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Na memória: Iza Costa deixa legado importante nas artes em Goiás

Sebastião Nogueira
Iza Costa: artista morreu terça-feira depois de sofrer um aneurisma cardíaco

Difícil não se emocionar ao ver a última obra produzida pela artista plástica Iza Costa, de 78 anos, que morreu na terça-feira após sofrer um aneurisma cardíaco na chácara onde morava, em Bela Vista de Goiás. Em meio ao colorido típico de suas criações, a goiana - uma das maiores referências da arte no Estado - fez um autorretrato do que parece ser sua passagem do mundo real para o divino. Familiares e amigos se despediram da pintora ontem em enterro no Cemitério Parque Memorial de Goiânia. Ela deixa duas filhas e três netos.

A notícia da sua morte pegou muitos artistas, curadores e amigos de surpresa. Iza Costa morava sozinha há décadas na chácara, que fica a 40 km de Goiânia, onde tinha sua casa e o ateliê que construiu para trabalhar tranquilamente ouvindo o canto dos pássaros. Dificilmente saía do lugar e com a pandemia ficou ainda mais isolada e recebia poucas pessoas. A última individual foi em 2018, quando mostrou mais de 40 trabalhos inéditos no Museu de Arte de Goiânia (MAG). “Ela deixa seu legado e ensinamentos para a eternidade”, disse a filha Lara Costa.

Pintora, gravurista, ourives e muralista, Iza Costa deixa um legado importante para a arte goiana por ser uma das primeiras mulheres que conseguiu levar o nome de Goiás para fora, assim como Ana Maria Pacheco. Ela participou de várias exposições individuais, coletivas, salões, bienais e homenagens no Brasil e no exterior. Sua obra integra respeitadas coleções na Europa, nos EUA e na América Latina. “É uma perda significativa. Ela era uma artista original e que trabalhou com diversas linguagens”, afirma o curador Gilmar Camilo.

Iza Costa construiu uma carreira respeitada nos quase 60 anos de ofício na pintura trabalhando com temáticas como paisagens, cultura indígena, folclore, retratos dos seus ídolos (Che Guevara, Gabriel García Márquez, Diego Rivera e Frida Kallo), máscaras e a natureza. “Ela desenvolveu seu próprio estilo com muita personalidade e era universal. A sua obra é inconfundível por reunir traços marcantes e coloridos. Considero uma das mais importantes artistas brasileiras pelo forte apego social”, avalia Antônio Damata, diretor do MAG.

Para o curador e galerista PX Silveira, Iza Costa conseguiu como poucos artistas transmitir os seus sentimentos nas obras, sem se limitar ao encontro das suas raízes e sem ser folclórica. “Grande artista. Mulher forte. Sua arte foi fazer a combinação desses seus dois elementos, dois atributos, duas qualidades que a destacavam. Por vezes, conseguia. Por outras, mantinha sua insatisfação criativa. E seguia em frente da maneira como sempre foi independente do mercado das artes, do óbvio, das opiniões sobre ela. Gente rara.”

Influências

Natural de Anicuns, Iza Costa pertence à primeira geração de arte contemporânea da Escola Goiana de Belas Artes, criada pela então Universidade Católica de Goiás, na década de 1960. Conviveu com o artista frei Nazareno Confaloni (1917-1977), um dos fundadores da instituição, e aprendeu muito com DJ Oliveira (1932-2005), que ela considerava um professor por ter aprendido com ele técnicas diferentes e o desenho. No entanto, a sua obra não sofreu nenhuma influência deles. “Ela tinha a própria identidade artística”, lembra Damata.

A grande influência pictórica na carreira da goiana foi a arte latino-americana. Ela morou no México no final da década de 1960 e participou do movimento artístico local, conhecendo expoentes, como o pintor Siqueiros, um dos protagonistas do muralismo mexicano, juntamente com Rivera e Orozco. Lá, ela concluiu o curso de gravura e litogravura. Foi essa afinidade que resultou na introdução de linguagens como o cubismo e das formas construtivas que ela empregou em várias fases, seja no figurativo ou no abstrato.

Quando retornou, Iza Costa tornou-se uma das principais muralistas de Goiás. Em 1989, ela participou do projeto Galeria Aberta, de PX Silveira, que reuniu nomes como DJ Oliveira, Amaury Menezes e Cléber Gouvêa. Ela fez o painel Tucanos, pintando em um prédio na Rua 3, destruído posteriormente. “Era um trabalho de 850 metros quadrados e que impactou milhares de pessoas, pelo tamanho e pelas cores”, recorda PX, autor do filme Iza Brazil, selecionado para a mostra de São Paulo, no qual a artista aparece com uma instalação com cupinzeiros.

A obra de Iza Costa está espalhada pelas ruas de Goiânia. Um dos seus trabalhos, com 80m², está instalado na entrada do Colégio Militar Hugo de Carvalho Ramos, no Jardim Goiás. Ela tem também um monumento aos Direitos Humanos no Tribunal de Justiça de Goiás, no Setor Oeste, e outros três no Colégio Agostiniano. Em Anápolis, tem outro no fórum da cidade. “Não tenho dúvidas de que ela foi uma das mulheres de Goiás que mais avançou fronteiras e inspirou uma nova geração de artistas”, comenta o pintor Gilvan Cabral, um dos seus seguidores, assim como Nonatto Coelho, Dacruz e M. Cavalcante.

Novo monumento

Iza Costa escolheu Bela Vista de Goiás como sua casa e há seis anos criou um monumento com 4 metros de altura para presentear a cidade. O projeto saiu recentemente do papel, com patrocínio da Lei Aldir Blanc e apoio da prefeitura do município. Quem vem executando a obra para a amiga é o artista Gilvan Cabral. A previsão é que fique pronta em 30 dias e seja instalada na frente da antiga rodoviária, onde será um Centro Cultural. “Antes de morrer, ela tinha me dito para não deixá-la partir sem que o trabalho estivesse pronto”, revela.

Gilvan Cabral foi escolhido para desenvolver o monumento de Iza Costa pela amizade e por conhecer a forma como ela gostava de trabalhar e também porque nos últimos anos ela não tinha força para desenvolver algo tão pesado. “Ela não dava mais conta e me dizia que estava velhinha”, lembra o amigo, que acompanhou a artista durante 40 anos. “Preciso realizar esse sonho dela. Agora é a minha missão prestar essa homenagem”, completa. O monumento gigante contará com seis lados, cada um com referências indígenas, uma das marcas da obra da pintora.

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