Um em cada dez domicílios em Goiás está vago, conforme aponta o Censo 2022 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número se refere a um total de 385.155 casas particulares sem ninguém morar, de um total de 3.306.489 imóveis residenciais no Estado. Proporcionalmente, a cidade com mais casas vazias é Campos Verdes, na região Norte, em que um a cada quatro domicílios está vazio (24,62%). Santa Rita do Araguaia, Morro Agudo, Monte Alegre e Itapirapuã estão em seguida, com índice próximo de um domicílio sem ninguém morar a cada cinco existentes.
Para se ter uma ideia, em dezembro do ano passado, o Instituto Mauro Borges (IMB), do governo estadual, estimou o déficit habitacional em Goiás e chegou ao número de 177.192 famílias sem habitação ou com moradia precária. Ou seja, o número de domicílios vazios apontados pelo IBGE seria suficiente para abrigar até um pouco mais que o dobro do déficit apontado pelo governo. Os dados do IMB são com base no Cadastro Único do governo federal de 2021 e abrange casos de ônus excessivo com aluguel urbano, domicílios improvisados, coabitação familiar, domicílios rústicos e também o adensamento excessivo em domicílios alugados.
Já os dados do Censo 2022 são coletados de porta a porta pelos recenseadores e assim identificam os locais sem qualquer morador. “Quando o recenseador aborda o domicílio, seja nesta data ou em uma data posterior, ele pergunta se a pessoa que o está recebendo morava naquele endereço no dia 1º. Se sim, continua a entrevista. Se não, indaga se existia outro morador, para ser contatado em outro imóvel”, explica Daniel Ribeiro de Oliveira, coordenador operacional do Censo no estado de Goiás. Segundo ele, caso o residente não atenda na primeira vez, é exigido que o funcionário do Instituto retorne ao local pelo menos quatro vezes.
Segundo ele, alguns aspectos são levados em conta para definir se o imóvel é vago ou não. “Uma casa que está sem morador, geralmente, está cheia de lixo na porta. Mato crescendo, plantas do jardim ressecadas, medidor de energia estático. Já onde há moradores, é possível visualizar, entre outras coisas, cachorros latindo, roupas no varal e calçadas varridas. No caso de prédios, este tipo de informação pode ser obtida facilmente através de porteiros, síndicos ou vizinhos”, diz. O número de imóveis vagos em Goiás de 2010, a data da última pesquisa, a 2022 teve uma alta de 85,5%. No ano inicial, foram verificados 207.617 domicílios sem moradores, o que representava 9,38% do total de imóveis particulares residenciais no Estado, ou seja, um índice menos que os 12% verificados atualmente. O Censo 2022 ainda identifica a existência de 3.636 domicílios em Goiás como improvisados, que corresponde a imóveis comerciais utilizados como casas.
Liderança
Para o município de Campos Verdes manter um índice de 24,62% dos domicílios vagos, o crescimento desordenado na cidade é um dos motivos, de acordo com o prefeito local, Haroldo Naves (MDB). “A cidade, em seu passado, teve um crescimento desorganizado, advindo da mineração, chegando a ter uma população de 16 mil habitantes em 1989. A partir daí, houve um decréscimo, uma desocupação, seguida de um desenvolvimento com maior organização”, afirma Naves. Os dados do Censo de 2022 registraram um total de 4.005 campo-verdenses, um aumento de aproximadamente 162,5% em relação à contagem anterior, de 1.526.
Segundo o prefeito, a área mais predominante dos imóveis vazios em Campos Verdes é próxima aos locais de mineração do município. “É um lugar que, no planejamento urbano, ela não pode ser habitada, mas foi onde a cidade iniciou nos anos 1980. A Prefeitura nem mais contabiliza estes imóveis no cadastro imobiliário, então não tem um prejuízo muito grande, porque entendemos que os domicílios não voltarão a ser preenchidos com moradores. Com a assinatura do Termo de Compromisso Ambiental, já que várias mineradoras vão voltar a trabalhar, estas casas serão demolidas”, diz o prefeito. De acordo com Naves, a maioria dos domicílios vagos da cidade é de baixa renda. “São casas bastante rudimentares que foram construídas por mineradores do Brasil inteiro que vieram para cá, para ficarem próximos do garimpo, de forma passageira, e que hoje, já não servem mais para habitação”, relata. (João Pedro Santos é estagiário do GJC, em convênio com a UFG)
Rio Quente tem mais da metade dos domicílios de uso ocasional
Um total de 245.234 moradias são utilizadas em Goiás ocasionalmente ou como segunda residência, como casas de veraneio ou férias ou mesmo para aluguel por temporada. Neste quesito, Rio Quente, no Sudeste goiano, é quem mais se destaca, pois mais da metade das residências ficam a maior parte do ano sem um morador exclusivo. No município turístico, 57,53% dos domicílios são para locações ocasionais ou casas de passeio de moradores de outras cidades. Três Ranchos, no Sul goiano, possui índice de 45,38% neste quesito.
Em ambos os casos, isso se dá pelo viés turístico dos municípios. Até por isso, chama a atenção, por outro lado, a situação de Heitoraí, no Centro goiano, em que, segundo o Censo 2022, 42,34% dos domicílios são de uso ocasional, mesmo sem ser considerado um grande destino turístico no Estado. De acordo com a prefeitura municipal, isto se deve a mais de 2 mil casas de veraneio na zona rural, utilizadas pelos seus proprietários somente em períodos como finais de semana, feriados e férias. Um exemplo dado pela prefeitura são os ranchos construídos às margens do Rio Uru, que são colocados para aluguel para aproveitar o ponto turístico. No entanto, a prefeitura entende que não há um prejuízo com a presença dos imóveis temporários. Porém, diferentemente, os domicílios pertencem a famílias de renda média para alta. Embora existam casas vagas próximas a pontos turísticos da cidade, elas não afetam diretamente as fontes de economia do município, mas a ocupação das mesmas contribui para o fortalecimento do comércio local, como supermercados, distribuidoras de bebidas e açougues.