O Ensino Médio da rede estadual de educação de Goiás sofreu a pior queda nas notas das provas de Português e Matemática que compõem a média do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) desde que a comparação com o registro anterior se fez possível, em 2007. O Ideb foi lançado em 2005 e desde então tem sido bianual.
A queda já era prevista por causa dos dois anos e meio de pandemia da Covid-19, iniciada em março de 2020. As últimas provas tinham sido em 2019, justamente quando o mesmo Ensino Médio teve a sua maior alta neste quesito.
Por outro lado, a taxa de aprovação - outro indicador usado no cálculo do Ideb, envolvendo uma média dos índices de aprovação, reprovação e abandono - se manteve em alta, o que ajudou com que a queda na média do Ideb não fosse ainda maior. A alta na taxa de aprovação, segundo educadores ouvidos pela reportagem, se deu pelo trabalho da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e, principalmente, dos professores e diretores envolvidos, para evitar a evasão ou a ausência dos alunos durante o período da pandemia em que as aulas não foram presenciais.
O Ideb com os indicadores de 2021 foi divulgado no último dia 16 de setembro. Especialistas e o próprio Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) - órgão do governo federal responsável pelo índice - ressaltaram que uma série de fatores impediria, desta vez, uma comparação entre estados, municípios e redes.
O Ensino Médio da rede estadual em Goiás caiu de 4,7 - a melhor nota já alcançada por aqui - para 4,5. Se a taxa de aprovação se mantivesse a mesma de dois anos atrás, a média teria ido para 4,4. A queda foi mais sentida no interior, conforme mostra levantamento feito pelo POPULAR.
Nota de Matemática retrocede a índice menor que o de 2017
A média das provas de Matemática do ensino médio da rede estadual de Goiás para a composição do Ideb retrocedeu a um índice menor do que o verificado em 2017, mesmo com a alta recorde registrada dois anos atrás. Já a queda em Português foi menor do que a alta de 2019.
Não é a primeira vez que as notas caem neste grupo de ensino em Goiás. O mesmo já aconteceu em 2013 e com Matemática em 2015. Entretanto, num volume bem menor. Há nove anos aconteceu, inclusive, algo pitoresco. Mesmo com a queda nas notas das provas, como a rede estadual viu subir a taxa de aprovação de 0,83 para 0,88 (hoje está em 0,98), a média do Ideb subiu de 3,6 para 3,8 e Goiás passou de 5° para primeiro lugar nacional.
Já em 2015, a queda na nota da prova de matemática e a manutenção da taxa de aprovação fizeram com que a média do Ideb se mantivesse em 3,8 e Goiás passasse para 3° no ranking nacional.
Uma alta semelhante nas provas à verificada em 2019 aconteceu 10 anos antes, sendo que no caso de Matemática foi um pouco maior o crescimento verificado em 2009 (veja quadro na página 10).
Apesar de o número de escolas avaliadas ser quase o mesmo em 2019 e 2021, a comparação das médias do Ideb só foi possível com 402. Destas, 58,7% pioraram o índice e só 33,1% melhoraram.
Porém, quando se olha os componentes do Ideb percebe-se que oito de cada dez escolas com médias tanto em 2019 como em 2021 tiveram piora na nota das provas, enquanto apenas uma em cada dez teve piora na taxa de aprovação.
Seduc já havia monitorado a situação
A superintendente de organização e atendimento educacional da Seduc, Patrícia Morais Coutinho, diz que a queda as notas das provas que compõem o Ideb já eram esperadas e que, como a pasta já realiza avaliações similares ao do Ideb paralelamente, não é preciso esperar a divulgação dos dados mais detalhados do indicador nacional para identificar onde a pandemia impactou mais e desenvolver propostas pontuais e regionalizadas para cada situação. “Na verdade, já estamos fazendo isso há um tempo, quando recebemos o último Saego (avaliação feita pela Seduc nos moldes do Saeb, as provas que integram o Ideb)”, comentou.
Patrícia afirma que houve um esforço grande por parte da comunidade escolar nos trabalhos de busca ativa dos estudantes para que mesmo na época em que as aulas eram virtuais eles não se afastassem das escolas. Ela diz que até os alunos se envolveram nestas iniciativas, mobilizando colegas para que permanecessem nas unidades de ensino, estudando. “O estudante sabe o que quer e o que é bom pra ele. Eles entenderam que era importante (evitar a evasão dos colegas) para que a escola fosse bem nas avaliações e eles pudessem divulgar isso (que estudam em uma escola bem avaliada).”
Diretores de escolas estaduais ouvidos pelo jornal confirmam que houve muitas iniciativas de busca ativa dos alunos, inclusive no retorno das aulas presenciais. Para Patrícia, houve uma “participação forte” dos professores.
A superintendente diz que como a taxa de participação dos alunos na rede estadual em Goiás teria ficado acima de 90%, isso traz um retrato mais fidedigno ao quadro da educação pós-pandemia e ajuda no desenvolvimento de estratégias específicas para cada realidade encontrada.
“Podemos ver onde houve maiores impactos, quais escolas que precisam de um reforço maior e desenvolver estratégias diferenciadas conforme o contexto e as lacunas encontradas”, afirmou.
Especialista elogia políticas de Goiás
O risco de que a participação dos alunos nas provas tenha sido bem menor do que nos anos anteriores prejudica uma análise mais aprofundada das notas. No Brasil a taxa de participação caiu bastante, em torno de 10 pontos porcentais, mas os dados regionalizados ainda não foram tornados públicos.
Em Goiás, entretanto, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) garante que a participação dos alunos nas provas foi alta, acima de 90%, o que tornaria as notas das provas bem próximas da realidade.
Especialistas ouvidos pelo jornal apontam que quando a taxa de participação é baixa, geralmente são os alunos mais vulneráveis que deixaram de fazer as provas, o que puxaria, em tese, as notas para cima ou evitaria uma queda ainda maior. Há estados e municípios em que a nota das provas aumentou, mas não se divulgou a taxa para entender melhor o contexto.
O Todos pela Educação - entidade sem fins lucrativos que promove estudos, projetos e debates na área de ensino - avalia que os dados do Ideb devem ser usados pelas redes para entender onde estão os pontos mais críticos após a pandemia de Covid-19.
Entretanto, a entidade recomenda que se evite comparações, principalmente com outros estados ou municípios. O Ideb avalia tanto o ensino médio como o fundamental, sendo este de responsabilidade maior das prefeituras.
O coordenador de Políticas Educacionais da entidade, Ivan Gontijo, explica que muitos estados também tiveram aprovação automática dos estudantes durante a pandemia, o que subdimensionou a taxa de aprovação. A Seduc diz que isso não ocorreu em Goiás.
Ivan destaca que era esperada a queda no aprendizado neste período em todo país e que os dados divulgados pelo Inep devem servir para que se invista em uma agenda de reforço para recuperar o tempo perdido e nas dificuldades que os alunos estão tendo a partir do momento em que as aulas se normalizaram.
“É um erro achar que com o fim da pandemia o impacto no ensino foi embora. Pelo contrário, ainda vai durar alguns anos”, avaliou Ivan, para quem a rede estadual no ensino médio em Goiás tem sido boa na aplicação de políticas públicas de educação desde os anos 2000. “Goiás faz um trabalho sério, tem políticas estruturadas há um bom tempo e mesmo com mudança de governo mantém uma linha de projetos.”