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Ansiedade e bullying estão entre principais queixas nas escolas

Seduc

A certeza do adoecimento emocional da comunidade escolar após a pandemia da Covid-19, a partir de 2020, levou a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) a buscar meios de mudar essa realidade. No segundo semestre do ano passado foi implementado na rede de ensino estadual um programa pioneiro que agora ganhou nome e identidade. Ouvir e Acolher tem como base a metodologia EAI - Educa, Emoção, Aprendizagem e Inteligência.

A partir de um diagnóstico realizado pela equipe multidisciplinar, entre setembro e dezembro de 2023 foi atingido um público de mais de 200 mil pessoas, entre estudantes, professores, gestores escolares e familiares. Entre as principais demandas identificadas estão: crises de ansiedade, automutilação, contextos de violência, bullying, cyberbullying, vulnerabilidade social, dificuldade de adaptação com a realidade escolar, adoecimento do corpo docente e pouca participação da família com a realidade escolar.

A metodologia EAI foi criada pelo Instituto Hortense, baseado em Uberlândia, em parceria com o escritor e pensador Leandro Karnal. A instituição foi idealizada pelo cantor, compositor, escritor e palestrante Léo Chaves e tem como foco a educação socioemocional do indivíduo.

“Fazemos um trabalho preventivo, de mediação e de acolhimento. O diagnóstico identifica os problemas existentes na escola e nós passamos a trabalhar com essa temática. Promovemos interações e ações com toda a comunidade escolar”, detalha Cinthia Borges de Souza, diretora-executiva do Instituto Hortense.

Superintendente de Ensino Especial da Seduc, Rupert Nickerson explica que o diagnóstico institucional foi realizado por meio de uma escuta com diretores e coordenadores pedagógicos das unidades escolares e os números apresentados refletem nas ações prioritárias. “Saímos do período de pandemia e parece que as pessoas esqueceram quantas famílias perderam entes queridos, o quanto os alunos foram impactados e ficaram depressivos. O programa atende a saúde emocional. Se a pessoa entende o seu espaço na escola e aprende a respeitar o próximo, ganha tanto no pessoal quanto no educacional. Vai obter resultados melhores.”

Rupert Nickerson explica que a Lei nº 13.935/2019 norteou a criação do programa Ouvir e Acolher. Pela norma, as redes públicas de educação devem contar com serviços de psicologia e de serviço social para melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, envolvendo toda a comunidade escolar. Ele também cumpre as diretrizes da Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares (Lei 14.819/2024).

A Seduc conta com 83 psicólogos e 40 assistentes sociais, distribuídos pelas Coordenações Regionais de Educação. As ações do Instituto Hortense são fiscalizadas pela Seduc nos seis polos da pasta: Central, Leste, Noroeste, Norte, Sudoeste e Sul.

“Depois da pandemia, o que pudemos perceber nas escolas foi um adoecimento dos alunos. Tratar da educação socioemocional seria algo a fazer para ter um ganho com esses estudantes para que eles tenham mais vontade de voltar para a escola, que se engajem no aprendizado e tenham mais tranquilidade no ambiente escolar”, reforça o superintendente.

Coordenadora pedagógica do Cepi Dr. Mauá Cavalcante Sávio, em Anápolis, Brenda Lorena Quintiliano já percebeu os resultados do programa. “Ele ofereceu espaço para os alunos expressarem seus sentimentos. Estamos construindo uma cultura de pertencimento”.

Brenda explica que o Cepi, onde está lotada, fica dentro de uma comunidade carente. “Temos que lidar com a questão emocional dos alunos, muitos não têm acesso aos familiares, nem mesmo moram com eles e, por isso, não se sentem parte de algo. O programa mostra que eles pertencem à comunidade e à escola”, detalha.

Diagnosticada com TDAH, a estudante Lara Camile Graiff Dias, 20 anos, comemora a chegada do programa no Cepi Virgílio Santillo, em Anápolis, onde estuda. “Quando o psicólogo explicou sobre as emoções, pude entender um pouco mais sobre o que eu estava sentindo. Até então eu não sabia reconhecer. Estou conseguindo resolver melhor”, relata.

O que é a metodologia EAI 

 A partir do estímulo das conexões entre emoção e inteligência, a metodologia estimula a construção de um ambiente que promova a autonomia, a aprendizagem criativa e a construção de valores essenciais.  São trabalhados oito aspectos: existencial, social, criatividade, colaboração,comunicação, foco, relacionamento e autogestão. 

Demandas são comuns a todas as regiões

A Seduc fez um contrato de um ano com o Instituto Hortense, prorrogável por mais um ano. A nova identidade do programa Ouvir e Acolher foi apresentada oficialmente em Goiânia e em Rio Verde e no dia 29 será a vez de Goianésia. A iniciativa ganhou também um mascote.

O psicólogo Henrique Garcia Cardoso explica que o programa possui um cronograma. As escolas foram visitadas e a comunidade escolar respondeu um questionário privado que definiu as demandas específicas. Elas se revelaram comuns a todas as regiões. Cada equipe fez um levantamento de necessidades e planos de ação para cada escola, respeitando as singularidades.

“É um projeto pioneiro. Entramos num cenário novo da prática de psicologia escolar porque não tínhamos nenhum parâmetro de uma ação pública tão grande. É algo que ainda está em construção”, enfatiza o psicólogo. Em janeiro, segundo dados fornecidos pela Seduc, o maior número dos 103 atendimentos realizados pelas equipes de assistência social envolvem bullying e cyberbullying (15,5%), saúde mental (13,06%) e ansiedade (11,7%). Entre janeiro e fevereiro, as equipes de psicólogos fizeram 1.396 atendimentos, dos quais 36,7% se voltaram para o conhecimento da realidade escolar.  

Com o Ouvir e Acolher, serão implantadas de forma pioneira no país ações voltadas à Política Nacional de Prevenção e Combate ao Abuso e Exploração Sexual da Criança e do Adolescente, promulgada no início deste ano pelo governo federal. Henrique Garcia Cardoso explica que o programa está atento às demandas emergentes, como a que ocorreu em Anápolis, esta semana, onde um adolescente morreu esfaqueado na porta do Colégio Estadual Leiny Lopes de Souza, que impactou alunos da unidade. “Nesses casos fazemos o acolhimento.”

redação
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