Após a perda de 60 árvores no espaço urbano mais adensado de Goiânia em razão do temporal desta terça-feira (21), a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) realizou o plantio simultâneo de 90 mil mudas de espécies do Cerrado numa área de preservação ambiental degradada no Jardins Cerrado 4, região Oeste da capital, em nova ação do ArborizaGyn. Chamada pela administração municipal como “o maior plantio de árvores da história de Goiânia” em homenagem aos 90 anos da capital, a ação contou com a presença do prefeito Rogério Cruz. Foram plantadas mais de cem espécies como ipês, pequizeiros, jatobás, cagaitas, angicos, aroeiras e mangabas. A área de preservação ambiental estava invadida e vinha sendo alvo de descarte de entulho e lixo.
Reportagem do DAQUI do dia 17 deste mês mostrou que até o mês de outubro foram extirpadas 5.268 árvores em toda a cidade, mais do que o dobro de 2022, quando foram retiradas 2.559. E que a compensação ambiental não acontece de forma estratégica e eficiente para a redução da temperatura já que a perda de exemplares acontece na região mais central da capital, e o plantio de mudas ocorre na periferia da cidade. “Tem contribuído na recuperação de áreas degradadas, mas não para a melhoria do clima”, declarou na ocasião o geógrafo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), o doutor em Climatologia Diego Tarley Ferreira Nascimento.
Os números são da própria Amma, que atendeu pedidos de moradores incomodados ou de incorporadores para realizar obras, e também de substituição de espécies, como os polêmicos jamelões, cujos frutos deixam a via pública escorregadia, provocando acidentes. Segundo a agência, nesse movimento entra a retirada de árvores antigas.
“Estamos enfrentando uma mudança de ciclo”, afirma Wanessa de Castro, bióloga da Superintendência de Gestão Ambiental e Licenciamento da Amma. Ela explica que Goiânia possui um grande número de árvores velhas, como mungubas e sibipirunas, da época da construção da cidade, que precisam ser substituídas. “A copa está verde, mas as raízes não conseguem se fixar no solo, até porque está muito impermeabilizado em razão do adensamento urbano.” Por outro lado, como reforça a bióloga, as novas espécies plantadas ainda estão pequenas e não oferecem sombreamento, que poderia minimizar a sensação térmica nas atuais ondas de calor.
A Amma garante que a arborização da cidade tem sido fortalecida com programas lançados pela agência, como o próprio ArborizaGyn, criado em 2021. Na primeira edição, 62 mil mudas nativas foram plantadas no Parque Três Marias, no Jardim Presidente; na Alameda Andrelino de Morais, no Setor Faiçalville; e no Parque Cascavel, no Jardim Atlântico. Na segunda etapa, houve o plantio simultâneo de 50 mil mudas no Setor Grajaú. Somente no ArborizaGyn, já somam mais de 200 mil árvores.
Há ainda o Disque-Árvore, também de 2021, um projeto de plantio em calçadas residenciais a partir de solicitações de moradores pelo aplicativo WhatsApp (62 99639-7495). Desde o lançamento do programa, conforme a Amma, já foram plantadas 7 mil mudas em diversos pontos da capital. O programa mais tímido, embora impositivo, é o Rearboriza que, a partir de uma avaliação da própria Amma, de vias menos arborizadas, é executado o plantio em calçadas. Também de 2021, o Rearboriza só teve duas edições. Na primeira houve plantio na Rua Dr. Olinto Manso Pereira (Rua 94), no Setor Sul, que perdeu quase toda a arborização original. Na segunda, as calçadas da Rua Quintino Bocaiúva, em Campinas, receberam novas mudas. Nas duas ações do Rearboriza foram plantadas em torno de 160 mudas.
Wanessa explica que as mudas plantadas nas ações do ArborizaGyn são monitoradas e recebem manutenção da Amma por dois anos. Já no Disque-Árvore, os cuidados ficam por conta dos moradores. “Se eles pediram a muda é porque querem a árvore. Nós plantamos e orientamos sobre como cuidar.” No caso do Rearboriza há um trabalho de parceria entre moradores, comerciantes e a Amma para que as mudas sobrevivam. “Na Quintino Bocaiúva, só trocamos quatro delas que não resistiram.”
Legislação
Para a Amma, somente o Plano Diretor de Urbanização (PDAU), na Câmara Municipal de Vereadores desde 2020 aguardando aprovação, poderá dar uma nova configuração à política ambiental de Goiânia. De acordo com Wanessa, sem uma legislação impositiva, não tem como exigir da população o cumprimento de medidas capazes de minimizar a sensação térmica de calor extremo no espaço urbano.
“O que temos feito é um trabalho de conscientização junto à população, explicando a importância da arborização e indicando a espécie correta.” Ela cita o sucesso obtido na Rua Quintino Bocaiúva, em Campinas, considerado o bairro mais quente da capital. “Os comerciantes aderiram ao Rearboriza e estão cuidando das mudas.”