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Samara Joy, que derrotou Anitta no Grammy, diz que vai encontrar cantora no país

Reprodução / Instagram @samarajoysings
Alguns fãs mais furiosos de Anitta foram até as redes sociais de Samara para atacá-la depois de sua vitória no Grammy.

Samara Joy não sabia quem era Anitta até ganhar dela o prêmio de artista revelação no Grammy. "Mas ela é uma mulher muito legal e foi interessante vê-la cantar na festa depois da cerimônia."

A vitória da americana sobre a brasileira, numa das categorias principais da premiação, marca o ápice de sua trajetória improvável. Aos 23 anos, ela é uma rara jovem estrela do jazz, que despontou com uma abordagem clássica e retrô do gênero, uma expressiva habilidade vocal e alguns vídeos virais no TikTok.

Com um show marcado no Brasil --no festival C6, que acontece entre 19 e 21 de maio, com Kraftwerk e Weyes Blood, entre outros, em São Paulo--, a cantora tem a oportunidade de se apresentar melhor ao público do país. Isso porque alguns fãs mais furiosos de Anitta foram até suas redes sociais atacá-la depois de sua vitória no Grammy.

"No começo, foi bem surpreendente", ela diz, economizando as palavras, sobre as reações dos brasileiros enfurecidos. "Mas, assim, eu entendo. Então, desculpa aí. Espero que vocês se divirtam no Carnaval. Continuo amando e respeitando todos os artistas. Não me afetou muito. As pessoas só a amam."

A animosidade é um reflexo da frustração dos fãs de Anitta, especialmente devido à surpresa geral com a vitória de Joy. Nos anos anteriores, o prêmio de artista revelação no Grammy foi entregue a Billie Eilish, Olivia Rodrigo e Megan Thee Stallion, estrelas do pop ou do hip-hop que contam aos milhões as reproduções que suas músicas conquistam no streaming.

Em comparação com esses nomes, e até mesmo com Anitta, Joy é praticamente de outro planeta. Seu segundo e mais importante álbum, "Linger Awhile", lançado no ano passado e que também venceu o Grammy de melhor álbum de jazz vocal, dispensa qualquer produção ou textura eletrônica e é inteiramente orgânico, com instrumentos tradicionais, além de ter algumas composições antigas de jazz no repertório.

No Spotify, a plataforma de streaming de música mais acessada do planeta, apenas duas faixas do disco ultrapassam a marca de um milhão de plays --"Can't Get Out of This Mood" e "Sweet Pumpkin". Em comparação, a música menos acessada do único álbum de Olivia Rodrigo, "Hope ur Ok", do ano retrasado, tem mais de 240 milhões de reproduções.

Para Joy, sua vitória no Grammy de fato não é algo comum. "Talvez represente uma mudança na maneira como as pessoas veem a música e os artistas --de não ser necessariamente baseado na popularidade, mas na arte que é apresentada", ela diz. "Muitas vezes, você vê artistas que fazem trabalhos incríveis, mas não são reconhecidos."

Mas Joy não é totalmente alheia ao mundo da busca por cliques. Seu sucesso veio depois de ela começar a gravar vídeos no TikTok, impressionando pela voz, tanto ao cantar quanto ao falar sobre a sua carreira e a sua vida.

Trata-se de um movimento também pouco comum, já que o estilo de jazz mais tradicional que Joy segue costuma ser consumido por um público mais velho. Em dezembro do ano passado, quando ela já tinha sido indicada ao Grammy, o jornal The New York Times afirmou que a cantora, também graças à rede social, estava ajudando o gênero a conquistar novos ouvintes.

"Acho que ajudou muito a construir um público que gosta das músicas que eu também gosto e que me apoiam e apoiam o que faço", diz ela. "Sou muito grata por ter esse público que, de outra maneira, não teria. Posso conhecer várias pessoas pessoalmente --e isso é legal. Mas na rede social você se conecta com milhares e milhares de pessoas --o que é incrível."

Um vídeo seu reagindo a uma mensagem que recebeu do ator Lakeith Stanfield, que a encorajou a continuar fazendo música, foi um dos que fizeram sucesso no começo. Mas o que realmente viralizou foi um vídeo em que Joy reage, emocionada, à atriz Regina King a elogiando numa chamada de vídeo com os atores Spike Lee e George Clooney.

"Se fechar os olhos, você acha que está ouvindo Sarah Vaughan", ela diz, se derretendo e pedindo aos companheiros para que anotem o nome de Joy. Com cerca de 1,4 milhão de visualizações, o vídeo curto tem mais ou menos a mesma audiência das músicas mais famosas da cantora nas plataformas de streaming.

Regina King de fato tinha um ponto. Com um alcance abrangente, indo de graves profundos aos falsetes mais estridentes, Joy administra os vibratos com naturalidade e soa não só como Vaughan, mas como Ella Fitzgerald --suas duas principais referências.

Criada numa família de músicos, ela começou cedo a cantar, fã do programa "Soul Train", assim como de soul e R&B. Seus avós são o casal de cantores gospel Elder Goldwire e Ruth McLendon, do coral The Savettes, e seu pai, Antonio McLendon, viajou os Estados Unidos como baixista da banda do também gospel Andraé Crouch, além de ter um estúdio dentro de casa.

Nascida e criada no Bronx, em Nova York, Joy diz que o bairro é sua casa, mas conta que teve pouca convivência na rua, pois costumava passar seus dias em casa. Seus ídolos vêm do passado, como Stevie Wonder, o cantor com quem ela mais tem vontade de colaborar em um trabalho.

"Há muitas presunções, assim como há em relação ao Brasil, do tipo, 'não vá ao Bronx porque é perigoso', mas era uma comunidade tranquila onde fui criada", ela diz. "Não me deixavam sair muito quando pequena, então a cultura que tenho é a da escola e de casa. O resto era proibido."

Joy estudava em escola pública e morava na casa da avó. Essa experiência, de viver no Bronx com a família, ela diz, foi o que a formou. Mas a paixão pelo jazz veio há uns seis anos, quando ela estava terminando o ensino médio e o professor da banda da escola a chamou para cantar.

Mesmo com nenhum conhecimento de jazz, segundo ela mesma, Joy acabou sendo aprovada num programa de estudantes do gênero musical da Universidade do Estado de Nova York --e a partir daí só se aprofundou no estilo. "Tinha toda a música que cresci ouvindo e, de repente, há um novo jeito de se cantar que era clássico, mas algo que eu não estava familiarizada", diz.

Sua técnica de voz, ela diz, foi adquirida conforme se esforçava para colocar dentro do contexto de uma música os exercícios de canto que aprendia. "Foi ficando gradativamente mais fácil de equalizar meu cérebro e minha voz", diz. "Ouvia Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald e tentava copiar, mas precisei de um tempo para processar antes de realmente conseguir cantar tão agilmente ou com a mesma precisão."

Tratada por críticos, após o Grammy, como uma artista que pouco acrescenta à música, apenas reproduzindo uma estética já há muito estabelecida, Joy diz que tem formação sólida para desenvolver seu trabalho. "Acho que tem muita gente cantando ou tocando jazz, mas que não sabe como ele soa", diz. "Ainda estou aprendendo sobre os sons e emergindo nessa música, mas acho que é o melhor lugar para se desenvolver."

Destacando como a liberdade de improvisação a ajudou a desenvolver o canto, Joy diz que, para fazer jazz, é necessário conhecer a história e saber como inserir sua individualidade. "Acho que foi isso o que todos os mestres fizeram --aprenderam dos mentores para depois criar, inovar, sem forçar, sendo orgânico, e é isso que espero fazer."

A voz de Joy é seu maior triunfo, e ela pretende usá-la para enaltecer a música brasileira. Diz que não conhece muito a produção artística do Brasil, mas admira Tom Jobim e Djavan e até aprendeu a cantar "Flor de Lis", sucesso do cantor e compositor alagoano, em português mesmo, para apresentá-la em seu show em São Paulo.

Quanto a Anitta, as duas ainda não se conheceram, mas já trocam até mensagens. "No Grammy, eu estava sentada em outra mesa, e os intervalos são muito curtos", diz Joy. "Mas nos mandamos mensagens no Instagram. Disse que ia ao Brasil. Ela disse 'me avise quando você for [ao Brasil] e vamos nos encontrar!'."

 

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