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Saiba como a nova peça de Alessandra Negrini está mais perto do cinema que do palco

instagram/alesandranegrini

Desde que a pandemia interrompeu pela primeira vez as atividades culturais, grupos teatrais criaram peças encenadas virtualmente usando ferramentas como o Zoom e as redes sociais. Agora, espetáculos online galgam mais um passo na exploração do teatro virtual e assumem uma linguagem cinematográfica, criando um híbrido entre as duas linguagens.

É o caso de "A Árvore", dirigida por Ester Laccava e João Wainer, que estreia agora. Nela, a atriz Alessandra Negrini, que também produziu a peça gravada, vive uma escritora que, ao ser enredada por uma planta doméstica, começa a se metamorfosear numa árvore.

A personagem passa a maior parte da trama dentro de seu apartamento -instalação que foi montada no teatro Faap-, mas, com a possibilidade de gravação e do diálogo com o audiovisual, o monólogo é cortado por cenas em que ela aparece numa floresta, anda na rua usando máscara e pedala por uma estrada.

"A origem está no teatro porque minha formação é do teatro", afirma a diretora Ester Laccava. "Mas eu imaginava que eu tinha o olhar da câmera."

Segundo Laccava, o que mais permanece do teatro nesse híbrido de "A Árvore" é o risco. "Não tive a possibilidade de ter muitos takes da mesma cena", conta ela sobre a peça, que foi gravada em menos de uma semana.

Alessandra Negrini também diz que, sem plateia, de fato não se trata de teatro. Mas que entre as características dessa linguagem que permanecem na produção está a quantidade de texto e a manutenção da fala direcionada para a câmera, mantendo o discurso para o espectador. A iluminação é outro dado importante na gravação, também característica das produções teatrais.

"A gente teve que se reinventar, e acho que, no final, esse hibridismo passou a ser uma das características e do diferencial do projeto", diz a atriz. Ela conta que, com a impossibilidade de apresentar a peça presencialmente, a equipe queria se afastar de um resultado que parecesse só um teatro filmado --e chamaram o diretor João Wainer para o projeto.

"É uma peça que fala do isolamento, a pandemia está presente de alguma forma, embora não explicitamente. Mas queríamos ir além da angústia e falar da necessidade de expressão [das pessoas]", conta Negrini.

Yara de Novaes, que dirige a websérie "Farol de Neblina" com a cineasta Clarissa Campolina, conta que queria encontrar, nesse projeto, um diálogo entre as duas linguagens.

Partindo do espetáculo teatral, Novaes diz que a cineasta entrou para definir, por exemplo, como a câmera entraria na encenação, qual seria o tipo de movimentação dela e quais cores seriam escolhidas -uma espécie de fusão das armas de cada um dos universos.

Os quatro episódios de cerca de 20 minutos mostram o encontro de um casal, vividos pelos atores Leonardo Fernandes e Fafá Rennó, em uma casa isolada próxima à estrada durante uma noite fria, encoberta pela neblina.

Na maior parte do tempo, lembra a diretora, a peça está dentro de uma caixa preta, o que faz com que o movimento da câmera seja determinado pelo espaço do teatro.

"Normalmente, no cinema, você também tem atores e atrizes amparados em lugares, sentados, numa cama, há um mobiliário. Ali, são corpos soltos no espaço", diz ela, sobre a peça.

O acidente de carro que os personagens sofrem na história não foi transformado numa cena em que o carro é mostrado numa colisão realista, por exemplo. A câmera se aproxima dos atores, que fazem uma espécie de coreografia do evento, e closes revelam pés e rostos tensos.

Clarissa Campolina conta que a intenção nessa transposição da história para uma websérie era lidar com a situação de pandemia e ausência de espetáculo, homenageando o próprio teatro.

"É como se a imagem fosse mais o que está dentro da cabeça dos personagem, os sentimentos deles e o que eles vivem." A cineasta também avalia que a gravação num palco altera também a forma com que a voz dos atores ecoa, diferentemente de um filme feito em estúdio.

Yara de Novaes também conta que, além da própria trama de "Farol de Neblina" ter uma estrutura capitular, a ideia de a dividir em quatro episódios foi para prender a atenção do espectador, que hoje passa boa parte do seu tempo em frente à tela.

"Em hipótese alguma substitui a experiência do teatro presencial, mas acho que nos coloca outras possibilidades", diz Campolina. "É uma outra experiência, mas é uma, acho, que poderia fazer parte de uma plataforma como a Netflix, por exemplo, em ambientes que sejam do audiovisual."

 

A ÁRVORE

Quando Estreia em 26/2

Onde Na Tudus, na programação do Teatro Faap

Preço R$ 30

Classificação 14 anos

Elenco Alessandra Negrini

Direção Ester Laccava e João Wainer

Link: https://www.teatrofaap.com.br

Duração 70 min.

 

FAROL DE NEBLINA

Quando Episódios disponíveis até 30 de junho. Apresentações de sex., sáb. e seg.: 20h. Dom.: 19h

Onde Redes sociais do CCBB e pelo site www.espetaculoneblina.com.br

Preço Gratuito

Classificação 12 anos

Elenco Fafá Rennó e Leonardo Fernandes

Direção Clarissa Campolina e Yara de Novaes

Duração 20 min. por episódio

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