O advogado que representa as famílias dos dois homens mortos no confronto simulado com policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD), no Setor Jaó, em Goiânia, no último dia 1º, deixa a ação após alegar ter recebido ameaças. A saída de Walisson dos Reis Pereira da Silva foi divulgada nesta segunda-feira (8), uma semana após o caso.
Em nota, o profissional diz que tem sofrido vários “ataques à minha honra por pessoas que de alguma forma apoiam aquela ação em que policiais aparentemente simulam um confronto e plantam armas na cena do crime”. “Cheguei à conclusão de que seria melhorar me afastar imediatamente do caso. Penso que fiz o que deveria ser feito, com todas as estratégias possíveis”, continua o texto.
A ação policial ocorrida no dia 1º começou a ser investigada após um vídeo feito no celular de Junio José Aquino Leite, de 40 anos, um dos mortos, registrar o momento em que ele e Marines Pereira Gonçalves, de 47, são alvejados. Eles não portavam armas no momento da abordagem e também não esboçaram reação, conforme as imagens.
Dois policiais também foram filmados manuseando um revólver e uma pistola que, posteriormente, foram apreendidas junto às vítimas. Após a abordagem, os militares alegaram que houve um confronto. Conforme o registro de atendimento integrado (RAI), foram 18 tiros disparados por três agentes. Cinco foram afastados diante da repercussão do caso. O quinto faz parte do serviço de inteligência (PM2) e não teve o nome divulgado no boletim de ocorrência.
Ao anunciar que está saindo do caso diante de ameaças, Walisson diz ainda que “o papel do advogado não tem nada a ver com os crimes que supostamente estes policiais tenham cometido”. “Por fim saio do caso de cabeça erguida acreditando que as autoridades envolvidas neste caso tragam uma resposta para a sociedade. Agradeço a todos que acreditam no meu trabalho e que saibam a importância do papel do advogado na sociedade, pois vivemos em um Estado Democrático de Direito”, conclui, em nota.
Conforme Walisson, além das ameaças sofridas, a decisão foi tomada diante de “uma série de denúncias de diversas mortes em confrontos forjados.” O advogado repudiou ainda os ataques contra ele durante o exercício do trabalho. “Não vejo mais motivos para ser eu o advogado a continuar no caso, mas obviamente se houver mais alguma situação que eu possa contribuir, ou informação, repassarei as autoridades competentes.”
A Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO) diz que “por meio da Comissão de Direito e Prerrogativas, está acompanhando o caso e irá apurar os fatos expostos”. O Daqui também buscou a OAB - Seção Distrito Federal (OAB-DF), visto que o advogado é associado àquela entidade representativa. Até o fechamento desta matéria, não obteve retorno.
A reportagem solicitou ainda o posicionamento da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-GO) e da Polícia Militar (PM-GO) sobre a denúncia feita pelo advogado de que o mesmo está sofrendo ameaças. Também não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Paralelo
Um inquérito sobre o caso é conduzido em sigilo pela Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), ao mesmo tempo em que a Corregedoria da PM-GO segue com o inquérito policial militar (IPM). Na manhã do último sábado (6), quatro dos cinco militares envolvidos na abordagem foram presos em ação conjunta das duas corporações.