O adolescente de 16 anos que foi apreendido em Goiânia na manhã desta quinta-feira (27) depois de terem sido identificadas conversas em que ele admite o interesse em praticar ataques contra a escolas em Goiás, admitiu ser fã do nazismo, ter conversado sobre os temas, mas afirmou que a fala sobre o ataque seria uma brincadeira.
Nas conversas já identificadas nos dois celulares do rapaz, ele também enaltece os responsáveis pelos dois maiores massacres contra escolas já registrados no Brasil, em Realengo (RJ) e em Suzano (SP).
Titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Marcella Orçai afirma que o jovem faz parte de grupos na internet dos chamados “school shooters”, que são os atiradores de escolas.
Em uma conversa realizada em abril, ele teria falado que já estaria pronto para cometer algum ataque, já que teria facilidade em acessar material bélico. “Agimos como prevenção. Existia a possibilidade dele praticar os atos? Existia. Então podemos dizer que nós prevenimos um ataque. Não se trata de um menor que aleatoriamente conversava na internet e admirava Hitler, estamos falando de um menor tinha acesso a material bélico e que falava em atacar escolas.”
Depois que o caso chegou à DPCA, encaminhado pelo Ministério da Justiça, a delegada realizou mandado de busca e apreensão na casa do adolescente, que foi cumprido nesta quinta-feira de manhã. Ele estava em casa na companhia de familiares.
A delegada não informou nome ou profissão dos pais do menino porque, segundo ela, poderia atrapalhar as investigações que começaram nesta quinta-feira. “Este menor está envolvido, mas pode existir uma rede de menores e até adultos que fomentem esse tipo de ação.”
A delegada reforça que apesar das conversas mostrarem o interesse do rapaz nos temas e essa facilidade de acesso à armas, ainda não foi identificado se ele já planejava um ataque, com data ou uma possível escola como alvo.
“Mas temos um adolescente tramando e admirando pessoas que fizeram ataques em outras ocasiões. Inclusive, nas conversas do celular, ele e outro menor identificado em outro estado, conversam e enaltecem os massacres de Realengo e Suzano”.
Em 2019, em Suzano, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, junto com Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, invadiram uma escola no dia 13 de março e mataram cinco alunos e dois funcionários com armas de fogo e espadas. Antes deste massacre, os dois foram até a loja do rio de Guilherme e também atiraram contra ele. Depois do crime, Guilherme matou Luiz Henrique e se matou.
Omassacre de Realengo ocorreu em 2011, quando Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu uma escola e matou 12 crianças e feriu outras 13. Ele cometeu suicídio após ter sido baleado por um policial.
Perfil
O adolescente apreendido mantinha diversos perfis em várias redes sociais e usava estes canais para conversar com outras pessoas com os mesmos interesses. Ele é branco, de classe média, com família estruturada e, segundo a delegada, não teve medo de confessar na delegacia que é racista e que admira a doutrina nazista.
As pessoas que estavam na casa quando ele foi apreendido informaram que ele possui déficit de atenção, mas a delegada disse que, por enquanto ele é tratado como um adolescente normal, com convicção do que fazia.
Ele está matriculado e frequenta aulas na série normal para a idade e não tem qualquer acompanhamento especial, mas a delegada informa que isso será avaliado. Durante o procedimento de busca e apreensão, familiares informaram que anteriormente o rapaz apresentou comportamento estranho com relação a postagens de crimes de ódio em redes sociais por ele admirar estes casos.
Foi registrado Boletim de Ocorrência Circunstanciado por ato infracional análogo ao crime de racismo, já que o Artigo 20 da Lei do racismo consta que divulgar o nazismo, assim como praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é crime. Ele é o único investigado em Goiás, por enquanto.
Marcella Orçai destacou que agora vai ouvir pessoas que possam ter algum conhecimento sobre o caso, mas disse que precisa aguardar a perícia para entender o que ele pretendia realmente.
“O que sabemos é que ele conversava com outras pessoas, perguntavam se tinham seus parceiros atiradores, ele dizia que sim. Comentava e fazia saudações nazistas.”
Mas para saber a progressão dele nesta prática, a delegada precisa aguardar a análise dos celulares do rapaz para saber se ele começou apenas admirando estes grupos e terminou como administrador de grupos de rede social de school shooters, por exemplo.
A operação, realizada por meio da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Goiânia, contou com apoio da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos (DERCC), da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil e do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), através do Laboratório de Operações Cibernéticas (Seopi).
O Homeland Security Investigations, órgão da embaixada americana que monitora ações de massacres a escolas, compartilhou as informações com o Seopi. O adolescente foi levado para a Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (Depai). Ele seria liberado em seguida, já que por não ser ato de violência não existe previsão para que permaneça detido.