“A minha vida é só de agradecimento. Se aqui estou ainda é porque vocês me trouxeram.” A afirmação da apresentadora Hebe Camargo se encaixa muito bem nos dez episódios que integram a série Hebe, que estreia nesta quinta-feira (30) na Rede Globo. A história, já disponível na Globoplay, faz parte de um projeto multimídia encabeçado pelo diretor Maurício Farias de transformar o filme biográfico, lançado em 2019, em seriado para televisão.
Em trajetória não linear, a série apresenta uma Hebe em diferentes momentos de sua vida protagonizados pelas atrizes Andréa Beltrão e Valentina Herszage. É como se o espectador acompanhasse o fluxo de memória da própria personagem, dentro e fora dos palcos. “O trabalho teve essa alegria de construir uma mulher nesse devir, que era mãe, filha, esposa, que tinha um marido por vezes violento e que queria ser livre”, destaca Andrea Beltrão.
Toda a história se desenrola a partir das cenas do filme Hebe – A Estrela do Brasil, que faz um recorte específico de Hebe Camargo em 1985, momento de abertura da política brasileira após longo período de ditadura militar. A partir das cenas, o espectador é levado até às memórias da protagonista, desde os tempos em que sonhava em se consagrar como uma das vozes do rádio. Também apresenta uma mulher de origem humilde em um tempo embutido de preconceito a artistas na São Paulo dos anos 1940.
“A história dela é muito viva e atual. Hoje vemos artistas como Felipe Neto e Anitta falando abertamente sobre política. A Hebe já fazia isso há tempos”, destaca a roteirista Carolina Kotscho. Momentos delicados da vida de Hebe são retratados na trama, como violência doméstica, aborto, relação abusiva, censura e o câncer. “Hebe é uma mulher que acompanhou as transformações sociais e políticas. Era a voz de muita gente”, diz.
Pioneira, a Hebe da série vai contra a censura, defende a comunidade LGBTQI e enfrenta homens, entre chefes, maridos e amantes, como uma mulher que ouve e consegue dialogar de forma muito particular com seu público. Para construir a personagem, a roteirista – a mesma que assina produções como Dois Filhos de Francisco (2005) –, não tinha muito contato com Hebe, morta em 2012, vítima do câncer, e apoiou-se em materiais de arquivo de entrevistas da estrela para revistas da época, recorte de jornais e programas de TV.
Personagens conhecidos pelo público, como Jô Soares, Marília Gabriela e Roberto Carlos também são apresentados na trama. A série revela a relação afetuosa com o sobrinho, Claudio Pessutti (Danton Mello), seu braço direito em toda a vida e produtor pessoal dos trabalhos da televisão. Também mostra a sua relação conflituosa com Marcello (Caio Horowicz), único filho oriundo da relação com o primeiro marido, Décio Capuano (Gabriel Braga Nunes).
Drinques
A vida boêmia de Hebe junto aos amigos em sua mansão no Morumbi, em São Paulo, também é peça chave para entender a personalidade de uma das apresentadoras mais benquistas da TV brasileira. O diretor Maurício Farias apresenta uma Hebe que dá entrevistas bebendo cerveja, sai para a agitada noite paulistana com as amigas Lolita Rodrigues e Nair Belo e promove festas na piscina com Roberto Carlos.
“Esse foi o trabalho que eu tive o retorno mais caloroso de tudo que eu fiz”, ressalta Farias, cineasta por trás de trabalhos como O Coronel e o Lobisomem (2005), Vai que Dá Certo (2013) e Verônica (2009). O sucesso foi tamanho que o diretor já está escalado para encabeçar a nova novela do horário das 21 horas da Globo, Um Lugar ao Sol, prevista para ir ao ar em 2021. “A Hebe tem essa questão política que surpreendeu muito a nós. Muitas qualidades e muitas contradições. Uma coisa muito interessante que é olhar para uma mulher que nasceu em 1930 e viveu muito à frente do seu tempo. Uma personagem incrível”, ressalta o diretor.
