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Nova temporada do 'Zorra' tenta concorrer com a vida real em seus esquetes

Divulgação

Admitir que assistia ao "Zorra Total", há três anos, não era algo usual e tampouco soava bem. O programa, que permaneceu na grade da Globo por 16 anos, tinha um humor raso, pautado por personagens esquisitos que tentavam justificar as suas existências com exageros e bordões. Em 2015, a figura mudou. Dizer, em uma roda de amigos, que viu um esquete do "Zorra" pode servir de gancho para uma boa discussão. Compartilhar nas redes sociais uma cena engraçada do programa, é garantia de likes. Graças à dupla Maurício Farias e Marcius Melhem, respectivamente diretor e supervisor de texto, o humorístico marcha em sentido oposto ao qual seguia. É atento aos fatos do cotidiano, dialoga com o dia a dia do telespectador, e reflete sobre os casos complexos do cenário político sem medo de colocar o dedo na ferida.

A terceira temporada estreia neste sábado, 15, na Globo, após a novela "A Força do Querer". E vem com um título: Tá difícil competir com a realidade, mas a gente tenta. "Ele (o título) só reforça o conceito que a gente vem trabalhando desde a primeira temporada, que é fazer um programa que fale sobre a vida das pessoas, que dialogue com a sociedade e com as questões que estão aí, quicando", disse Marcius Melhem à reportagem. "Esse mote reforça isso à medida que o dia a dia está cada vez mais surreal, os acontecimentos, principalmente os que vêm de Brasília, são tão surreais que fica tão difícil de colocar humor em cima, visto que a gente trata da quebra da expectativa, coisas que os políticos fazem diariamente conosco."

Melhem divide a redação final do humorístico com Gabriela Amaral e Celso Taddei. Juntos, eles chegam a escrever 60 cenas semanais, das quais somente 30 chegam à tela. "Jogamos muito material fora, sem perdão. Não temos esse tipo de apego. Os esquetes são nossos ovos de tartaruga. Muitos são colocados na areia, mas poucos chegam à fase adulta. Essa rigidez e autocrítica severa a gente tem que ter. E, mesmo assim, quando a gente vê no ar, a gente vê que poderia ter feito melhor", avalia Taddei.

Entre os temas das piadas, política se destaca. Mas o cotidiano é que dá o tom nas linhas gerais dos roteiros. "Um esquete absurdo seria fazer um churrasco de papelão. Mas isso está acontecendo na vida real. É como se a realidade estivesse superando a mais absurda das comédias", diz Taddei.

Não há assuntos proibidos. Religião, sexo e sexualidade também são abordados, mas de uma maneira bastante diferente do extinto "Zorra Total".

"Mudamos o lugar da mulher em nossas piadas. Não existe mais a 'gostosona' do esquete. Isso não cabe mais no tipo de humor que fazemos e é um dos fatores que nos distanciam do antigo formato. Também não sacaneamos os gays. Preferimos zoar os homofóbicos, não quem já é vítima de preconceito", diz Gabriela Amaral. "Ridicularizamos os homofóbicos e os preconceituosos. A gente aproveita do canhão, que é o horário nobre da Globo, e apontamos o canhão para o lado certo", acrescenta Melhem.

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