O desabamento de um reservatório com capacidade para 1 milhão de litros de água em Senador Canedo que destruiu seis casas e deixou um adolescente gravemente ferido nesta quinta-feira (8) foi “um risco assumido”. É o que afirma um técnico da Agência Municipal de Saneamento (Sanesc).
Sem se identificar, o servidor que faz parte da equipe de engenharia diz que, dada a característica da estrutura, a construção tão próxima de residências causa estranhamento. A estrutura foi construída em 2016 e teve as operações iniciadas em 2019.
Pelo registro de uma câmera de segurança, o acidente aconteceu às 9h50. O reservatório de água instalado na Praça Bom Jesus, entre a Rua Cloves Bertoldo de Souza e a Avenida Presidente Roosevelt era do tipo caixa d’água cilíndrica apoiada de fundo reto.
O modelo é indicado para abastecimento urbano e considerado seguro. Na parte interna, a de Senador Canedo era dividida em níveis superior e inferior. Uma hipótese que surgiu logo após o acidente foi de que o reservatório estaria com a parte de baixo vazia e a seção de cima cheia, podendo ser este um dos motivos do colapso.
A possibilidade é vista como “improvável” pelo diretor operacional da Sanesc, Arthur Moreira. “Nós temos uma equipe que passa todos os dias em todos os reservatórios da cidade averiguando exatamente isso, como estão as partes alta e a baixa, quando é bipartite como aqui”, diz o diretor, que acrescenta: “Sem uma análise técnica sobre soldagem e qualidade do material é difícil afirmar o que aconteceu”.
A vida útil de reservatórios do mesmo tipo vai de 15 a 20 anos, sendo que após esse período é possível fazer um reforço estrutural para manter o reservatório em funcionamento.
O custo médio é de R$ 500 mil. Apesar de o nome da empresa responsável pela construção ser questionado, a Sanesc decidiu não informar, porque, segundo a Agência de Saneamento, ainda está analisando os documentos. A obra foi feita por uma empresa privada de construção civil como contrapartida para garantir o abastecimento de um condomínio no município, esse também sem nome divulgado.
O presidente da Sanesc, Cainã Teodoro, diz que é cedo para apontar as razões do colapso da estrutura. Cainã afirma que no Plano Municipal de Saneamento a caixa d’água não foi considerada irregular, nem pela estrutura e nem pela localização.
O presidente diz, porém, que será necessário analisar os projetos. “Será necessário ver todas as documentações e projetos, as viabilidades, ver as questões de licenciamento para entender porque este reservatório foi construído aqui”, pontua ao ser perguntado se o local era o mais apropriado. No total, 15 bairros eram atendidos pela estrutura.
Risco
Técnico da Sanesc que não quis ser identificado diz que, apesar de não existir proibição técnica para a construção tão próxima de residência, o ideal seria que fosse mais afastada. “Nos cursos de engenharia nós vemos repetidas vezes sobre o conceito de ‘risco assumido’. É o tipo de coisa que pode acontecer, mesmo sendo improvável”, afirma o técnico, que considera: “Foi um risco assumido”.
No momento do colapso, o reservatório tinha 600 mil litros de água. A queda atingiu seis casas, destruindo uma por completo e atingindo as estruturas das demais de forma parcial.
Moradores relatam momentos de terror e prejuízos
O reservatório nunca foi preocupação para Terezinha Aparecida de Matos, de 69 anos, que há 15 vive no bairro. Ontem (8), porém, Terezinha foi surpreendida com o som da queda, que na sequência se transformou em uma pilha de escombros invadindo sua casa. A residência de Terezinha fica em frente à caixa d’água que desabou e do lado da residência de Yuri Louredo Giuliani, adolescente de 18 anos que ficou gravemente ferido e teve a moradia completamente destruída.
Segundo informações do Corpo de Bombeiros, Yuri dormia no momento do acidente. A casa dele foi atingida pela tampa do reservatório e por todo o fluxo de água. Após ser retirado dos escombros, ele foi encaminhado para o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). Na atualização da noite desta quinta Yuri seguia em estado grave, mas não corria riscos de vida.
“Um menino muito bom”, diz Terezinha sobre Yuri. Andando sobre a lama que invadiu a casa, entre móveis caídos e vários deles destruídos, a aposentada conta que no momento só conseguiu pensar na bisneta, que mora na casa da frente. “Eu cheguei de viagem na segunda-feira, tinha arrumado toda a casa e agora está assim”, se queixou apontando a destruição que derrubou a parede que dividia a casa com a de Yuri.
Maria José dos Santos, de 58 anos, que mora e tem um comércio no bairro, conta que ela e alguns vizinhos tinham medo de que a estrutura pudesse cair. “Não tinha uma pessoa que passasse aqui que não dizia: ‘gente essa caixa não é certa’. Ela estalava de vez em quando”, lembra Maria. A casa da comerciante foi invadida por lama, mas o maior prejuízo foi em sua loja de roupas e produtos cosméticos. “Não dá para saber quanto tivemos de prejuízo, porque não deu para entrar lá ainda”, relata.
O prefeito Fernando Pellozo (PSD) visitou as casas e disse que a prefeitura irá assumir os prejuízos. “Se necessário nós utilizaremos novos recursos imediatamente, se preciso com declaração de emergência.”
(Luiz Phillipe Araújo é estagiário do GJC em convênio com a UFG)