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Orquestra de violeiros formada por detentos se apresenta na UFG

Andreia Barra
Amigos da Viola: orquestra formada por detentos do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia se apresenta no palco do Centro de Cultura da UFG

Educação, cultura e reintegração são as três palavras de ordem que alicerçam o projeto Amigos da Viola. Nesta sexta-feira (25), quando os 20 detentos da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), dentro do Complexo Prisional de Aparecida, subiram ao palco do Centro de Cultura da UFG, no Câmpus Samambaia, para encerrar a programação do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão, uma nova etapa começou a ser desenhada em suas narrativas.

Sob batuta do advogado Pedro Sérgio Santos, professor de mestrado em Direito e Políticas Públicas da UFG, o projeto dá a possibilidade de aprendizado musical para os detentos. O resultado é uma orquestra de viola e violão, com certificado profissional para os presos que participam do projeto.

“É uma forma de criar mecanismos de reinserção social e, mais do que isso, de transformar vidas por meio da música”, reflete o coordenador. Além de desenvolver habilidades artísticas, os detentos ainda ganham profissionalização para retornar ao mercado de trabalho e remissão de parte de suas penas.

A ação começou antes da pandemia, no final de 2019, mas precisou ser paralisada por conta das medidas de isolamento social. As aulas retornaram no início de 2021 na Escola Estadual Dona Lourdes Estivalete Teixeira, dentro do complexo. Desde então, os detentos têm duas aulas semanais, de 2h30, com o professor de música e mestre em Direitos Humanos Marden Reis de Abreu, e o músico Ronaldo Moreira da Silva.

“Todo o curso é muito didático, em uma variação de teoria e prática”, diz o professor. O Amigos da Viola só saiu do papel graças à parceria da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), a UFG, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Igreja Ortodoxa Antioquia.

Os detentos da POG que constituem a orquestra do Amigos da Viola passam por um teste de aptidão para participarem do grupo. Para o futuro, o desejo é desenvolver dentro do complexo prisional um grupo de coral e outro de catira, dando prioridade para a cultura regional goiana.

Além das aulas práticas com os professores, os presos também têm acesso a aulas e palestras sobre diversos temas, como cidadania, direitos e deveres e direitos humanos. “É preciso dar oportunidade social. A arte ensina e educa de uma forma única em um cenário de acesso limitado, como o penitênciario”, explica Abreu.

Palco aberto

Toda a orquestra pensa em conjunto. Para a primeira apresentação, na UFG, os detentos escolheram diversos clássicos de moda de viola, como Chalana, de Almir Sater, e Saudade da Minha Terra, de Chitãozinho e Xororó.

A ideia é de que a orquestra possa fazer apresentações em diversos palcos da cidade e criar parcerias com outros grupos musicais e espaços artísticos. “Nosso desejo é desenvolver outros grupos artísticos e musicais dentro da penitenciária. É preciso entender que estes 20 detentos que formam a orquestra representam os mais de 6 mil presos daquele lugar”, reitera o professor.

E o projeto continua fora da penitenciária. De acordo com Abreu, o Amigos da Viola ganha uma continuidade a partir do momento em que os presos saem da cadeia e ganham a oportunidade de trabalhar com música. “A ação surge como aposta de reinserção social e que muda vidas. É sobre autoestima, aprendizado. A arte, com certeza, modifica tudo ao seu redor”, garante o professor.

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