Pelo menos seis pessoas caem da própria altura ou de locais menores que 3 metros no espaço público de Goiânia a cada dia, o que demonstra a existência de buracos e obstáculos em ruas e calçadas. Entre janeiro e junho deste ano, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBM-GO) registrou 1.208 atendimentos deste tipo, um número maior do que no mesmo período do ano passado, quando houveram 1.120 ocorrências. A situação se tornou objeto de um projeto de pesquisa de extensão do engenheiro e professor Marcos de Luca Rothen, do curso de Engenharia de Transportes do Instituto Federal de Goiás (IFG). Ele analisou os dados somados entre janeiro e maio deste ano.
Segundo explica o professor, a pesquisa utiliza bibliografia estrangeira sobre avaliação de risco para usuários do transporte coletivo, que em boa parte do trajeto são pedestres. “Eles falam bastante da segurança do pedestre, tanto nas calçadas quanto nos demais espaços públicos como terminais, pontos de paradas e travessias. Alertado por isso, fui buscar se em Goiânia havia alguma ação dos órgãos públicos sobre a queda das pessoas nas ruas. No entanto, esse assunto não faz parte das preocupações das autoridades municipais”, alerta o professor. Ele buscou dados no Corpo de Bombeiros, onde foi repassado a quantidade de atendimentos, e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que não teve a disponibilidade.
Apesar do número de atendimento observar ao menos seis quedas de pessoas nas ruas da capital, Rothen alerta que é comum ter relatos das pessoas que sofrem quedas na rua, algumas com ferimentos graves. Segundo o professor, ao questionar pessoas nas ruas, a queda no espaço público é algo comum, mas que na maioria das vezes a pessoa é socorrida pelos populares e, apenas nos casos mais graves, é que é acionado o resgate. “Os relatos de queda normalmente falam sobre a deficiência das calçadas, o que leva as pessoas a perderem o equilíbrio e sofrerem as quedas. É de conhecimento geral que em Goiânia as calçadas em grande parte não oferecem segurança para os pedestres. Ficou clara a impressão, para mim, que o assunto é grave e não é considerado como tal pelas nossas autoridades.”
Os principais problemas verificados pelo professor envolvem as condições das calçadas, mas ele relata que também verificou uma situação atípica, onde alguém deixou algum resíduo de obras, como pedras ou pedaços de concreto que se tornaram obstáculos aos pedestres. “Para a cidade os problemas são o custo de um acidente em que um morador precisa de atendimento médico por parte do poder público. Algumas pessoas precisam de cirurgia e ficam afastadas das suas atividades de trabalho ou de outra atividade”, considera.
A intenção inicial era verificar a situação dos usuários de transporte coletivo já dentro do sistema, como nos ônibus, pontos de embarque ou terminais. No entanto, os dados fornecidos pelo Corpo de Bombeiros referentes a ocorrências no transporte público foram reduzidos e “não permitiu a percepção de problemas localizados, no entanto a mobilidade fornecida pelo transporte coletivo inclui, de forma muito importante, as condições de acesso aos pontos de parada (no embarque e no desembarque) e nos terminais”.
Rothen reforça que um dos componentes principais da mobilidade é o espaço para o pedestre caminhar. “A qualidade da mobilidade é afetada diretamente pela qualidade das calçadas e dos locais de travessia. Normalmente as pessoas reclamam das dificuldades de caminhar por Goiânia, não há espaço, as calçadas são irregulares, muitas vezes obstruídas parcial ou totalmente. Uma frase que sempre se usa é a de todos somos pedestres, então todos perdem mobilidade por falta de espaço para caminhar. A falta de segurança nas calçadas muitas vezes leva as pessoas a optarem por usar os carros, ou até mesmo desistirem de fazer uma caminhada.”
Nos dados recebidos pelo professor e separados por local de ocorrência, chamou a sua atenção os locais onde o estado de saúde da vítima exigiu o resgate. “Estão espalhados por toda a cidade, mas na Avenida Goiás, com as suas obras que estão sendo realizadas há anos, é o lugar com maior número de incidências. Também é importante destacar a grande quantidade de mulheres acima de 65 anos que precisaram de resgate. A queda das pessoas idosas, em geral, é algo mais grave do que num jovem. A recuperação dos idosos é mais lenta e as vezes traz outras complicações”, explica. Além das calçadas ruins ou até mesmo inexistentes, ele conta uma situação descrita como pitoresco na Rua T-51 do Setor Bueno, onde foram colocados na calçada obstáculos de concreto, servindo como uma armadilha para os pedestres.