Apesar de mais valiosos, os metais foram os materiais menos reciclados nos anos de 2020 e 2021 em Goiás, com 852 toneladas reaproveitadas, seguidos por 9.739 toneladas de papel, 2.881 toneladas de plástico e 1.928 toneladas de vidro. Os números são do Atlas Brasileiro da Reciclagem, monitorado pela Associação Nacional dos Catadores (ANCAT).
Entre os metais recicláveis mais populares estão o alumínio, o ferro, o chumbo, o aço e o cobre. Mas o alumínio é de longe o mais reciclado, e as latinhas reinam pela presença mais abundante no mercado e pela maior facilidade de negociação. O Brasil, inclusive, é um dos líderes no mundo em reaproveitamento desse insumo.
Em 2022, o País registrou um grande feito, pela primeira vez reaproveitou a mesma quantidade de material que fabricou: foram 390 mil toneladas recicladas e a indústria produziu 389 mil toneladas de lata, de acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL).
O aumento dos índices de reciclagem gera um impacto importante na geração de empregos e renda. A presidente da Cooper Rama, Dulce Helena do Vale, diz que, em média, 1.500 kg de materiais recicláveis são coletados por dia pelos funcionários da cooperativa, que ganham em torno de R$ 400 por semana pelo trabalho. “É uma nova modalidade profissional que está despertando vários indivíduos”, declara.
No caso do alumínio, o quilo é negociado em média a R$ 5,50 em Goiás, informa o gestor e consultor ambiental Fernando Yuri, da Ciclo Blue Gestão Sustentável.
Estatísticas
De acordo com o Atlas Brasileiro da Reciclagem, em 2020 e 2021, foram recicladas aproximadamente 852 toneladas de metais em Goiás, através de 29 cooperativas e mais de 1.200 cooperados distribuídos em 18 municípios. Somente em Goiânia, são contabilizadas cerca de 764 toneladas de metais reciclados na plataforma, o que equivale a quase 90% do total estadual. Os 10% restantes estão presentes em duas associações na cidade de Anápolis (com 79,5 toneladas) e uma em Rio Verde (8,2 toneladas).
Além disso, dados do Panorama dos Resíduos Sólidos da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostram que os materiais recicláveis secos representam 33,6% de todo o resíduo gerado no Brasil, correspondendo a quase 28 milhões de toneladas por ano, do total de 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos gerados em 2022. Deste total, apenas 2,3% dos materiais gerados são originários dos metais.
Logística reversa
Para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Social (Semad), a chegada da política de logística reversa, que entrou em vigor mediante decreto publicado no Diário Oficial em abril deste ano, traz com ela o potencial de quadruplicar o volume de embalagens recicláveis reaproveitadas no estado. De acordo com a pasta, estima-se que hoje somente 5% de todo o papelão, vidro, metal e plástico que é colocado no mercado volte para a cadeia produtiva. De acordo com as novas regras, esse porcentual poderá chegar a 22%.
Neste caso, as indústrias poderão contratar uma entidade gestora independente, para auxílio na implementação de seu sistema. Ela vai informar para as cooperativas de reciclagem o volume de plástico, metal, vidro e papelão que precisa ser recolhido para alcançar os 22% estabelecidos pela norma.
Os catadores vão receber créditos financeiros de acordo com a quantidade de recicláveis comercializados, além de serem remunerados ao vender o material para a indústria de reciclagem. Os valores envolvidos no processo serão definidos pelo mercado, sem a interferência do poder público.
A expectativa é de que a logística reversa auxilie os municípios a fazerem a transição dos lixões para aterros sanitários. De acordo com o Marco do Saneamento Básico, o prazo para que os lixões sejam desativados vai até agosto de 2024.
“A logística reversa vai contribuir para redução dos resíduos sólidos que vão para o descarte. É uma medida que se soma a um conjunto de outras ações que têm a mesma finalidade: reduzir o impacto que os resíduos causam ao meio ambiente”, explica a superintendente de Políticas Públicas de Saneamento da Semad, Kaoara Batista.
Incentivos
Em nível estadual, o Governo de Goiás promove, através da Secretaria da Retomada, o programa Incubacoop, que oferece diversas ações para auxiliar as cooperativas de reciclagem, como fornecimento de capacitações, serviço contábil durante 12 meses e R$ 4,5 milhões em crédito social para catadores equiparem suas associações. A estimativa da iniciativa em 2023 é que 60 destas cooperativas sejam alcançadas.
De acordo com a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), a Prefeitura de Goiânia tem feito várias ações para fortalecer e incentivar o hábito da reciclagem na capital. “O Plano de Coleta Seletiva de Goiânia e a atualização do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos são elaborados segundo os princípios da legalidade, e propõem diretrizes, metas e ações para destinação adequada dos resíduos”, diz a assessoria da pasta.
A Agência reforça a realização de coleta seletiva porta a porta em 100% dos bairros da capital, com o material coletado sendo entregue às 13 cooperativas do Programa Goiânia Coleta Seletiva (PGCS) gratuitamente.
“A educação ambiental é a base para a não geração, redução, reutilização e reciclagem. Ações para a sensibilização da população, em praticar a educação ambiental e realizar a destinação correta dos resíduos gerados, inclusive os recicláveis, são oportunas e bem-vindas”, afirma a Amma, sobre as mudanças que seriam necessárias para o fortalecimento da reciclagem em Goiânia. (João Pedro Santos é estagiário do GJC, em convênio com a UFG)