O retorno das aulas presenciais em Goiânia nesta segunda-feira (5) foi marcado por forte adesão principalmente das crianças de até 5 anos. Levantamento do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Goiânia (Sepe) aponta que 90% dos alunos da educação infantil retornaram às salas de aula, dentro da capacidade máxima permitida pelo decreto municipal. Os alunos do ensino fundamental e médio, entretanto, migraram ainda mais para as aulas on-line. Do total permitido nas salas de aula, apenas 50% optaram pelo presencial.
O último decreto da Prefeitura de Goiânia liberou a retomada, mas exige a distância de 1,5 metro entre os alunos, professores e funcionários nas atividades educacionais presenciais. Além disso, determina um espaço de 2,25 metros quadrados por aluno, para efeito de cálculo da capacidade de cada ambiente de sala de aula. As medidas já estavam sendo adotadas pela maioria das escolas quando houve um retorno, no fim de 2020. Agora, entretanto, alunos mais velhos estão escolhendo com maior frequência, as aulas virtuais.
Presidente do Sepe, Flávio Roberto de Castro afirma que a educação infantil tem tido cada vez mais procura pelo presencial. “Nas outras fases os alunos têm maior facilidade de acompanhar as aulas remotas, mas é claro que existe um porcentual, em todas as fases, que não acompanha as aulas virtuais”, completa. O cenário é compartilhado também com a Associação de das Instituições Particulares de Ensino de Goiás (Aipeg), que representa mais de 180 escolas da capital e de algumas cidades do interior de Goiás. A presidente, Eula Vilela diz que os alunos que já estavam com contratos de permanência on-line continuaram optando pela modalidade.
“Educação infantil quase que 100% dentro do porcentual liberado no decreto retornou ao presencial. Tivemos alunos que já estavam com contrato para permanecer on-line e estes continuam. Agora, com os alunos do ensino fundamental 2 houve maior adesão para aulas on-line”, completa Eula, da Aipeg. A presidente da associação afirma, entretanto, que o cenário é de insegurança e que muitos pais estão questionando se as instituições serão novamente fechadas em 14 dias, entrando no revezamento dos decretos municipais. “O decreto não fala se as instituições de ensino vão ficar fora do rodízio e nós estamos esperançosos. Entendemos que a continuidade do nosso fazer pedagógico é de grande valia. Os pais hoje já fizeram esta pergunta que ainda não temos respostas. Estamos dizendo que ainda aguardamos uma deliberação do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública de Goiás para Enfrentamento ao Coronavírus (COE) e pleiteamos uma reunião com o prefeito para fazer a solicitação”, acrescenta.
Diretora administrativa da Escola Interamérica, Andréia Leal afirma que nesta segunda (5), o retorno dos alunos de 2 e 3 anos foi de até 90% do grupo que já estava frequentando as salas de aula dentro da limitação. Entre 4 e 6 anos, voltaram 80% e os números foram caindo conforme a faixa etária aumenta. Entre 7 e 10 anos, 70% e os alunos do 5º ao 6º ano, 40% do total permitido. Apesar disso, Andréia pontua que o retorno após feriado é sempre tímido e que geralmente as famílias têm esperado uns dois ou três dias para voltar à escola. Assim, os números tendem a aumentar ao longo da semana. O local também possui divisão em dois grupos e rodízio entre os estudantes.
A Aipeg citou algumas instituições como o Berçário Smart Baby e Cirandinha Kids, ambos localizados no Jardim América, nos quais todos os alunos retornaram. No Integrarte Berçário Escola, localizado no Jardim Planalto, 80% das crianças voltaram. Roseli Maria Rizzo, diretora pedagógica do Colégio Goyases, no Conjunto Riviera, afirma que por lá a situação foi um pouco diferente e que apenas 50% dos alunos que estavam frequentando a escola antes deste último decreto retornaram. “Acredito que nos anos finais nossa maior queda presencial foi muito por conta da facilidade em acompanhar as aulas de forma on-line”, acrescentou.
Confiança
Isabela Rodrigues de Oliveira, de 27 anos, é analista de licitação e mãe do Teodoro Borges de Oliveira, de 3 anos. Desde o fim do ano passado, ela conta que optou por deixar o filho ir à escola todas as vezes que o decreto permitiu. Ela trabalha com licitação na área de distribuição de medicamentos e materiais hospitalares e não teve a opção de home office desde o início da pandemia. Assim, Isabela não poderia cuidar dele pessoalmente. Com isso, acredita que a escola foi a melhor opção.
“Quem fosse ficar com ele também estaria exposto ao vírus. Na escola tem álcool em gel, aferem a temperatura, fazem testagem regular dos colaboradores. Tem tapete sanitizante na entrada e se a criança apresentar qualquer sintoma gripal, não aceitam. Também me preocupei com o psicológico dele, que ficaria mais tempo na TV, por exemplo. Sempre me preocupei também com alimentação equilibrada, com redução do uso das telas e com atividades psicopedagógicas, então a escola pesou na minha escolha. Na quarta-feira de carnaval teve um positivo na escola, suspenderam as aulas e só retornaram depois dos testes negativos”, finaliza.
Psicopedagoga e psicanalista, Mayara Orlandi, de 31 anos, decidiu não retornar. O filho, Enzo Dihl Nunes, de 3 anos e 11 meses saiu da escola logo no início da pandemia e ela afirma que ainda não sabe quando sentirá segurança de retornar. No início deste ano, 2021, chegou a matriculá-lo novamente na escola, mas diz que não teve coragem de seguir adiante. “Meu coração não permitiu deixá-lo frequentar. Eu tento manter algumas atividades elaboradas por mim e minha profissão contribui para isso, mas ele está resguardado em casa”, completa.
Mayara diz que não acredita no sucesso das aulas on-line para a educação infantil e que sabe a falta que a escola faz. “Acho que só terei coragem de retornar quando o atual cenário melhorar. Eu sei a falta que a escola faz e o convívio social. Nossas crianças estão perdendo muito com esta pandemia. Está muito difícil, meu filho está ansioso, sente dificuldades para dormir, a rotina que antes já era estabelecida acabou! Estamos focando em preservar a saúde mental e tentando manter o novo “normal” de maneira mais leve”, acrescenta.
Ameaça
Em janeiro deste ano a família toda da Mayara teve Covid-19 e o sogro chegou a ser reinfectado. “Meu sogro contraiu duas vezes o vírus e ficamos muito apreensivos com tudo isso. Meu esposo perdeu um tio e uma tia avó. Estamos aqui em casa tentando manter uma rotina saudável mentalmente, mas não é fácil acompanhar nos noticiários, as redes sociais, todo dia o amor da vida de alguém morre. Graças a Deus não perdemos nenhum familiar, mas passamos alguns apuros”, finaliza.