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500 mil pessoas devem passar pela Vila de Muquém até o dia 15

Reprodução / TV Anhanguera
Centenas de barracas abrigam famílias que participam da mais antiga romaria religiosa do estado

Em poucos dias, toda a área em torno do Santuário Diocesano de Nossa Senhora D’Abadia de Muquém, no município de Niquelândia, norte de Goiás, se transforma. Para a mais antiga romaria religiosa do estado, centenas de barracas são levantadas num piscar de olhos para abrigar famílias e um comércio pulsante. Em 2023, a festa religiosa completa 275 anos, e o calor escaldante de agosto não afugenta os devotos. A previsão é que esta será a maior romaria dos últimos tempos à Vila de Muquém, por onde devem passar até o dia 15, 500 mil devotos, o dobro do ano passado.

Por duas vezes secretária de Cultura de Niquelândia, a pedagoga Ana Mathilde Martins de Souza, 61 anos, é uma apaixonada pela história da romaria. Filha de Niquelândia, ela relata que as narrações lendárias e a longevidade da romaria religiosa sempre a impressionaram muito. Embora haja muitas versões, ela se apega na história de que o local de devoção foi um dia um quilombo, formado por escravos foragidos de minas auríferas da região. Eles viviam em paz com um português que explorava ouro na região e para afugentar a fiscalização de um capitão-do-mato enviado pelo rei, prometeu a Nossa Senhora D’Abadia que a cultuaria.

Segundo Ana Mathilde, Antônio Antunes de Carvalho cumpriu o que prometeu. “Quando os homens do rei chegaram à mina do quilombo, uma carne estava sendo preparada e eles só viram fumaça, por isso passaram a chamar o lugar de Muquém.” De origem tupi, a palavra Moka’em significa “carne preparada sobre uma grelha. O português entrou em território baiano e de lá seguiu de navio para Portugal de onde trouxe a imagem de Nossa Senhora D’Abadia que hoje é reverenciada num santuário construído em área privada e preservada, com muito verde e serras à vista. No lugar ainda sobrevivem poucas construções coloniais.

Os fiéis chegam de todo lugar e muitos fazem longas caminhadas. Boa parte se organiza em grupos familiares. De acordo com a Diocese de Uruaçu, responsável pela romaria, ainda há muitos devotos pelas rodovias do norte de Goiás caminhando para chegar ao Muquém. “Eles chegam de todos lugares, de Minaçu, Uruaçu, da Bahia, de Minas Gerais, andam durante dias”, conta Ana Maria, da Cúria Diocesana. O principal acesso a agora Vila de Muquém é pela GO-237, a chamada Rodovia da Fé, onde o movimento é intenso desde o início de agosto. Nesta quarta-feira (9), o comerciante Idail Afonso Barroso, de Minaçu, morreu ao cair de uma mula no trajeto para o santuário, entre Minaçu e Colinas, no lado oposto à GO-237. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Seu enterro aconteceu nesta quinta-feira (10).

Este ano, a GO-237 ganhou um novo Centro de Apoio ao Romeiro (CAR), mais estruturado, semelhante ao que a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) e o Goiás Social montaram em Trindade. O CAR está localizado no km 30 da Rodovia da Fé e vai funcionar até o dia 15 deste mês oferecendo serviços gratuitos. A expectativa é de que até o fim da festa religiosa, mais de 50 mil pessoas sejam atendidas no local. O Governo de Goiás também instalou defensas na rodovia para garantir mais segurança para os romeiros que se dirigem ao santuário.

Em 2023, a romaria tem como tema central Maria, Mãe das Vocações, Santuário da Família. Entre 5 e 15 de agosto há uma intensa programação religiosa para quem busca a Vila de Muquém como um lugar de oração. São missas, procissões, alvoradas, terços, confissões, entre outras atividades. O próximo final de semana promete um movimento maior, mas o ápice da peregrinação será mesmo na terça-feira (15), com a missa festiva, procissão e coroação de Nossa Senhora D’Abadia. As celebrações terão à frente o bispo diocesano dom Giovani Caldas Carlos Barroca, de Uruaçu.

Ana Mathilde, que nasceu e se criou em meio à festa religiosa, agora repassa a devoção aos dois netos. “Eu gosto demais dessa festa. É ali que reencontramos os amigos que moram fora. A maioria das pessoas vêm para rezar, mas o Muquém é um misto de loucura”, afirma a pedagoga que vem se dedicando a um projeto voltado para o turismo.

“Acredito que Niquelândia tem um grande potencial, não apenas pela festa religiosa”, compartilha. O diferencial de Muquém é que os devotos precisam acampar. Não há hospedagens nas imediações do santuário. Os hotéis mais próximos ficam em Niquelândia, a 45 km, onde Ana Mathilde pretende inaugurar em breve a sua pousada.

O lado profano concorre com o religioso

A Romaria do Muquém não é a maior - perde para Trindade - mas é a mais tradicional de Goiás. E, como todos os lugares que recebem uma multidão mobilizada pela fé, atrai sempre muitos políticos, especialmente em anos eleitorais.

Ali, independente de crenças e credos, eles se misturam aos devotos, disputando a atenção. E tem o lado profano que também é intenso. Muquém não é apenas religiosidade. Este ano, na Barraca Niquelândia, por exemplo, o palco será ocupado por nomes proeminentes da música sertaneja, como Gino e Geno e Di Paullo e Paulino.

Na área comercial do santuário, com as bençãos da Igreja Católica e do Governo de Goiás, os Lounges do Rancho Comitiva Pé de Burro vão contar com a presença de Naiara Azevedo (dia 12), Murillo Huff (dia 13) e Amado Batista (14). Para os oito dias de apresentações, o passaporte custa R$ 3,5 mil. Se o tempo esquentar demais, perto dali há a cachoeira do Rio Bagagem, destino muito procurado por quem passa pela Vila de Muquém durante a romaria.

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