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Ações policiais em Goiás resultaram na morte de 579 pessoas em 2021

Diomício Gomes
Chácara, em Araçu, onde oito suspeitos morreram em ação da PM

*Atualizada às 15h desta sexta-feira (10)

O número de pessoas mortas em ações policiais no estado de Goiás caiu 9% em 2021 na comparação com 2020. Apesar disso, os registros mantiveram margem elevada. Com 579 mortos, 2021 foi o segundo ano com maior letalidade policial de toda a série histórica disponível, iniciada em 2008.

As informações sobre letalidade da polícia goiana não eram divulgadas havia dois anos. Isso porque a Secretaria de Segurança Pública (SSP) passou a considerar os dados sigilosos. A posição isola o estado dos demais, sendo o único a não revelar os números, de forma que diversos levantamentos sobre segurança pública passaram a excluir Goiás. Os números de 2021 foram obtidos pela rádio CBN Goiânia.

O POPULAR mostrou, em reportagem divulgada em 2020, que a SSP contabilizou 535 mortes causadas por policiais em 2019. O número representou uma alta de 24,7% na comparação com 2018, quando ocorreram 424 óbitos. No ano seguinte, em 2020, os registros seguiram altos, com 623 óbitos, acréscimo de 16,4% em relação a 2019.

Diante da redução observada em 2021, que ficou em 9%, o representante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Thyone, que é perito criminal aposentado, diz que é necessário haver cautela para compreender se redução significa uma tendência de queda. O estudioso destaca que apesar do encolhimento, os números de 2021 mantiveram-se em patamar elevado.

“Como os números estavam muito altos, há essa sinalização de queda. Mas é necessário observar pelo menos mais dois anos”, considera. 

Histórico

A letalidade policial em Goiás começou a apresentar tendência de crescimento em 2011. Os números anteriores oscilavam com média de 60 casos. Em 2012 foram 81 casos, que oscilaram para 79 em 2013. Totalizaram 96 em 2014 e seguiram crescendo progressivamente nos anos seguintes. Foram 141 em 2014; 225 em 2016; 270 em 2017; 424 em 2018, alcançando o recorde registrado em 2020.

Os números consideram as mortes por servidores da Polícia Militar (PM) e da Polícia Civil (PC). Do total de mortes registradas em 2020, 622 foram causadas por policiais militares e outras 14 por policiais civis. Em 2021 foram 572 mortes por policiais militares e sete por policiais civis. Atualmente a PM tem 10,9 mil servidores ativos e a PC 3,6 mil.

Brasil

Os números somados dos estados mostram que em 2021 o Brasil contabilizou 6.133 mortes pela polícia. O País também passou por tendência de crescimento da letalidade policial, saindo de 3,3 mil em 2015 e alcançando o pico de 6,3 mil em 2019. Ainda assim, porcentualmente as altas foram, em média, bem inferiores às registradas em Goiás anualmente.

Na comparação com 2015, o Brasil teve uma alta de 26,8% das mortes registradas em 2016, contra 60% de alta em Goiás. No ano seguinte as altas foram equilibradas, com 23,7% na média nacional e 20% em Goiás. Em 2018 a alta foi de 57% em Goiás e 18% em todo o Brasil. No ano seguinte a diferença aumentou ainda mais, com 3,28% de aumento nacional e 24% no território goiano.

Quando se observa a proporção das mortes por policiais registradas nos municípios goianos ante aos números nacionais, a constatação é de que em 2021 os óbitos em Goiás representaram 9,4% do total. Em 2014 a porcentagem era de 4,23%. Em 2019, com recorde nos registros, as mortes em Goiás representaram 13% do total. A população goiana representa 3,37% do número de brasileiros, conforme estimativa do IBGE de 2021.

Casos

Entre os casos de operação policial com repercussão, o de Araçu chamou a atenção. No dia 7 de dezembro do ano passado, a ação resultou na morte de oito suspeitos de integrar uma quadrilha interessada em roubar um banco no interior de Goiás. A conclusão tanto da Polícia Civil como da PM, em suas investigações, é que os policiais militares agiram em legítima defesa, portanto não cabia indiciá-los por homicídio.

Mais recentemente, a morte de quatro pessoas na Chapada dos Veadeiros, em 20 de janeiro deste ano, também ganhou repercussão. Na ocasião, a Polícia Militar informou que as vítimas seriam traficantes de drogas e que os militares foram recebidos a tiros. A versão foi contestada e o caso está em investigação.

Confrontos ferem e matam agentes 

Ao mesmo tempo, os policiais também seguem sendo vítimas de confrontos. Em 2020, cinco policiais militares de Goiás foram mortos e em 2021, quatro. No detalhamento daqueles feridos em operações, a SSP contabiliza que 120 sofreram ferimentos em serviço em razão de confrontos. Em 2021 foram 151 policiais feridos em operações.

Nacionalmente, 385 policiais foram mortos em 2017; 330 em 2018; 186 em 2019; 221 em 2020 e 183 em 2021.

Para Cássio Thyone, representante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o menor número de mortes de policiais em comparação com as mortes de civis não pode ser considerado um atestado de efetividade das ações policiais. “Não podemos encarar o trabalho policial como uma carta branca para matar”, pondera o estudioso.

Caminhos

Para Thyone,  existem tendências de ações que estão sendo realizadas no Brasil e que podem ser o caminho para a redução da letalidade policial. Ele cita o uso de câmeras de segurança em uniformes da Polícia Militar como exemplo.

“Nesse caso é preciso destacar que não há a finalidade exclusiva em fiscalizar o policial e sim tornar as ações mais transparentes, inclusive para defender um policial de uma acusação”, defende sobre as câmeras em fardas.

Em São Paulo, houve redução de 85% nas mortes durante ações policiais nos batalhões que implementaram a filmagem dos agentes de segurança pública. Foram comparados os últimos sete meses de 2019 com os de 2020.

 Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (UB), ao ser perguntado sobre câmeras em uniformes da PM afirmou, durante entrevista coletiva no final do último mês, que pretende instalar câmeras nos presídios, ao indicar que não concorda com a medida. “O primeiro lugar no Brasil em segurança pública é o estado de Goiás, as pessoas estão vindo para cá copiar a segurança”, afirmou na ocasião.

Transparência

A transparência é outro destaque de Thyone para que o estado consiga avançar na redução da letalidade policial. “Os fatos geram dados e esses dados têm de ser mostrados para a sociedade, porque temos direito de saber o que está sendo feito com o dinheiro público. Não vejo justificativa para esconder, já que não há nada a esconder”, considera. “Sem esses dados não conseguimos saber se está dando certo.”

*Inicialmente a matéria considerava 825 mortes atribuídas a policiais em 2019. O dado, porém, não era o oficial apresentado pela SSP. Assim, os números foram corrigidos.

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