intensa formação de tecidos que prendia os músculos, pele e tendões. "O que ele precisava fazer e nós indicamos a ele era uma liberação cirúrgica da fibrose, que é o corte desses tecidos que estavam presos aos músculos, gerando dor e limitação dos movimentos", explica. O problema vinha sendo tratado com fisioterapia e injeções locais de corticoide.
A cirurgia de 2012 foi feita para corrigir uma artrose do ex-jogador, que sofria do problema desde 2009. A artrose é um desgaste das articulações, incluindo ossos, ligamentos e sobretudo cartilagens. Para isso, os médicos do Einstein usaram uma prótese porosa que não utiliza cimento ortopédico, substituindo parte da articulação do quadril onde se dá o movimento por um quadril protético.
Esse tipo de prótese se baseia no crescimento do osso do paciente para dentro dos microporos da prótese, que são fixadas por pressão (marteladas) no canal femoral.
"Os parafusos utilizados [dois, no caso de Pelé] servem apenas para a fixação inicial, que dura entre seis e doze semanas. Depois disso, não são os parafusos que sustentam a prótese, mas o próprio osso. Não mudaria nada colocar dois, três ou dez deles. A maior parte das próteses hoje em dia sequer utiliza parafusos", explica Dantas.
Segundo o médico, Pelé passou por tomografias e ressonâncias no fim de 2015 e não foi detectada nenhuma alteração nos implantes. "Não havia qualquer problema na prótese, nenhum tipo de soltura. Esses exames foram avaliados por diversos médicos e radiografistas aqui do hospital, na época e agora, por conta desses comentários. Se houvesse qualquer problema com a cirurgia, algo que pode acontecer por vários motivos, nós mesmos teríamos alertado o paciente e recomendado um novo procedimento", diz Dantas.
Após os exames e a recomendação da cirurgia de fibrose, Pelé decidiu pedir uma segunda opinião e refez a operação no Hospital for Special Surgery, em Nova York, em dezembro do ano passado.
"Por conta das facilidades que ele tem, e por outros motivos também, ele decidiu buscar uma segunda opinião nos Estados Unidos. Daí parece que o médico lá encontrou alguma coisa e resolveu refazer a operação. Só acho leviano falar em erro médico, porque não houve e estamos seguros disso", finaliza.
Quatro meses após a operação, Pelé disse estar sem dor. Contudo, ainda se movimenta com certa dificuldade. Deixou de usar um andador dias atrás e agora leva uma bengala à mão esquerda.