De cada dez partos realizados em Goiânia em 2020, sete foram cesáreos (69,7%). O índice já foi de 71,6% em 2015 e foi sendo reduzido lentamente ao longo dos anos. O recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de até 15%. Os dados contemplam o sistema público e o privado. O número absoluto de nascimentos também está em queda na capital. Em 2015 foram 22.866 e no ano passado, com dados preliminares, o resultado chegou a 18.689.
No Estado, o índice de nascimentos em partos cesáreos foi ligeiramente inferior ao da capital em 2020: 68,44%. Em números absolutos foram 63.493 ante 29.262 (31,56%) normais.
Em Goiânia, números repassados pela assessoria da Secretaria Municipal de Sáude apontam que no Sistema Único de Saúde (SUS) maior participação dos partos normais. Na capital, os partos normais foram 57% em 2021 e 53% em 2022.
A reportagem pediu na última terça-feira (31) uma entrevista com um representante da SMS para comentar os resultados e eventuais políticas públicas para reverter o cenário. No entanto, embora a assessoria de imprensa tenha encaminhado alguns dados, não houve resposta aos questionamentos.
A Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) foi procurada nesta sexta-feira (3) para prestar esclarecimentos sobre a realidade no estado, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.
Secretária da Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia e preceptora Coordenadora da Residência Médica em Obstetrícia do Hospital Estadual da Mulher (Hemu), Luiza Emylce Pela Rosado pontua que ambos os procedimentos têm vantagens e desvantagens. Para a profissional de saúde, a decisão deve levar em contata primeiramente os critérios médicos e a preferência da mulher.
“Esta questão é resultado de algo meio aleatório, uma reunião da década de 1980, 1990. Desde então, foi mantida a orientação da OMS”, contextualiza Luiza.
A médica cita que há décadas há pesquisas mostrando algumas vantagens do parto normal. No entanto, ela frisa que para que isto ocorra, é necessário observar do ponto de vista de saúde, cada ponto individualizado. “É preciso observar se este feto não está em sofrimento, é muito grande, está na posição inadequada ou a mãe tem uma doença que contraindica o parto normal”, esclarece Luiza.
A especialista pontua ainda que a preferência da mulher pode mudar de acordo com o avanço da gestação. “Algumas pesquisas, também lá dos anos 2020, têm mostrado que a mulher no começo da gravidez desejaria mais parto normal do que a cesárea, e ao final, menos de 50% desejaria o normal”, diz.
A maior proporção de partos normais na rede pública na comparação com as cesarianas na rede pública são, na visão de Luiza, um reflexo da falta de escolha da mulher.
A profissional explica também que o parto normal carece de estruturas que são imprescindíveis para uma experiência mais confortável para a mulher. “Às vezes não tem analgesia -procedimento que reduz a dor, bola para apoio, há falta de tempo da equipe médica que às vezes atende muitas pessoas ao mesmo tempo. Há uma cultura brasileira que favorece o parto cesáreo”, afirma ela.
Sobre o parto normal, Luiza cita vantagens como a recuperação mais rápida da mulher, redução no risco de infecção. “Se não houver nenhum tipo de sutura, no outro dia a mulher está apta para cuidar do bebê.”
A médica acrescenta que podem ocorrer incontinência no caso do parto normal, “mas menos do que as pessoas falam”, mas que há aumento da flacidez vaginal. Luiza pontua que no caso do parto normal, também seria importante haver disponibilidade pra fisioterapia pélvica.
Sobre a cesariana, Luiza afirma que o corte exige maior repouso, no caso de ele ser recorrente - pela realização de outros procedimentos do tipo - pode haver dor e até a ocorrência de absorção da placenta pelo útero, o que pode comprometer futuras gestações.
Experiências distintas
Fernanda Carvalho, de 33 anos, é mãe pela segunda vez. O primeiro nascimento foi há 11 anos. Nos dois procedimentos ela optou pela cesareana. “O primeiro eu não tinha muita noção do que era o parto e a diferença de procedimento para o outro. Minha mãe e minhas tias fizeram cesáreas e por isto eu acabei optando pela cesárea”, conta. Para o segundo procedimento, ela disse ter se informado bastante e o fez com consciência e segurança. “Tive receio de ficar várias horas em trabalho de parto e no último instante ir para a cesárea, a questão do tamanho do bebê, eu sou muito pequenininha”, acrescenta ela.
Mãe pela primeira vez, Layane Nathaly, de 22 anos, escolheu o parto normal. O procedimento foi feito na rede particular e ela diz que o plano a abasteceu com cursos e muita informação sobre o procedimento.
“Eu diria para quem vai dar à luz que é preciso levar em conta todas as informações possíveis, caso seja na rede pública, pesquisar sobre o hospital, os médicos que ali trabalham, se for particular também. Estude para saber o processo”, explica.
Layane considera que o filho se desenvolveu melhor por causa do tipo do parto. “Meu filho teve contato comigo de imediato. Eu noto a diferença dele com outros bebês da família. Ele é mais acelerado, se adaptou melhor à amamentação. O desenvolvimento dele por completo é muito bom”, diz.