Geral

2,3 milhões de goianos estão inadimplentes

Fábio Lima / O Popular
Cristiane Castro de Oliveira: auxiliar de serviços gerais se considera superendividada após um empréstimo

O consumidor goiano ficou mais endividado e inadimplente este ano. Um levantamento feito pela Serasa mostrou que, no último mês de outubro, o número de pessoas no estado com crédito negativado era 9,3% maior que no mesmo período do ano passado. Estas pessoas tinham 12% mais dívidas e também deviam um valor total 19,2% maior que em 2021. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Confederação Nacional de Comércio, Bens e Serviços (CNC), mostra que estão endividadas 60,5% das famílias goianas, contra 53,5% no ano passado. 

Dados do Banco Central também revelam um aumento do nível de endividamento e do comprometimento da renda das famílias. Para economistas e especialistas em finanças pessoais, estes números impactam não só o orçamento das famílias, mas também contribuem para a desaceleração da economia, pois quem está endividado tende a consumir menos. Este comportamento acaba se refletindo nos indicadores da indústria e do comércio. 

De acordo com a Serasa, em outubro, quase 2,3 milhões de goianos estavam inadimplentes. Para a gerente da Serasa, Camila Cruz, entre as principais causas da inadimplência dos consumidores estão a alta da inflação, o desemprego ainda elevado e a desorganização financeira. Ela explica que, com preços mais altos e a renda mais achatada, as pessoas acabam recorrendo mais ao cartão de crédito para comprar coisas básicas para o dia a dia, como alimentos e combustíveis. O limite do chamado “dinheiro de plástico” tem sido utilizado como um complemento de renda. 

Aliás, o cartão de crédito continua sendo o maior vilão do endividamento das famílias, por ser um crédito de fácil acesso e ter juros muito elevados. De acordo com a PEIC, em outubro, 80,3% dos endividados tinham dívidas no cartão. A pesquisa Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2022, da Serasa, mostra que das dívidas contraídas no cartão de crédito, 65% correspondem a compras em supermercados.

Quem está inadimplente não tem crédito no mercado para comprar e não ajuda a movimentar a economia. “Uma mostra disso tivemos no desempenho da Black Friday. A economia vive de oferta e demanda”, destaca Camila Cruz. Para tentar reduzir o problema, a Serasa tem realizado feirões de renegociação, que têm tido uma grande procura. Quem está inadimplente pode procurar o Feirão Serasa Limpa Nome, através dos canais digitais da empresa, para renegociar. A edição atual do evento termina hoje.

Inflação e juros altos

Para a economista da CNC, Izis Ferreira, as altas do endividamento e da inadimplência são resultado de um conjunto de fatores, como a inflação pressionando o orçamento das famílias e o contexto de juros altos, com o encarecimento do crédito. Segundo ela, a desaceleração da inflação nos últimos meses também reflete a queda no poder de compra das famílias.

Izis lembra que a concessão de crédito a pessoas físicas com recursos livres aumentou em um ano, junto com o custo. “Quando pego todas as modalidades de crédito, a taxa média é de 56,6%, uma alta de 13,5% em um ano”, destaca. Num contexto de inflação alta pressionando a renda, há uma maior dificuldade para pagar isso. “As pessoas se endividam mais e em mais modalidades, com valores maiores de dívidas”, completa.

De acordo com a PEIC, 19% dos endividados possuem contas em atraso, 3 pontos porcentuais a mais que em 2021. A economista alerta que este endividamento e a alta dos juros já estão desaquecendo a economia via queda no consumo, como tem mostrado a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE. “Não há espaço para fazer mais dívidas e o crédito mais caro também perde sua capacidade de fomentar o consumo”, explica. Além disso, a estimativa é que os juros ainda continuem altos por algum tempo.

Superendividamento

A PEIC da CNC também mostrou que, em outubro, 11,3% dos consumidores goianos se consideravam muito endividados e 18,6% mais ou menos endividados, principalmente aqueles com menor renda. É o caso da auxiliar de serviços gerais Cristiane Castro de Oliveira, que hoje se considera uma superendividada e sabe que terá muita dificuldade para saldar todas as dívidas que contraiu nos últimos meses. 

Com uma renda mensal de cerca de R$ 1,4 mil, ela hoje paga cerca de R$ 350 mensais de fatura de cartão de crédito e uma parcela mensal de quase R$ 500 de um empréstimo bancário feito para custear uma pequena reforma em casa. “Estou bem endividada hoje. Por isso, estou tendo de cortar todos os gastos supérfluos para conseguir pagar o que devo e conseguir me manter ao longo do mês”, admite.

Cristiane diz que hoje se arrepende de ter pego este empréstimo no último mês de julho, pois nem conseguiu fazer a reforma que pretendia, gastou boa parte do dinheiro e ficou com uma dívida enorme perto do valor de seu orçamento mensal. 

O pior é que ela sabe qual foi a taxa praticada na operação, mas reconhece que os juros foram muito altos, pois pagará 24 parcelas de R$ 500 por um empréstimo de R$ 4 mil. “Na hora, a gente nem pensa muito e acaba fazendo tudo errado. Os próximos meses serão bem difíceis, pois vou passar um aperto grande”, prevê. 

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