Geral

91 cidades goianas estão em alerta para dengue

Wildes Barbosa
Agentes de endemias fazem vistoria na no Residencial Eldorado: pneus são apenas uma das preocupações

GABRIELLA BRAGA

Goiás tem 91 municípios em estado de alerta para a dengue. O número, atualizado diariamente, causa preocupação à Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) diante de uma possível nova epidemia neste ano. Inversão do sorotipo predominante em circulação, e a irregularidade nas chuvas e nas temperaturas são os fatores para o cenário. Poder público chama atenção para eliminação de focos de proliferação do mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da doença.

O alerta para a dengue é calculado com base na média de casos esperado para cada município, e o total de notificações confirmadas. Superintendente de Vigilância em Saúde do Estado de Goiás, Flúvia Amorim aponta que ainda não dá para ter certeza como será o cenário em 2024, mas já aponta que, no verão, pode ser tão crítico como em 2022. “A pior epidemia que já tivemos no estado”, pondera. Alertas para o aumento na disseminação dos vírus transmitidas pelo mosquito já foram emitidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por conta do fenômeno climático El Niño.

Além da dengue, o Aedes aegypti pode transmitir zika e chicungunha. Entretanto, a maior circulação é a dengue. São quatro sorotipos do vírus causador desta última. Em Goiás, explica Flúvia, a incidência é do tipo 1 e 2. “O 2 ficou três anos sem circular”, relata, ao acrescentar que agora o vírus voltou a ser mais predominante, a chamada inversão viral. Com isso, o risco de uma nova epidemia é maior. “Não tem uma resposta única. As pesquisas falam que quando tem uma grande epidemia para cada sorotipo que pega fica permanentemente protegido contra ele, e para os outros fica protegido por um tempo menor. Dificilmente se ficar o mesmo sorotipo tem dois anos epidêmicos pelo mesmo. Mas quando tem a mudança do vírus, muda o cenário”, explica.

Ainda conforme Flúvia, o estado conseguiu se manter abaixo da média nacional no ano passado, com 68.574 ocorrências da doença confirmadas. “O sorotipo 1 era predominante, como não teve mudança em 2023, não teve problema”, explica. No entanto, 2022 este foi o pior da série histórica. Naquele ano, foram 194.608 casos confirmados de dengue, um aumento de 212% em relação a 2021, quando 62.221 infecções foram apontadas no estado.

Para se ter ideia do motivo da preocupação com a situação atual, a superintendente já havia apontado, em entrevista à TV Anhanguera nesta quarta-feira (17), que 64 municípios goianos estavam em alerta. Um dia após, nesta quinta-feira (18), Flúvia informou que são 91 cidades, um aumento de 29 localidades. Nos primeiros 18 dias do mês já foram confirmados 3.339 casos de dengue em Goiás. Destes, um óbito já foi confirmado, em Uruaçu, no Norte goiano, e outros três suspeitos estão em investigação.

Diante do aumento, a SES-GO tem orientado aos municípios na preparação para a assistência de saúde rápida em relação aos quadros graves. A exemplo, o painel da pasta, chamado de diagrama de controle, também permite que os “gestores municipais possam monitorar diariamente se está com tendência de subida, para que se preparem para atender o aumento de demanda”. A secretaria também monitora o avanço do sorotipo 3, que até o momento não chegou ao estado.

Outros fatores de alerta elencados por Flúvia, além da irregularidade nas chuvas decorrentes do El Niño, incluem o controle dos vetores. Conforme ela, levantamentos municipais apontaram que o principal criadouro de mosquitos está no lixo. Em outras situações, em barris e tonéis que moradores utilizam para guardar água. Por isso, aponta, também tem sido feita uma orientação aos municípios sobre a “importância do controle do vetor e manejo ambiental, tirando o lixo no tempo correto.”

Combate

Gerente de Controle de Animais Sinantrópicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Wellington Tristão explica que a equipe de combate a endemias tem reforçado as visitas em casas, comércios e demais áreas, como lote baldios, para prevenir focos de proliferação do mosquito Aedes aegypti. As inspeções feitas bimestralmente por agentes de combate a endemias visam localizar possíveis pontos de acúmulo de água, e os eliminando.

“Com o início do período chuvoso aumentamos a intensidade do nosso trabalho. Isso significa que vamos fazer mais eliminação de criadouros, e trabalho de saúde ambiental para evitar o nascimento do mosquito. Agora também tem um agravante que as pessoas viajaram para vários locais e estão voltando para suas casas e também podem estar trazendo os vírus. Então estamos atentos”, pondera. Na capital, são sete distritos sanitários com mais de 800 profissionais que fazem as visitas domiciliares periódicas.

Dentre os pontos de intensificação do trabalho, estão visitas em pontos de alto risco de proliferação, tais como ferros velhos e borracharias. O jornal acompanhou nesta quinta-feira (18) a visita de agentes a um imóvel onde é feita laminação de pneu, um serviço que transforma pneus inservíveis em outros produtos. O local é considerado de maior risco por conta dos pneus, que podem acumular água. O proprietário Arlindo Eustáquio, de 69 anos, entretanto, segue as orientações sobre o manejo correto. “Estão sempre orientando aqui junto com a gente. Ajuda muito”, conta.

A agente de combate a endemia Vera Lúcia Cândida, de 63 anos, explica que na prática profissional há ainda moradores que recusam a entrada dos profissionais. “Alguns são mais resistentes, falam ‘na minha casa não tem nada’. Às vezes não tem nada que dá para a pessoa ver, mas o agente chega e vê”, explica. Conforme ela, são vários locais inusitados que os ovos larvais podem ser colocados. Um desses, por exemplo, pode existir por mais de um ano em um local seco. Quando entra água novamente, ele pode eclodir. “A questão é muito séria. Os moradores deveriam se conscientizar mais a respeito.”

Vacina será ofertada no SUS

A nova vacina contra a dengue, chamada de Qdenga, será incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS) pelo Ministério da Saúde (MS). Entretanto, ainda não há previsão de quando isso deve ocorrer. A expectativa é que seja divulgada a quantidade de doses para cada estado durante a reunião do Comissão Intergestores Tripartite (CIT), no início de fevereiro, que engloba secretarias de estado e conselhos de saúde. A informação foi repassada pela superintendente de Vigilância em Saúde do Estado de Goiás, Flúvia Amorim.

Indicada para pessoas com idade dee 4 a 60 anos, a vacina é a segunda contra a doença a ser produzida no mundo, e a primeira a ser ofertada pelo SUS. No Brasil, num primeiro momento, a aplicação só estará disponível para a faixa etária de 6 a 16 anos. Conforme o MS, a farmacêutica japonesa Takeda Pharma ainda não consegue produzir em larga escala para fornecimento a toda a população brasileira.

A infectologista Marília Turchi, do Laboratório Padrão, explica que, diferentemente da primeira vacina da dengue, a Dengvaxia, a Qdenga pode ser aplicada em indivíduos que já tenham sido infectados, e também naqueles que ainda não foram. A primeira exige infecção natural prévia para a aplicação. No entanto, há contraindicações, como grávidas, lactantes, e pessoas imunodeprimidas. Nos demais casos, a rede privada já oferta o imunizante, que é aplicado em duas doses. O valor médio é de cerca de 400 reais.

“Dá proteção para os quatro tipos, sobretudo nas formas graves. Entretanto, não protege igualmente para todos os tipos”, pondera. A médica destaca ainda que a vacinação é uma forma de garantir a proteção individual, e também coletiva, visto que a dengue tem uma forma de transmissão vertical, ou seja, o mosquito e o ser humano podem infectar um ao outro. E acrescenta: “sozinha não vai resolver tudo, tem que ter medidas de prevenção, como eliminar criadouros de vetores e fazer a proteção individual, a exemplo dos repelentes.”

Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI