Ícone do jornalismo e dono de voz inconfundível, Cid Moreira morreu na manhã desta quinta-feira (3), aos 97 anos. A notícia foi dada ao vivo na TV Globo por sua mulher, Fátima Sampaio, durante o programa Encontro com Patrícia Poeta. O apresentador estava internado no Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, e nas últimas semanas vinha tratando de uma pneumonia. Ele sofreu uma falência de múltiplos órgãos.
O corpo do jornalista será enterrado em Taubaté, sua cidade natal. Estão previstos dois velórios: um na quinta em Itaipava, na Região Serrana, e outro na sexta (4) no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio.
Nascido em 1927, em Taubaté, no interior paulista, Moreira escutava rádio até tarde da noite durante a infância e escondido dos pais, a dona de casa Elza e o bibliotecário Isauro Moreira.
Carreira
O jornalista iniciou a carreira no rádio em 1944, depois de ser descoberto por um amigo que o incentivou a fazer um teste de locução na Rádio Difusora de Taubaté. Nos anos seguintes, entre 1944 e 1949, ele narrou comerciais até se mudar para São Paulo, onde trabalhou na Rádio Bandeirantes e na Propago Publicidade.
Em 1951, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga - pela qual passaram estrelas como Carmen Miranda. Lá, apresentou o programa da jovem cantora Maysa e conviveu com astros como Orlando Silva, Dorival Caymmi e Cauby Peixoto. A cantora Elizeth Cardoso ensinou a ele o truque de chupar cravo para melhorar a voz. Foi na Rádio Mayrink Veiga, entre 1951 e 1956, que ele começou a ter suas primeiras experiências na televisão, apresentando comerciais ao vivo em programas como “Além da Imaginação” e “Noite de Gala”, na TV Rio. Além das locuções de programas, atuou como galã de radionovela.
Sua estreia como locutor de noticiários aconteceu em 1963, no “Jornal de Vanguarda”, da TV Rio, o que marcou o início de sua carreira no jornalismo televisivo. Nos anos seguintes, trabalhou nesse mesmo programa em várias emissoras, como Tupi, Globo, Excelsior e Continental, consolidando sua presença na televisão.
Com a vaidade aflorada, foi levado, por sugestão de amigos da publicidade, a se submeter a aplicações de silicone líquido na região entre os olhos, acima do nariz, com a intenção de minimizar um suposto vinco. A substância se espalhou pelo rosto e formou calombos, levando Cid a uma série de cirurgias corretivas.
A vaidade ainda estava por trás de outro arrependimento, esse de muitos anos depois, em 1993. Sexagenário e uma celebridade ligada à sobriedade, posou para a capa da revista Caras em uma banheira, com as pernas jogadas para cima, cheias de espuma, sob a manchete “o Jornal Nacional na banheira”. Quase foi demitido.
Nos quase 27 anos de bancada, noticiou de tudo. Nos primeiros anos, com a TV em preto e branco, e lendo o roteiro em um papel na bancada, não no teleprompter. A chegada das cores, em 1972, deu o que falar. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, diretor da Globo, trouxe de casa suas melhores gravatas para emprestar a Moreira.
Sua saída do "Jornal Nacional", em 1996, causou comoção, com cartas e mais cartas de telespectadores inconformados. Segundo o Memória Globo, Cid Moreira apresentou o telejornal cerca de 8 mil vezes.
Vida pessoal
Aos 73 anos, ele se casou com Fátima Sampaio, sua quarta mulher, 36 anos mais jovem do que ele. Já com mais de 90, gostava de falar nas entrevistas sobre a sua vivacidade e a vida sexual.
As manchetes, nessa fase, também deram espaço ao lado difícil de sua vida pessoal. Sua única filha morreu de enfisema pulmonar. Seus dois filhos, um deles adotado, travaram uma batalha judicial com o apresentador e o tentaram interditar.
Profissionalmente, seu sonho era trabalhar até o último dia, e ele se tornou influencer aos 92, em parceria com a sua mulher, que é jornalista. Seus vídeos iam de lives sobre a Bíblia a cenas de seu cotidiano e lembranças do tempo do "Jornal Nacional".