Após cirurgia no coração, o governador Ronaldo Caiado (UB), de 73 anos, passa bem, mas não tem previsão de alta, informa o boletim médico do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, desta sexta-feira (9). O chefe do Executivo goiano foi internado nesta quinta-feira (8) para realizar um procedimento de revascularização do miocárdio, também conhecido como “ponte de safena”.
De acordo com o boletim atualizado, o governador está em plena recuperação, passa bem, alimenta-se e respira espontaneamente. “Não há previsão de alta”, enfatiza o documento. A cirurgia foi necessária porque exames de rotina detectaram algum nível de entupimento em vasos sanguíneos que irrigam o coração.
Caiado chegou a ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas passou para um quarto do hospital na noite de quinta-feira (8). Segundo especialistas, após a cirurgia, é comum que o paciente leve cerca de um mês para retornar às suas atividades, ainda com restrições para carregar peso. O tempo previsto de recuperação no hospital costuma ser de sete a 10 dias.
Há expectativa de que Caiado volte a despachar com secretários pelo menos por telefone na próxima segunda-feira (12), mesmo internado. O governador está acompanhado da primeira-dama, Gracinha Caiado, das duas filhas mais novas, Marcela e Maria, e do irmão, Roberto, que, assim como Caiado, é médico.
No início desta semana o governador estava em São Paulo para realização de exames de rotina. A médica responsável pela equipe que acompanha Caiado é Ludhmila Hajjar, amiga do governador.
A reportagem apurou que, após a eleição, Caiado já havia marcado estes exames de rotina em outras oportunidades, mas desmarcou por causa de diferentes compromissos. Ao longo da quarta-feira (7), Caiado tratou de assuntos da administração por telefone e mensagens com auxiliares e assistentes.
Cirurgia
O cardiologista Diogo Pereira Santos Sampaio explica que a revascularização do miocárdio é recomendada em casos em que há obstrução em várias artérias ou os entupimentos são considerados pela equipe médica como mais significativos. O procedimento também é indicado, diz o médico, quando já existe algum prejuízo maior ao coração ou quando o paciente já tem alguma doença associada.
Diogo explica que, na prática, em uma cirurgia de revascularização do miocárdio são usados segmentos de veias ou artérias saudáveis do organismo do paciente para ligar partes sadias dos vasos do coração. Com isso, o fluxo de sangue deixa de passar pelo canal que está obstruído. No caso de Caiado, segundo o boletim médico, foi usado segmento da veia safena (membros inferiores) e artéria mamária (tórax).
Em 2019, Caiado foi submetido a uma angioplastia com implantação de stent (pequena prótese usada para evitar a obstrução dos vasos sanguíneos). O procedimento foi realizado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Este é outro tipo de intervenção recomendado para diferente nível de obstrução de vasos sanguíneos ligados ao coração.
Na época, uma dor torácica levou o governador ao Hospital do Coração, em Goiânia, onde foi realizada uma série de exames, inclusive cateterismo, que descartaram o diagnóstico de enfarte. Em seguida, ele foi transferido para São Paulo por decisão da família.
Estratégia
Para fazer a revascularização do miocárdio, existem diferentes técnicas. Diogo explica que, na cirurgia tradicional, é preciso fazer um corte que varia de tamanho de acordo com a pessoa. Também é feito divisão no osso esterno, para ter acesso ao coração. Há técnicas menos invasivas, com cortes menores, mas não são recomendadas para todas as pessoas. Não há informação sobre a qual tipo de procedimento Caiado foi submetido.
O cardiologista e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Aguinaldo Freitas explica que, na maior parte das vezes, as obstruções em artérias coronárias são formadas por placas de gordura. Segundo Aguinaldo, para a cirurgia ter sido indicada para Caiado, é possível que as obstruções estavam localizadas em espaço em que não era possível fazer intervenção com cateter.
“A doença arterial coronariana é comum, mas é possível prevenir com controle dos principais fatores de risco, como rastrear e travar ativamente a hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado, abster ao tabagismo, obesidade e sedentarismo”, diz Diogo. Ainda segundo o médico, é possível ter participação genética, mas os fatores de risco clássicos são relevantes.
Time
A cardiologista e intensivista, a goiana Ludhmila Hajjar é a coordenadora da equipe médica responsável por acompanhar Caiado. Também estão no grupo o cirurgião cardiovascular Fábio Jatene, o diretor clínico Paulo Hoff e o diretor-geral Pedro Loretti. Ludhmila é amiga de Caiado e também acompanhou o procedimento no coração ao qual o governador foi submetido em 2019.
Ludhmila foi convidada a participar da equipe de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e é cotada para o Ministério da Saúde. Em 2021, ela foi convidada por Jair Bolsonaro (PL) para comandar a pasta, mas recusou o convite por não concordar com posicionamentos do presidente em relação à pandemia.